A mesma política de imigração dos Estados Unidos
Notícias de Raul Castro, por Saul Landau, no Counterpunch
"No dia 20 de setembro o presidente Raul Castro apareceu sem anunciar para ver um integrante da família que tinha me convidado -- e a outros amigos americanos -- para visitar. Vestido com uma guayabera branca e com calças marrons bem passadas, com os sapatos bem engraxados, Raul beijou e abraçou os parentes, bateu a palma da mão com vários americanos e ofereceu algumas observações sobre a política Estados Unidos-Cuba.
Ele falou sobre sua satisfação com o rumo das conversas bilaterais relacionadas à migração e aos renovados vôos diretos trazendo e levando correspondência entre os dois países e reiterou sua disposição de discutir qualquer tema com os Estados Unidos -- "o embargo, o futuro da base de Guantánamo ou direitos humanos, desde que as discussões coloquem os dois lados em igual pé e sem ameaça à soberania de Cuba".
Depois ele falou sobre as "excelentes relações" entre comandantes militares americanos e cubanos na fronteira que separa a base de Guantánamo do território cubano. Desde 1994, disse Raul, "encontros mensais restritos a assuntos de segurança" causaram melhoria de relações e "diminuição de tensões".
Os Estados Unidos alugaram a base em 1903 para "abastecimento e objetivos navais". Desde a revolução de 1959, Fidel Castro e agora seu irmão se negam a descontar os cheques de aluguel (cerca de 10 mil dólares anuais) e exigem o retorno do território cubano. Cuba, supostamente o locador, poderia expulsar o locatário se quisesse arriscar guerra.
"No passado as tropas americanas ameaçavam nossas tropas. Eles atiravam e chegaram a matar um soldado. Eles atiravam pedras e ficavam de olho do seu lado da cerca. Os encontros atuais são filmados e gravados", ele disse.
"Há uma coisa na qual concordamos recentemente", ele disse. "Os Estados Unidos pediram autorização para voar sobre território cubano desde a base de Guantánamo quando precisassem transportar um doente gravemente doente para um hospital dos Estados Unidos. Concordamos em autorizar caso a caso. Até agora, concordamos com todos os pedidos". Ao autorizar os vôos, os pacientes chegam mais cedo a hospitais americanos. Caso contrário, a rota dos aviões os levaria a leste, depois rumo norte pela passagem do Windward antes de seguir para território americano. O acordo, ele disse rindo, teve de ser assinado por autoridades de baixo escalão em aeroportos de Cuba e Miami, "o que demonstra nosso grau de acordo".
Foi essa a reciprocidade que levou a secretária de Estado Hillary Clinton a pedir ao presidente Obama no incío deste ano que suspendesse a restrição de viagens e de remessa de dinheiro imposta pelo presidente Bush a cubano-americanos?
É difícil pensar no que mais Cuba poderia ter oferecido. Raul poderia ter dito que Cuba não bateria mais com a cara no punho dos Estados Unidos, ou se ofereceria para suspender o embargo econômico ou remover as bases cubanas em território dos Estados Unidos... Mas, sou realista! Sinto otimismo!
Dois dias depois, em 22 de setembro, um agente da imigração americana em Miami de nome "Marti" -- nenhuma relação com o fundador de Cuba, ele assegurou -- colocou o meu passaporte em uma pasta azul. Ele tinha perguntado e eu revelei que tinha estado em Cuba (o que também escrevi no formulário). Ele consultou seu computador e deu minha pasta para outra autoridade.
"Siga-me".
Cerca de 50 metros depois, outra autoridade sentada em uma mesa enfrentava uma fila de passageiros nervosos. Ele olhou para o computador e gritou o nome do homem que estava diante dele, seguido de um primeiro nome, como se fosse um sargento humilhando o recruta. Depois de cinco minutos, ele gritou meu nome, perguntou se eu trabalhava para o governo e o que eu fazia em Cuba.
"Trabalhando num filme para a TV".
" Vá com ele". Ele deu meu passaporte para outro homem. Caminhamos.
"Do que se trata?"
"Como você descreveria as relações cubano-americanas?", ele perguntou.
"Talvez melhorando, mas ainda tensas".
"Por quanto tempo?""
"Mais de cinquenta anos".
"Então você sabe do que se trata".
Depois de esperar por mais de 40 minutos em um escritório envidraçado, uma jovem agente, de nome Dalrymple, me interrogou.
"O que você fez em Cuba?". Ela examinou minha câmera, microfone e baterias, e se certificou de que eu não tinha rum ou charutos.
"Passe bem".
Deixei a Imigração e meu dia melhorou. Obama prometeu mudanças, mas não mencionou Cuba. Talvez no ano que vem, ele poderia informar à Imigração em Miami, ainda tecnicamente parte dos Estados Unidos, que ela deveria deixar de perturbar profissionais que visitam a ilha. Um amigo me garantiu que Obama enfrentaria o lobby dos exilados cubanos de Miami. Afinal, acabar com o embargo deveria ser fácil depois que ele desistiu do escudo de mísseis europeu [para se proteger da Rússia]."
FONTE: texto de Saul Landau, postado originariamente no "Counterpunch" e publicado ontem no portal "Vi o mundo", do jornalista Luiz Carlos Azenha.
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