domingo, 5 de junho de 2011

SEGURANÇA NAS FRONTEIRAS


[OBS deste blog: o título do O Globo é: "MODERNIZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS CUSTARÁ R$ 38 BILHÕES ATÉ 2024". ISSO É RELATIVAMENTE MUITO POUCO, FRENTE AO SUCATEAMENTO OCORRIDO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS E ÀS NECESSIDADES.

Os gastos governamentais brasileiros per capita com segurança e defesa têm sido menores até que os do Estado do Vaticano
]

Do jornal “O Globo”: [entre colchetes adicionados por este blog]

“Pelos valores até agora públicos, a modernização operacional e tecnológica das Forças Armadas [até 2024] está custando [custará] o equivalente a 38 reformas do Maracanã.

Na Marinha, o gasto com cinco submarinos (um deles, de propulsão nuclear), mais um estaleiro e uma base naval será de R$ 18,7 bilhões até 2024.

Na Aeronáutica, a compra de 36 aviões de combate (adiada pela presidente Dilma) é calculada em R$ 10 bilhões [10 reformas do Maracanã].

Agora, é o Exército que apresenta a conta de seu ‘upgrade’: US$ 6 bilhões (algo em torno de R$ 9,6 bilhões) para a implantação, em 10 anos, do SISFRON, um projeto para resolver (com tecnologia de ponta) um velho problema do país, a vulnerabilidade de seus 16,8 mil quilômetros de fronteira seca, sobretudo na Região Amazônica -que agora voltou a estar em evidência por conta dos crimes ambientais.

Na verdade, a conta já passa dos R$ 38 bilhões, cifra que recentemente incorporou os US$ 6 bilhões do SISFRON. A sigla que engordou a conta do salto das Forças Armadas para a modernidade é o “Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras”, cujo conteúdo o Exército vem tornando público aos poucos. Até porque o projeto em si ainda está em desenvolvimento.

Podemos dizer que já temos 60% dele prontos”, disse ao GLOBO o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri. Em setembro, a ATECH Negócios em Tecnologia, empresa brasileira que o desenvolve, apresentará o projeto final ao Ministro da Defesa, Nelson Jobim. A partir disso, será possível definir os primeiros passos do SISFRON, que nasceu alinhado e inspirado pela Estratégia Nacional de Defesa (estabelecida em 2008), na qual a proteção da Amazônia é listada como prioridade. Os principais pontos da entrevista do General Enzo Peri sobre o SISFRON:

SISFRON, O QUE É

O Brasil tem 16,8 mil quilômetros de fronteira seca com 10 países vizinhos. Está entre as maiores do planeta. É o dobro, por exemplo, das fronteiras dos Estados Unidos com o Canadá e com o México, que somam 8,8 mil quilômetros. Ao longo da nossa fronteira com os vizinhos da América do Sul, temos 570 municípios, espalhados por 11 Estados.

O SISFRON é um sistema de vigilância e monitoramento que vai dotar a força terrestre de meios para efetiva presença em todo o território nacional, particularmente nessa faixa de fronteira. E já nasceu tendo a Amazônia como prioridade. Dos 16,8 mil quilômetros a proteger, perto de 13 mil estão lá.

ATUAL ESTÁGIO DO SISFRON

Contratada por R$ 17,2 milhões, a ATECH deve apresentar o projeto do SISFRON em setembro. Trata-se de empresa brasileira com extensa experiência na integração de sistemas e redes. Participou, entre outras realizações, do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia). A partir do projeto, o Ministério da Defesa definirá como implantar o SISFRON. O custo estimado é de US$ 6 bilhões, ressalvando que é prematuro cravarmos algum número no estágio atual. É muito provável que o SISFRON vá custar mais que isso.

O QUE PROJETO VAI DEFINIR

O projeto da ATECH estabelecerá a forma de promover a vigilância e os equipamentos a serem utilizados. Sabemos que vamos precisar de radares sofisticados de curto e longo alcance, de equipamentos de visão noturna, de torres de observação e transmissão de sinais, de câmeras óticas e termais, de imageamento por satélites, de sistemas de treinamento e simulação, de veículos aéreos não tripulados (VANT), de blindados para proteção de fronteiras, de veículos de apoio, de embarcações especiais, enfim, tudo que nos ajude diante dos desafios que temos pela frente. O SISFRON abrange distâncias continentais e vai lidar com deficiência de infraestrutura, afastamento dos grandes centros, diversidades regionais e, principalmente, a permeabilidade das nossas fronteiras, desafios que já enfrentamos hoje.

PROBLEMAS NAS FRONTEIRAS

O mapa dos crimes na nossa região de fronteira mostra problemas como contrabando, tráfico de drogas, armas e munição, roubo de cargas e veículos, refúgio de criminosos e crimes ambientais em quase todos os estados que fazem limite com nossos vizinhos. Em menor escala, temos ainda roubo de gado, tráfico de pessoas, exploração sexual e infantil, evasão de divisas e até turismo sexual, no Amapá.

