quinta-feira, 16 de junho de 2011

A ASCENSÃO DA CHINA


[OBS deste blog democracia&política:

Este artigo a seguir transcrito traz boas informações sobre a China.

Contudo, exige um alerta. Foi escrito por Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda de FHC/PSDB (em 1988 e 1989) justamente no período importante daquele ministério para apoiar a reeleição de FHC.

Sobre isso, sem fazer relação de causa-efeito, vêm-me à memória certos eventos da época, como as gravações de conversas telefônicas divulgadas na ocasião pelo jornal ‘Folha de São Paulo’, que demonstravam que quatro deputados federais venderam seus votos, por US$ 200 mil cada, para aprovar a emenda que permitiu a reeleição de FHC. Muitos outros deputados foram acusados. Nunca foi procurado investigar a todos, muito menos quem os comprava. Nem a imprensa se interessou. O episódio “foi investigado” somente pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, numa "investigação" que durou apenas poucas horas! O governo FHC, os seus partidos PSDB/DEM/PPS e a 'grande' mídia conseguiram evitar a instalação de CPI, por julgar o assunto sem importância.

Voltando ao artigo aqui ora transcrito, é oportuno também destacar (além do perfil do autor) que foi publicado em dois veículos da direita internacional (Veja e DefesaNet). Por isso, deve ser lido compreendendo que é tendencioso pró-direita, pró-tucanos, ‘neoliberal’, pró-‘Estado Ínfimo’, pró-EUA, antiPT
].

Por Maílson da Nóbrega, na Veja:

“A China é o maior fenômeno econômico da história. Nenhum outro país cresceu, por trinta anos seguidos (1980-2010), à taxa média de 12% ao ano. Em 2010, ela se tornou a segunda maior economia do mundo. Ainda nesta década poderá ser a primeira.

Por aqui, esse êxito é explicado por teses simplistas. Decorreria de taxas de câmbio valorizadas, de políticas industriais ou da ação de empresas estatais. Na verdade, o sucesso chinês tem raízes mais amplas, profundas e provavelmente duradouras.

A China despertou de um longo declínio, que começou por volta do século XV, quando Portugal e Espanha se lançavam na aventura ultramarina. Na época, ela representava cerca da metade da economia mundial. Em 1800, em plena Revolução Industrial inglesa, a China ainda respondia por 33% da produção mundial de manufaturados (28% na Europa e apenas 0,8% nos Estados Unidos).

A China evoluiu da tribo para o estado organizado muito antes do Ocidente. Francis Fukuyama diz que o estado chinês foi fundado por Ying Zheng (259-210 a.C.). Possuía um exército que fazia cumprir a lei e uma burocracia profissional que arrecadava tributos. Pesos e medidas uniformes eram obrigatórios. O setor público construía a infraestrutura de estradas, canais e sistemas de irrigação.

Nos séculos XIX e XX, a China foi ocupada por potências estrangeiras. No período comunista, a expansão da educação se interrompeu e muitas universidades foram fechadas. Políticas desastradas de Mao, como a de produzir aço a qualquer custo, e a insana Revolução Cultural aceleraram o declínio.

A reversão começou em 1978 com Deng Xiaoping, que restabeleceu a prioridade à educação, acolheu o investimento estrangeiro, privatizou empresas estatais e permitiu ampla participação do setor privado na economia. No ensino superior, foram adotados os modelos britânico e americano.

A partir de 1997, o ensino experimentou forte internacionalização. Em 2007, o relacionamento educacional alcançava 188 países e regiões. Em 2008, 180.000 chineses estudavam fora (39.000 em 2000). No período, 420.000 frequentaram cursos superiores no exterior. As reformas econômicas aumentaram o retorno propiciado pela educação.

A educação é central no êxito da China. Três de suas universidades já estão entre as 100 melhores do mundo. O plano é incluir duas delas entre as vinte mais prestigiadas. Em 2010, alunos do ensino médio da província de Xangai obtiveram o primeiro lugar nas provas de leitura, matemática e ciência do PISA.

A ciência e a tecnologia são parte do processo. Neste ano, a China investirá, em pesquisa e desenvolvimento, 154 bilhões de dólares. Ultrapassará o Japão (144 bilhões de dólares) e ficará atrás apenas dos Estados Unidos (405 bilhões de dólares). Em 2010, conforme mostrou Cláudio Frischtak, a China solicitou 12.300 patentes internacionais, 25 vezes mais do que o Brasil (era quatro vezes em 2000). Em 2008, enviou um astronauta ao espaço e planeja colocar outro na Lua em vinte anos.

Na política externa, os diplomatas chineses concluíram que o país não podia (nem deveria) desafiar tão cedo a dominância global dos Estados Unidos. Ao contrário, a estratégia foi a de cooperação com os americanos, a melhor fonte de tecnologia, investimento e demanda por seus produtos. Buscava-se a “ascensão pacífica”. Algo muito diferente do antiamericanismo da diplomacia petista.

A China escolheu o modelo de desenvolvimento fundado na exposição de suas empresas à competição internacional, que já havia dado certo no Japão, na Coreia do Sul e em Taiwan. Era o oposto da estratégia de economia fechada do Brasil. O comércio exterior saltou de 18,8% em 2000 para 56,7% do PIB em 2010 (23,1% no Brasil).

O êxito chinês combina múltiplos fatores: educação, ciência, tecnologia, economia aberta e orientada pelo mercado, elevados investimentos em infraestrutura, empreendedorismo e pragmatismo diplomático, para citar os mais relevantes.

Lula afirmou que o século XXI seria o do Brasil. Está mais para ser o da China, salvo os riscos de uma futura abertura democrática. O Brasil pode ganhar ou perder com a ascensão da China. Depende de como enfrentemos as deficiências da educação e retomemos as reformas, interrompidas nos últimos oito anos.”

FONTE: escrito por Maílson da Nóbrega e publicado na revista “Veja”  e transcrito no site "DefesaNet  (http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/1433/A-ascensao-da-China) [imagem do Google e observação inicial entre colchetes adicionadas por este blog].

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