QUEDA INICIAL NO PREÇO DAS MATÉRIAS-PRIMAS TENDE A SER REVERTIDA
“Como disse Nassim Taleb, autor do termo "cisne negro", usado para caracterizar eventos inesperados e, às vezes, cataclísmicos, a história não evolui gradualmente, mas em saltos descontínuos.
-O Japão acaba de ser atingido por três "cisnes negros" simultaneamente: um terremoto, um tsunami e um desastre nuclear. Como isso pode afetar o Brasil?
Ainda é cedo para quantificar o impacto sobre a economia mundial. No entanto, é certo que as commodities continuarão a ser afetadas.
No curtíssimo prazo, os efeitos mais relevantes estão relacionados à fuga de risco dos investidores e de realocação de liquidez, dada a necessidade de recursos de algumas empresas.
A queda observada nos preços das matérias-primas reflete tanto essas necessidades imediatas quanto os temores dos investidores.
A interrupção parcial da indústria japonesa também exerce influência negativa sobre as matérias-primas, já que parte relevante da demanda global por esses produtos fica temporariamente prejudicada.
Portanto, no curto prazo, a queda nos preços das commodities tem duas possíveis implicações para o Brasil. De um lado, pode piorar um pouco a evolução dos termos de troca, que tem ajudado a segurar a deterioração da conta-corrente. De outro, alivia as pressões inflacionárias mais imediatas.
Entretanto, há motivos para crer que esses movimentos de queda sejam não só revertidos como também acentuados na direção inversa.
Primeiro, o Japão terá de encontrar fontes alternativas de energia, adicionando à demanda global por petróleo e derivados o peso da terceira maior economia do mundo. Além disso, o país terá, temporariamente, demanda de energia superior à que prevalecia antes do terremoto devido à reconstrução.
Por fim, o drama japonês expôs, mais uma vez, o potencial catastrófico dessa fonte de energia quando algo dá errado, levando vários países a reavaliar os seus planos de usinas nucleares.
Esses desdobramentos aumentam as chances de que as economias avançadas atravessem período prolongado de "semiestagflação", isto é, de crescimento baixo e inflação alta.
-Como isso afeta o Brasil?
Para uma economia que já enfrentava graves pressões sobre os preços, um ambiente internacional de maior hostilidade inflacionária não é nada animador.
Esse é o lado escuro do cisne brasileiro. O lado "branco" é a possibilidade de que o país se torne ainda mais atraente aos olhos dos investidores externos, diante de quadro nebuloso para as economias maduras. Haja fôlego para evitar a valorização da moeda brasileira...”
FONTE: escrito por Monica Baumgarten de Bolle, economista, professora da PUC-RJ e diretora do IEPE/Casa das Garças. Publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1703201114.htm) [imagem do Google adicionada por este blog].
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário