segunda-feira, 17 de novembro de 2008

QUEM TUMULTUA A SUCESSÃO DE LULA

Na coluna “Coisas da Política”, o Jornal do Brasil de ontem publicou o seguinte artigo do consagrado e veterano jornalista Mauro Santayana:

“Há três anos, era impensável que o jovem Barack Obama, em seu primeiro mandato de senador por Illinois, viesse a ser eleito presidente dos Estados Unidos. Mesmo com seus méritos e virtudes, que se destacam em biografia singular, as circunstâncias o favoreceram.

Foi-lhe fácil vencer o candidato republicano ao Senado da União, em 2005, Alan Keyes, que só teve dois meses para a campanha. Favoreceu-o, ainda, a circunstância de ter, dentro do Partido Democrata, como rival à indicação, a senhora Hyllary Clinton. Depois da desastrada sucessão familiar, com Bush II, o sentimento republicano norte-americano se impôs – além da resistência em eleger-se, pela primeira vez, uma mulher para a Casa Branca. A crise econômica deu-lhe a oportunidade de oferecer aos eleitores uma saída mais justa e coerente para o problema.

Não houve, no Brasil, com exceção de Lula e Epitácio Pessoa, a eleição de um só presidente civil que não tenha sido antes governador de Estado. Mas nada indica que isso não venha a se repetir. Estamos a mais de um ano das convenções partidárias, tempo suficiente para que o quadro se altere, e novas circunstâncias acorram.

O processo sucessório nunca foi tranqüilo no Brasil, e não está sendo agora. O primeiro presidente eleito depois do regime militar sofreu impeachment. Seu sucessor se manteve fiel à Constituição e elegeu o novo presidente, graças a grande prestígio moral.

Infelizmente, Itamar não sabia das intenções antinacionais de Fernando Henrique, e agiu de boa-fé. Lula, com seu elevado índice de aprovação popular, não conseguiu transformar a confederação de tendências que formam o PT em partido unido para o futuro. O PT tem sido corroído pelas disputas internas. O que é mérito e força no presidente, sua grande liderança nacional, é a debilidade do partido: nenhum de seus liderados dele se aproxima em fascínio pessoal.

Tudo parece indicar que a candidatura in pectore de Lula seja mesmo a de Dilma Rousseff, eficiente coordenadora do governo, mas não lhe será fácil fazê-la sua sucessora. Faltam à ministra bases estaduais sólidas. Embora nascida em Minas, ela é ali desconhecida, e tampouco é forte sua presença em São Paulo. Não tendo disputado uma só eleição, suas possibilidades minguam. Isso não significa que, com seus méritos, não venha a vencer esses percalços.

Lula tem a consciência de que o PT é pouco para fazer um presidente. Ele necessita de outros partidos, principalmente do PMDB. No PMDB sua dificuldade maior se chama Nelson Jobim, que se insinua candidato há muito tempo. E é exatamente Jobim quem está contribuindo para que a sucessão de Lula venha a ser conturbada. Sua aspiração presidencial é antiga e, em busca de sua viabilização, ele conseguiu ser ministro de Fernando Henrique, membro do Supremo, candidato sem êxito à presidência do PMDB e ministro de Lula.

Ao assumir o Ministério da Defesa, no ato mesmo da posse, ele teve, mais do que a deselegância, a grosseria de ofender Waldir Pires, a quem substituía. Agora é dele a responsabilidade maior na crise entre a Polícia Federal e a Abin. Pretendendo que a segurança institucional do país fosse subordinada ao seu Ministério, coube-lhe denunciar que a agência dispunha de aparelhos capazes de fazer escutas telefônicas, o que, segundo se informou, não foi comprovado.

Tratava-se de buscar a responsabilidade pela interceptação de conversa entre um ministro do Supremo e um senador da oposição. Disso resultou crise institucional difícil de ser resolvida.

Jobim disputa, na mesma faixa ideológica, a candidatura à Presidência com o ministro Gilmar Mendes. Isso explica a presença dos dois em aparições espetaculosas na mídia.

Como ministro da Defesa, ele vem constrangendo a nação com seus atos, entre eles o de usar farda de oficial-general. Mas não lhe será fácil combinar isso com Geddel, Temer, Quércia, Jarbas Vasconcelos. Mais do que com todos eles, terá dificuldades com as bases do partido – e, é claro, com o eleitorado brasileiro, que está cansado de arrogância.

O eleitorado, advertido pelo desastre neoliberal, provavelmente optará por um projeto nacional que desenvolva o país com a inclusão de todos, proteja os recursos naturais e puna os especuladores”.

2 comentários:

Unknown disse...

Eu espero por um sucessor de Lula.

Unknown disse...

Hugo,
Eu também espero um, desde que não seja entreguista, antinacional, como foram os do PSDB/PFL/FHC.
Maria Tereza