sábado, 20 de novembro de 2010

NETANYAHU E A COLONIZAÇÃO DE OCUPAÇÃO


Por Khaled Amayreh (de Ramállah), Al-Ahram Weekly, Cairo

“Nem bem o primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu desembarcou nos EUA essa semana, o governo de Israel anunciou planos para construir 1.300 novas casas exclusivas para colonos judeus na Cisjordânia ocupada.

O novo plano – somado aos demais vários planos para implantar talvez dezenas de milhares de novas unidades residenciais – consuma a decapitação de qualquer esperança que ainda restasse de qualquer tipo de acordo de paz entre Israel e uma impotente e isolada Autoridade Palestina (AP).

A maior parte das novas casas será construída na colônia Har Homa na região de Belém-Beit Sahur e em outras colônias exclusivas para judeus dentro ou em torno de Jerusalém Leste. A colônia de Har Homa (em árabe, Jabal Ab Ghuneim) foi criada – apesar da grita internacional há cerca de 20 anos – com o objetivo de isolar de Jerusalém Leste os palestinos do Sul da Cisjordânia.

A própria Jerusalém Leste já está ocupada por dúzias de colônias, que tornam a ideia de um Estado palestino cada vez mais inviável. Revelou-se, semana passada, que o governo israelense já está organizando grupos de colonos para construir mais 238 apartamentos em Jerusalém Leste. A revelação coincidiu com outra, feita por ativistas dos movimentos pela paz, de que o governo de Israel, em ação coordenada com grupos de colonos judeus, falsifica regularmente títulos de propriedade de terras e outros documentos, para confiscar propriedades de árabes na cidade ocupada.

O plano para nova expansão nas colônias é evidência da indiferença com que o governo de Israel encara o processo de paz. Também é evidência de até que ponto os israelenses serão capazes de ir em claro desafio aos esforços desesperados do governo Obama, que ainda tenta remendar o já precário processo de paz, na esperança de obter “qualquer coisa” antes do fim do mandato. O governo Obama, ainda no rescaldo da derrota eleitoral de 2/11, criticou o plano de novas construções nas colônias e declarou-se “profundamente desapontado”. “[O anúncio de novas construções] é contraproducente e mina nossos esforços para que os dois lados retomem as negociações diretas”, disse o porta-voz do Departamento de Estado Phillip J Cowley. “Temos pedido que os dois lados evitem atos que gerem desconfiança, inclusive em Jerusalém, e continuaremos trabalhando para que as conversações diretas sejam retomadas, para que se chegue a um acordo nessas e noutras questões de definição.”

Mas a reação pareceu mais manifestação de incômodo diplomático, do que tentativa de acalmar os palestinos ou, menos ainda, indicação de que o governo Obama esteja disposto a tomar alguma atitude mais firme contra os israelenses.

De fato, o governo Obama só fez garantir a Netanyahu, por vários meios, que Washington não cogita de tomar qualquer medida para dissociar-se do projeto israelense para expandir as construções na Cisjordânia, e que o premier israelense não tem, de fato, motivo para preocupações.

O vice-presidente Joe Biden, por exemplo, disse a Netanyahu que quaisquer diferenças que haja entre Israel e os EUA na questão das colônias em território palestino, são diferenças de tática, que de modo algum abalarão as indestrutíveis relações que unem os dois aliados. Biden disse a Netanyahu, como vários jornais noticiaram, que as relaçõe entre Israel e EUA continuariam intocadas, “apesar” das diferentes ideias sobre novas colônias. “Nossas relações permanecem literalmente inabaláveis”.

Por ironia, as únicas críticas que Netanyahu recebeu contra sua política antipaz na Cisjordânia vieram de membros da comunidade de judeus norte-americanos, que parecem estar perdendo a paciência com a eterna política, praticada pelos israelenses, de usar os judeus norte-americanos e o destaque que têm na política interna dos EUA, para promover o racismo, o fascismo e a expansão das colônias na Palestina ocupada, à custa do fracasso do processo de paz.

Durante discurso na Assembleia Geral da Federação Judia em New Orleans, na 2ª-feira, Netanyahu foi várias vezes vaiado pela plateia. Segundo a imprensa israelense, o primeiro incidente aconteceu logo ao início do discurso, quando alguém interrompeu Netanyahu aos gritos de “O juramento de lealdade deslegitima Israel!”

Outros gritaram slogans contra a ocupação de terras palestinas e contra atos de selvageria praticados por colonos judeus na Cisjordânia. Netanyahu respondeu com cinismo. Disse que tinha esperanças de que “discussões sem precondições” com os palestinos levariam a um acordo de paz em, no máximo, um ano.

O premier israelense ignorou as dezenas de milhares de moradias exclusivas para colonos judeus construídas ilegalmente nos territórios palestinos ocupados e as centenas de milhares de judeus que vários governos israelenses sempre deslocaram para a Cisjordânia para ocuparem terras pertencentes aos palestinos. De fato, em lugar de cuidar das verdadeiras dificuldades geradas pela expansão das colônias contra um já moribundo processo de paz, Netanyahu dedicou-se quase exclusivamente ao que chamou de “ameaça iraniana” e exigiu que os EUA recorram ao uso de força militar para obrigar os iranianos a suspender seu “programa nuclear”. Israel é o único país do Oriente Médio que todo o mundo suspeita que armazene bombas atômicas.

Por sua vez, os funcionários da Autoridade Palestina nada fazem além de repetir obviedades sobre as dificuldades que a política de colonização israelense cria para o processo de paz. Em sua mais recente declaração, o presidente da AP, Máhmude Abbás, disse que se falará na hora certa. Quando? Ninguém sabe. Abbas e seus ministros estão sendo responsabilizados pelo governo Obama por não terem conseguido convencer Israel a suspender as construções na Cisjordânia. A popularidade de Abbas – como o processo de paz – está em ruínas.”

FONTE: escrito por Khaled Amayreh (de Ramállah), publicado no “Al-Ahram Weekly”, Cairo, e transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/netanyahu-e-a-colonizacao-de-ocupacao.html).

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