sexta-feira, 3 de junho de 2011

“ERRAR TRÊS VEZES É COISA DE ECONOMISTA”

                             Dragão da inflação abatido

ECONOMISTAS ERRARAM DE NOVO

Por paulo Moreira Leite, em seu blog na “Época”

“Depois de ler os últimos números da inflação, acho que temos o direito de dar uma nova versão para uma velha frase.

"Errar é humano. Errar duas vezes é burrice. Errar três vezes é coisa de economista".

Parte de nossos economistas —alguns muito prestigiados— deveria fazer autocrítica pública em função de seus prognósticos mais recentes.

Muitos profissionais ligados à oposição ou que têm visão de política econômica contrária a do governo Dilma, e que estão no rádio, na TV e nos jornais, formaram coro nas últimas semanas para colocar o país em estado de alerta vermelho em função de "fantasma inflacionário".

O teto da meta da inflação é de 6,50%. Chegou-se a 6,51%, ou seja, apenas um milésimo (isso mesmo: 0,01%!) acima do teto, mas foi suficiente para se fazer escândalo.

Dizia-se que a alta de preços estava fora de controle e que era preciso dar uma pancada forte nos juros —eufemismo para encaminhar o país para uma recessão.

Logo, surgiram vozes para anunciar —com ares implacáveis— propostas de arrocho salarial. O argumento é que os preços não subiam por causa da expansão do crédito, apenas. Não. Era preciso ir mais fundo e encarar a dolorosa realidade de que os salários ficaram altos demais e pressionam os preços.

O raciocínio é assim: desemprego baixo impede as empresas de pagarem salários baixos, pois os trabalhadores —esses espertinhos— têm a chance de procurar ganhar um pouco mais em outro lugar. Com a pancada nos juros e a volta do desemprego alto, tudo poderia retornar “a seu lugar”, como antes.

Num ambiente que lembrava pré-Grécia, pré-Irlanda, pré-Portugal e outros países europeus que encaram a ruinosa política de austeridade do Banco Central Europeu, as chamadas medidas macroprudenciais do Banco Central, -elaboradas com a intenção de controlar a inflação sem produzir estragos desnecessários, numa operação delicada, difícil, com um certo risco-, eram tratadas com ironia e sarcasmo.

Contos da carochinha, assoprava-se. Não havia como escapar da herança maldita deixada por Lula, gritava-se.

Menos de um mês depois, a realidade é outra. Em queda, a inflação está em torno de 5,5%. O crescimento foi afetado, sim. Ficará em 4,5%, quem sabe 4%. Não é, com certeza, aquilo que o país necessita.

Mas é número que demonstra que aquelas medidas tão criticadas podem dar resultado. Podem ocorrer novas surpresas e dificuldades. Mas o saldo é favorável, pelo menos até agora.

Surpresa? Nem tanto. Se você fizer pesquisa rápida nos jornais, verá que nossos economistas erraram sempre —a atividade de prever o amanhã é sempre complicada— mas erraram mais em anos recentes. Anunciaram o caos em 2003. Disseram que o país teria desempenho sofrível em 2004 e “grande frustração” a partir de 2005. Eles chegaram a denunciar Lula e Guido Mantega como irresponsáveis por ampliar o crédito e estimular o consumo depois da crise mundial de 2008, pois o desemprego em massa era fatalidade e os assalariados não podiam abrir mão de sua poupança para enfrentar dias de amargura. (Rsrsrsrsrsrsrs…)

Mas confesso que nada me produz tantas cócegas quanto as reflexões sobre a nossa legislação trabalhista. Nossos economistas passaram as duas últimas décadas repetindo um mantra: sem o fim da CLT não seria possível criar novos empregos. O país estava engessado, o empresário não tinha estímulos para contratar, as leis trabalhistas só protegiam uma casta. A verdade está ai. Em determinados lugares, vive-se aquilo que se chama de pleno emprego. Em outros, a oferta de postos de trabalho atinge patamar recorde. A CLT não saiu do lugar. Pelo país inteiro, milhões de trabalhadores, que há anos eram mantidos na condição dolorosa de comparecer ao batente sem nenhuma garantia, agora têm décimo-terceiro, férias, descanso remunerado.

Essa situação não chega a ser novidade para alunos aplicados no estudo das surpresas e sutilezas da economia. Desde que John Maynard Keynes escreveu sua “Teoria Geral do Emprego” sabe-se que as empresas contratam trabalhadores porque precisam, e pagam por eles os salários que necessitam pagar. Como regra geral, contratações e demissões são produtos do ambiente geral da economia e apenas confirmam a verdade de que a experiência real desafia a visão de senso comum. Os trabalhadores americanos conquistaram suas principais garantias na década de 30, quando o país estava mobilizado para vencer o desemprego e encerrar a Depressão provocada pela crise de 29.

Embora o pedantismo econômico e a linguagem tecnocrática tenham saído de moda, é sempre conveniente garantir rigor e cuidado numa análise. Estamos falando de 190 milhões de pessoas, de uma economia que pretende se tornar uma das maiores do mundo.

(Agradeço o alerta de comentaristas do blogue e do twitter para esclarecer que não considero que todos os economistas do país se comportam dessa maneira. Seria errado pensar assim. Muitos pensam de outro modo. Outros não se dedicam a análises da conjuntura econômica nem procuram apontar tendências)”

PS do "Viomundo": Os erros dos economistas, muitas vezes, não são erros. Eles partem do pressuposto de que tudo o que o governo faz, faz errado. Ou seja, passamos da “crise da hiperinflação” para a “crise do baixo crescimento econômico”, um horror, pior que o Chile!, eles dirão.”

FONTE: escrito por Paulo Moreira Leite, em seu blog na “Época”. Transcrito no portal “Viomundo”, de Luiz Carlos Azenha (http://www.viomundo.com.br/politica/errar-tres-vezes-e-coisa-de-economista.html) [imagem do Google adicionada por este blog].

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