Estudo realizado recentemente mostrou que hoje, no combate a esses problemas todos, o Brasil já gasta cifra parecida com o custo projetado para o SISFRON.

NA AMAZÔNIA

A Amazônia é a nossa prioridade. Depois, cuidaremos do Centro-Oeste e, em seguida, do Sul. Temos, hoje, cerca de 27 mil homens na região amazônica (o efetivo do Exército é de 220 mil homens) e podemos adiantar que, com o SISFRON, esse número deverá chegar a 35 mil. Quando a gente olha a Amazônia, vê, claro, que o efetivo atual não está concentrado todo nas regiões de fronteira. O importante é que estejam distribuídos pela região, em condições de serem deslocados. A questão não é concentrá-los em determinados pontos e, sim, ter condições de deslocá-los de acordo com as necessidades. O Exército é a força terrestre. Em qualquer situação, é sempre a força terrestre que está presente. Por exemplo: em São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga, ambas no estado do Amazonas, temos hospitais nos quais a população local responde por 90% do nosso atendimento. Ainda sobre a Amazônia: devemos levar em conta que é basicamente fluvial o deslocamento na região. O que nós temos de estrada por lá? A Manaus-Boa Vista e mais aquela que sai de Porto Velho, cruza o Acre até Cruzeiro do Sul e se interliga com a saída para o oceano Pacifico... e a Manaus-Porto Velho, que um dia existiu. Aliás, o Exército está fazendo obras nela.

BRIGADA NO ACRE

Por falar em interligação com o Pacífico, estamos cogitando instalar uma Brigada só para atender o Acre, que atualmente é coberto pela Brigada que temos em Porto Velho.

AS FRONTEIRAS NA AMAZÔNIA

O trabalho de vigilância das fronteiras da Amazônia será feito pelos PEFs, Pelotões Especiais de Fronteira. Hoje são 20. Serão 48 com o SISFRON. A localização dos 28 novos PEFs independe um pouco do projeto do SISFRON porque segue a lógica dos atuais portões de acesso à Amazônia, geralmente por rios, onde ainda não temos pontos de vigilância forte, vamos dizer assim. O que o projeto deverá fazer é definir os locais exatos onde instalar os novos pelotões. Importante: esses pelotões não ficarão isolados, graças ao equipamento a ser utilizado pelo SISFRON.

TECNOLOGIA

Qual é o melhor equipamento para cumprir aquilo a que nos propomos? O projeto vai nos indicar o caminho. A indústria nacional está oferecendo muito apoio ao SISFRON, que, aliás, vai gerar muitos empregos. Já há grandes empresas trabalhando para o que será o SISFRON. A Embraer, por exemplo, criou uma nova unidade, a Embraer Defesa. A Odebrecht também já tem uma unidade voltada para defesa. A Andrade Gutierrez está atenta aos satélites. A Camargo Correa também se movimenta. Enfim, há muitas empresas, grandes e pequenas, interessadas no SISFRON. Na LAAD (feira de segurança e defesa realizada em abril, no Rio), fomos procurados por empresas da China, Itália, Espanha, Israel, todas querendo apresentar suas linhas de produtos tendo em vista o SISFRON. Muito importante nisso tudo será a transferência de tecnologia. Hoje, a indústria de defesa precisa andar na fronteira tecnológica, liderar todos os avanços.

BENEFÍCIOS

O SISFRON vai aumentar a presença do Estado na Amazônia, promover a integração regional, estimular a cooperação militar com os países vizinhos, ajudar na preservação da região amazônica e proteção da biodiversidade, combater ilícitos ambientais e desmatamentos, proteger populações indígenas e aumentar a sensação de segurança na área, já que vai atuar contra todos os tipos de crimes comuns em nossas regiões de fronteira.

FINANCIAMENTO

Ao final do projeto, teremos que traçar cronograma de desembolso. O Ministério da Defesa cuidará disso, com o envolvimento das áreas estratégicas do governo, que já conhecem o projeto. O SISFRON nasceu no Governo Lula e conta com operações de crédito externo, 'Parcerias Público-Privadas', BNDES. O prazo de dez anos para implantação é factível e, estrategicamente, o melhor. Foi estudado junto com a indústria nacional e leva em conta a necessidade de absorção tecnológica, a criação e a capacitação de novos quadros.”

FONTE: publicado no jornal O Globo e transcrito no blog do Noblat (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/06/03/modernizacao-das-forcas-armadas-custa-38-bi-924612936.asp#ixzz1OHj399gJ) [mapa do google, título, observação inicial e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

Um comentário:

Probus disse...

Confesso: Assaltei esta sua postagem e fixei na minha página. Postagem MARAVILHOSA a sua, melhor que a minha, portanto...

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-centro-de-estudos-estrategicos-da-unasul?page=1

Confesso 02: Não é a primeira vez que faço isso...