segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O REPENTINO SILÊNCIO ENSURDECEDOR SOBRE A DERRUBADA DO AVIÃO DA MALAYSIAN




POR QUE A MÍDIA E A ADMINISTRAÇÃO OBAMA FICARAM SILENCIOSOS SOBRE A “QUEDA” DO AVIÃO MH17 NA UCRÂNIA?

 

Capa da 'Der Spiegel', 28/Julho/14.

Por Niles Williamson

"O silêncio ensurdecedor da mídia e do governo dos EUA acerca da investigação do derrube do MH17 da Malaysian Airlines, há um mês, tresanda a encobrimento. 


Nas horas e dias que se seguiram ao crash, sem uma única sombra de evidência, responsáveis dos EUA alegaram que o jato de passageiros fora "derrubado por um míssil terra-ar SA-22 disparado do território mantido por separatistas pró-Rússia no Leste da Ucrânia". Eles lançaram uma campanha política a fim de obter duras sanções econômicas contra a Rússia e fortalecer a posição militar da OTAN na Europa do Leste. 

Apanhando a pista, os cães de ataque da CIA na mídia estadunidenses e europeia acusaram sem rodeios o presidente russo Vladimir Putin pelo crash. A capa da edição de 28 de Julho da revista alemã "Der Spiegel" mostrava as imagens das vítimas do MH17 circundando grossas letras vermelhas com o texto "Stoppt Putin Jetzt!" (Travem Putin agora!). Um editorial de 26 de Julho de "The Economist" declarava Putin como autor da destruição do MH17, enquanto a capa da revista morbidamente sobrepunha a cara de Putin a uma teia de aranha, denunciando a "teia de mentiras" de Putin.

Alguém que comparasse a demonização de Putin pela mídia com o tratamento que deram a Saddam Hussein ou Muammar Gadafi tem de concluir que Washington estava lançando uma campanha pela mudança de regime na Rússia tal como aquelas que executaram na Líbia e no Iraque – desta vez, loucamente, empurrando os Estados Unidos rumo à guerra com uma potência nuclear armada, a Rússia. 


Contudo, depois de ter transformado o crash num casus belli contra a Rússia, a mídia dos EUA subitamente deixou completamente de falar no assunto. O "New York Times" não considerou apropriado imprimir nem uma palavra sobre o crash do MH17 desde 7 de Agosto.

Não há qualquer explicação inocente para o súbito desaparecimento do MH17 da mídia e da atenção política. A caixa preta do avião esteve durante semanas na Grã-Bretanha para exames, e os satélites e radares militares estadunidenses e russos estiveram a esquadrinhar intensamente o Leste da Ucrânia no momento do crash. A afirmação de que Washington não tem conhecimento pormenorizado das circunstâncias do crash e das várias forças envolvidas não é crível.

Se a evidência que está nas mãos de Washington incriminasse a Rússia e as forças apoiadas pela Rússia, ela teria sido divulgada para alimentar o furor dos media contra Putin. Se não foi divulgada, isso é porque a evidência aponta para o envolvimento do regime ucraniano de Kiev e dos seus apoiantes em Washington e nas capitais europeias.

Desde o princípio, a administração Obama nunca apresentou evidência para apoiar as acusações incendiárias de que Putin fora responsável pelo crash do MH17. No seu comunicado à imprensa de 18 de Julho, no dia seguinte ao crash, o presidente Obama declarou que ainda era "demasiado cedo para sermos capazes de imaginar que intenções tiveram aqueles que podem ter lançado este míssil superfície-ar".

Apesar de cinicamente explorar o crash para pressionar e ameaçar a Rússia, Obama advertia que "provavelmente haverá desinformação" na cobertura do crash. Num reconhecimento indireto de que não tinha provas para apoiar suas afirmações, ele disse: "Em termos de identificação específica de que indivíduos ou grupo de indivíduos ou pessoal ordenaram o ataque, como aquilo aconteceu, são coisas que penso estarem ainda sujeitas a informação adicional que estamos reunindo".

Nesse evento, a desinformação sobre o crash do MH17 veio da própria administração Obama. O secretário de Estado John Kerry prosseguiu em 20 de Julho num ataque nos meios de comunicação, argumentando que os separatistas pró-russos e o governo russo eram responsáveis pelo derrube.

