quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O EFEITO KC-390 NO PROGRAMA F-X2



Nelson During, Editor-Chefe DefesaNet

“O ministro do da Defesa Nelson Jobim tem declarado que após a eleição do segundo turno presidencial será definido o Programa F-X2 com o eleito no dia 31 de Outubro.

Estas declarações têm sido recebidas com ceticismo pelos mais próximos e envolvidos no Programa F-X2, incluindo os competidores diretos e mais interessados. O foco é de que não seria um período dos mais tranqüilos para este anúncio.

O que surgiu mais forte para que o ministro faça este anúncio de forma repetida é a decisão tomada pela FAB de transformar o projeto KC-390 como o mais importante e relevante projeto industrial em que a Força e a EMBRAER participarão.

A presença de relevantes autoridades na conferência de imprensa em Farnborough, na qual participaram o Comandante da FAB, Brigadeiro Juniti Saito, o Presidente da Embraer, Frederico Curado, VP da Área de Defesa Orlando José Ferreira Neto, o VP Financeiro e também o Diretor do Projeto Paulo Gastão tinha um significado muito além do anúncio da intenção de compra pela FAB de 28 unidades do avião em desenvolvimento.

Dimensões do KC-390 como apresentadas em Julho de 2010

EVOLUÇÃO DAS DIMENSÕES DO KC-390
Dimensões Abril 2009---Julho 2010
Envergadura 33,94---35,06
Altura 11,43---10,26
Comprimento 33,43---33,81

Foi também de sinalizar aos grandes que o Projeto KC-390 era maior e que isso significava uma reavaliação em muitos conceitos tanto pela EMBRAER como para a FAB. E que estava dissociado do Programa F-X2 e mais importante era um Projeto FAB-EMBRAER.

O Projeto KC-390 começou de forma a ser um substituto um por um para o cargueiro tático da americana Lockheed Martin Hercules C-130 . Tão logo os requisitos de projeto foram recebidos pela EMBRAER ficou claro que eram tímidos e acanhados após os contatos iniciais com potenciais parceiros e clientes Nem as demandas do Exército Brasileiro atendia, que era transportar com folga viaturas de uma bateria de foguetes ASTROS II. Em um Hercules é necessário desmontar a rampa de lançamento da viatura lançadora. Para demonstrar a exigüidade de espaço, o motorista ia como que embarcado à força na cabine de comando, pois não consegue sair pela porta, somente pela escotilha do teto ou vidro dianteiro.



Outro ponto era a capacidade de transporte. Todos os veículos blindados de moderna geração usam ou têm a opção de kits de blindagens adicionais (add-on armour). O que aumenta significativamente o peso, a maioria em condições de combate está na faixa de 20 a 25 toneladas, para veículos 8x8, como é caso do sul-africano Hoefyster (Patria AMV), sem falar nas dimensões lateriais. A África do Sul é um potencial participante do Projeto KC-390.

Outra era a exigência de um parceiro certo, o Chile, de que o avião deveria operar nas pistas de gelo da Antártida.

O resultado foi que a FAB, um tanto patrolada pelos acontecimentos, vem sistematicamente alterando as especificações s para adequá-las às perspectivas de mercado. Em parte puxadas pela própria EMBRAER, como pelos parceiros, que estão entrando no Programa KC-390 (Chile, Colômbia, Portugal, República Tcheca e Argentina).

Um fato mais notável tem sido o total re-projeto do avião, que incluiu: o aumento do compartimente de carga permitindo maior manuseio de cargas volumosas, tais como veículos blindados e viaturas do Sistema de Foguetes ASTROS II.

Isto permitirá que o que é chamado de “entry forces”, unidades de emprego direto desde os primeiros momentos na área de batalha não necessitam de terem montados equipamentos, sistemas ou proteção logo após o desembarque o que as poria em risco.

Assim discretamente o KC-390 passou de capacidade de carga de 19,0 t para 23.0 t ou 23,4t com máximo de combustível nas asas. Porém não parou aí. Na apresentação feita em Farnborough foram mostradas imagens de composição de carga possível que dão a clara indicação de que a capacidade máxima de carga será bem maior do que o atual 23,4t. Há uma indicação de que poderá chegar a 26 ou chegue até 28 t.

Viatura Astros II Mk5 na maquete em tamanho real do compartimento de carga do KC-390 que foi preparada no DCTA. Observar abertura da porta.

Isso levou a uma virada dos conceitos estratégicos e inverteu a lógica do processo para a FAB.Ainda apresentado como o sucessor do C-130 Hercules no mercado internacional o KC-390 passou a ser observado com outros olhos, tanto por Boeing como Airbus Military. Não mais um mero sucessor ao C-130, mas um complicador ao Airbus A400M Grizzly e até o Boeing C-17 Globemaster III.

Outros competidores poderão ver seus projetos tornarem-se obsoletos antes mesmo do primeiro vôo como é o caso do russo-indiano Multirole Transport Aircraft (MTA).

O mundo abriu-se para a EMBRAER e sua área de defesa, mas não somente esta e inclui, por diversos fatores, a área de aviação comercial.

Novas tecnologias em desenvolvimento no mundo como os biofuels, motores ecologicamente mais amigáveis, sistemas de comando e navegação de última geração estão sendo incorporados ao Projeto KC-390.

Agora, o que a FAB procura não é um caça e com isto usuários do Programa KC-390 como parte da estratégia de contrapartidas comerciais (já anunciadas pela Suécia e França), mas sim fiadores do Projeto KC-390.

Discretamente a FAB emitiu um RFP(Request for Proposal) para aviões multifunção (cargueiro, passageiro e reabastecedor), direcionado para a Boeing e a Aribus Military, no mês de setembro. Os modelos seriam o Airbus A330 Multi Role Tanker Transport (MRTT) e o Boeing KC-767. São dois aviões participantes do Programa KC-X da USAF. No dia 6 de setembro, alta fonte da FAB não confirmou que fosse lançado o RFP ainda nesse ano. O que ocorreu dias após. O Plano estratégico da FAB prevê a compra de 4 destes aviões.

As duas empresas foram contadas, porém negaram-se a responder qualquer item sobre o assunto. A FAB contatada, em 27 Setembro, não se pronunciou até o momento desta matéria ser publicada.

O RFP tem uma curiosidade que é ser direcionado para aviões novos e de última geração.

Assim a equação KC-390 tornou o cronograma do programa F-X2 mais viável do que anteriormente. Se a inversão da equação irá alterar o resultado do Programa F-X2 é o que teremos de esperar.”

FONTE: escrito por Nelson During, Editor-Chefe DefesaNet e publicado no referido site (http://www.defesanet.com.br/06_air/kc-390_3.htm).

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