terça-feira, 9 de novembro de 2010

TELEBRÁS DECIDE DAR PRIORIDADE A EQUIPAMENTO NACIONAL E IRRITA MÚLTIS ESTRANGEIRAS

GOVERNO USA PODER DE COMPRA DA EMPRESA PARA ESTIMULAR O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA NACIONAL

NOVA REGRA DE LICITAÇÕES SERÁ USADA NA COMPRA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS PARA A REDE DE BANDA LARGA ESTATAL


As licitações de compra de equipamentos eletrônicos para a implantação da rede nacional de banda larga estatal, a cargo da Telebrás, favorecem fabricantes nacionais -o que tem irritado as empresas estrangeiras.

O pregão de preços para compra de equipamentos ópticos de transmissão de dados exigiu que o produto tivesse tecnologia desenvolvida no Brasil ou nos países vizinhos do Mercosul. Grandes fabricantes norte-americanos, europeus e chineses foram excluídos.

Entre os fabricantes nacionais, só um concorrente cumpriu o requisito: a Padtec, de Campinas.

A empresa pertence à Fundação CPqD (um ex-departamento da Telebrás) e à Ideiasnet, que tem entre seus acionistas o empresário Eike Batista.

Mesmo com a restrição do edital, as estrangeiras ZTE, Huawei e Ericsson fizeram propostas, apostando que a brasileira poderia cometer um erro e ser desclassificada.

A Padtec apresentou o preço mais alto: R$ 68,9 milhões, contra R$ 63,1 milhões da ZTE, R$ 63,6 milhões da Huawei e R$ 65 milhões da Ericsson.

Conhecidas as ofertas dos estrangeiros, a Padtec aceitou cobrir a proposta da ZTE e deve assinar o contrato.

A Telebrás repetirá o procedimento nas licitações para sistemas de transmissão via rádio e roteadores periféricos. Só os roteadores de grande porte, que não têm produção no Brasil nem nos países vizinhos, devem ser importados.

A estatal prevê investir, em cinco anos, R$ 5,7 bilhões na compra de equipamentos para a banda larga pública, sendo R$ 3,2 bilhões nos próximos três anos. Pelos cálculos das indústrias, as compras da Telebrás representarão 10% do total de encomendas do setor no próximo ano.

MEDIDA PROVISÓRIA

Para dar respaldo jurídico à nova política da Telebrás, o decreto que criou o Plano Nacional de Banda Larga, de maio, definiu os investimentos na construção da rede pública como estratégicos.

O cerco aos importados se fechou com a Medida Provisória 495, editada em julho.

Ela autoriza a realização de licitações públicas restritivas para compra de bens e serviços estratégicos. E permite que o produto nacional seja escolhido mesmo com preço até 25% maior.

A medida provisória ainda não foi votada pelo Congresso, onde já recebeu mais de 30 emendas.

A Telebrás já foi usada como instrumento de política industrial quando a telefonia era monopólio do Estado, mas grande parte dos fornecedores nacionais desapareceu quando o sistema foi privatizado [sic] em 1998 [ou melhor, "estrangeirizado" no governo FHC/PSDB/DEM].

A diferença entre os dois modelos é que o anterior exigia que as empresas tivessem controle de capital nacional para usarem o benefício.

O atual dá benefício a toda empresa registrada no país, independentemente da origem do capital, desde que a tecnologia tenha sido desenvolvida e fabricada no país.

TELEBRÁS DIZ QUERER EVITAR "ESPIONAGEM"

Para o presidente da Telebrás, Rogério Santanna, o uso de tecnologia desenvolvida no país impedirá que a rede "tenha portas" que exportem informação estratégica para outros países.

Segundo o executivo, a estatal não pode correr o risco de ficar à mercê de "um serviço de espionagem".

Quem vencer uma licitação da Telebrás com equipamento importado terá de "abrir o código" do produto. Caso contrário, será desclassificado.

Segundo Santanna, embora a Medida Provisória 495 admita a compra de produto nacional com preço até 25% superior ao de importados, a Telebrás usa o limite de 10%.

"O fornecedor será chamado a equiparar sua oferta à de menor preço", diz.

Mas, Santanna admite que, "eventualmente", a Telebrás poderá pagar mais caro pelo produto nacional.”

FONTE: reportagem de Elvira Lobato publicada na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0811201002.htm) e (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0811201004.htm) [título e entre colchetes colocados por este blog].

Nenhum comentário: