terça-feira, 19 de outubro de 2010

PARA ENTENDER A HISTÓRIA DA "GÁS BRASILIANO"


“Trazida à baila por Dilma, a tentativa do Governo de São Paulo de vetar a aquisição da Cia Gás Brasiliano, uma empresa do grupo italiano ENI, não era assunto conhecido por muitos de nós. E, certamente, não vai ser, com a [ausência de] cobertura que dá a nossa mídia.

Acima, reproduzo a área de concessão da Gás Brasiliano para a distribuição de gás natural no riquíssimo noroeste paulista e seu posicionamento estratégico de interconexão com o Gasbol, o gasoduto pelo qual nos chegam até 17 milhões de metros cúbicos de gás boliviano.

Republico, portanto, a matéria da repórter Cláudia Schüffner, do Valor Econômico, publicada no dia 28 de maio deste ano, que passou despercebida por quase todos:

PETROBRAS, FINALMENTE, ENTRA EM SÃO PAULO

“A aquisição da Gás Brasiliano pela Petrobras, anunciada ontem pelo valor de US$ 250 milhões, satisfaz um desejo antigo da estatal – há muito tempo a companhia pretendia entrar no rico mercado de São Paulo. Ela não mediu esforços para vencer a concorrência da Mitsui e Cosan, que também fizeram propostas pelo ativo. Entretanto, segundo fontes ouvidas pelo Valor, o negócio contraria o governo de São Paulo, que não gostaria de ter uma estatal federal no controle de empresas de distribuição de gás no Estado.

Ao ser questionada sobre restrições do governo paulista à aquisição, a secretária de Saneamento e Energia de São Paulo, Dilma Pena, informou, por meio de sua assessoria, que não tinha sido informada oficialmente sobre a compra. A informação já tinha sido divulgada pela estatal pela manhã em fato relevante.

Com a compra, a Petrobras consegue cumprir um plano de negócios desenhado na década passada que foi abortado. Em abril de 1999, a estatal viu sua intenção de comprar a Comgás barrada depois que ela conseguiu um meio de driblar a restrição que proibia a participação majoritária de estatais federais no leilão da distribuidora. Isso seria possível porque ela se associou, como minoritária, a um consórcio que tinha ainda os fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e Petros (da Petrobras). Era um grupo formado por gigantes.

Quando soube da formação desse consórcio o então governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB) ligou para o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, pedindo que o consórcio fosse desfeito. FHC então proibiu a Petrobras de entrar na concorrência e a Comgás foi comprada por um consórcio liderado pela BG, Shell e a CPFL.

A atual oferta da Petrobras pela Gás Brasiliano só pôde ser feita porque em 2007 foi revogado o artigo 24 da Lei Estadual nº 9.361/1996, que criou o Programa Estadual de Desestatização. Esse artigo vedava explicitamente “a participação majoritária das empresas estatais federais na Comgás e demais concessionárias de distribuição de gás canalizado que vierem a ser criadas no Estado de São Paulo”. Mas ele foi revogado pela Lei Estadual nº 12.639/07, proposta pelo deputado estadual Antonio Mentor (PT), apesar do veto do governador José Serra. A justificativa do governo para vetar a Petrobras era evitar a concentração econômica e permitir a concorrência no setor.

Todavia, com a nova legislação, deixou de existir o veto à entrada da Petrobras na distribuição de gás em São Paulo, o que abria a possibilidade de ela não só tentar adquirir a Comgás como a Gás Brasiliano, controlada pela italiana Eni Spa e a Gás Natural São Paulo (controlada pela espanhola Gas Natural).

A Gás Brasiliano foi adquirida pela Eni por R$ 274,5 milhões – US$ 142,5 milhões pelo câmbio na época da privatização em 1999 – que representava com ágio de 150%. Desde então, a Eni investiu na concessão, que abrange 375 municípios, cerca de R$ 360 milhões. A oferta da Petrobras é igual ao que a japonesa Mitsui pagou em 2005 pelo controle de sete distribuidoras reunidas na Gaspart.

Com a Gas Brasiliano, a Petrobras terá participação acionária em 21 das 27 distribuidoras de gás natural existentes no Brasil. No mercado se comentava que a oferta da estatal foi superior à da Mitsui (que teria ficado em segundo lugar, com uma proposta de US$ 180 milhões ou US$ 190 milhões) e bem acima da oferta da Cosan, que teria oferecido US$ 120 milhões. Procurada, as empresas não confirmaram a informação. Essa é segunda aquisição de uma controlada da italiana Eni pela estatal, que comprou a AgipLiquigás em 2004." (...)

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www2.tijolaco.com/28818).

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