A única evidência que ele apresentou foram uns poucos dúbios "registros na mídia social" postados na Internet. Ele apresentou registros de áudio não autenticados de separatistas a falando de um crash de avião; áudio editado e divulgado pela agência de inteligência SBU da Ucrânia, a qual trabalha estreitamente com a CIA; vídeo clips do YouTube mostrando um caminhão a transportar equipamento militar não identificado ao longo de uma estrada; e uma desmentida declaração em mídia social afirmando que a responsabilidade do derrube do avião atribuía-se ao líder separatista Igor Strelkov.

Muito rapidamente, a narrativa do governo dos EUA sobre o MH17 começou a entrar em colapso. Num comunicado de imprensa de 21 de Julho, a porta-voz do Departamento de Estado e antiga analista da CIA para o Médio Oriente, Marie Harf, declarou que as conclusões da administração Obama quanto ao derrube do avião foram "baseadas em informação aberta a qual é basicamente de senso comum". Desafiada por repórteres a proporcionar evidência, ela admitiu que não podia: "Sei que é frustrante. Acreditem-me, tentamos obter tanto quanto era possível. E por alguma razão, por vezes não podemos".

Depois de um mês, durante o qual Washington fracassou em apresentar evidência para apoiar suas acusações contra Putin, está claro que a ofensiva política dos governos a OTAN e a histeria da mídia contra Putin eram baseadas em mentiras.

Se separatistas pró-russos dispararam um míssil solo-ar, como afirma o governo dos EUA, a Força Aérea teria imagens na sua posse confirmando isso sem sombra de dúvida. O "Defense Support Program" da "US Air Force" utiliza satélites com sensores infravermelhos para detectar lançamentos de mísseis em qualquer lugar sobre o planeta e os postos de radar estadunidenses na Europa teriam rastreado o míssil quando ele atravessava o céu. Esses dados de satélite e radar não foram divulgados, porque, seja o que for que mostrem, não se ajusta à narrativa cozinhada pelo governo dos EUA nos meios de comunicação.

O que aflorou, ao invés, foi uma série de evidências apontando para o papel do regime de Kiev apoiado pelos EUA no derrube do MH17. No dia seguinte ao de Kerry ter feito suas observações, os militares russos apresentaram dados de radar e de satélite indicando que um caça a jacto SU-25 ucraniano estava na vizinhança imediata e ascendia em direção ao MH17 quando ele foi derrubado. A afirmação não foi corrigida e muito menos refutada pelo governo americano.

O denunciante da NSA William Binney e outros agentes aposentados da inteligência americana emitiram uma declaração no fim de Julho pondo em causa os dados das mídias sociais apresentados por Kerry e pedindo a publicação de imagens de satélite do lançamento do míssil. Eles acrescentaram: "Estamos ouvindo indiretamente, de alguns dos nossos antigos colegas, que o que o secretário Kerry apregoa não se enquadra com a inteligência real".

Em 9 de Agosto, o "New Straits Times", da Malásia, publicou um artigo acusando o regime de Kiev pelo derrube do MH17. Declarava que a evidência do sítio do crash indicava que o avião fora derrubado por um caça ucraniano com um míssil, seguido por fogo pesado de metralhadora.

Se bem que seja demasiado cedo para dizer conclusivamente como o MH17 foi derrubado, a preponderância das evidências aponta diretamente para o regime ucraniano e, para além dele, o governo americano e as potências europeias. Eles criaram as condições para a destruição do MH17, apoiando o golpe dirigido por fascistas em Kiev no mês de Fevereiro que levou ao poder o atual regime pró-ocidental. Os mídia ocidentais portanto apoiaram a guerra do regime de Kiev no Leste da Ucrânia para eliminar a oposição ao "putsh", transformando a região na zona de guerra em que foi abatido o MH17.

Após o assassínio das 298 pessoas a bordo do MH17, no qual desempenharam um papel importante ainda que por explicar, os governos e as agências de inteligência ocidentais aproveitaram a tragédia numa manobra precipitada e sinistra para escalar ameaças de guerra contra o regime Putin. O silêncio indica consentimento e o silêncio ensurdecedor da mídia ocidental sobre a questão do envolvimento de Kiev no crash do MH17 atesta a criminalização não só da política externa do establishment ,como também dos seus lacaios da mídia e de toda a classe dominante."


FONTE: escrito por Niles Williamson  no "Patria Latina"  (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=14212 ).

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