Bacha vê expansão de 6% em 2010 e alta dos juros no início do ano
"Um dos idealizadores do Plano Real, o economista Edmar Bacha não acredita que o resultado fraco do PIB no terceiro trimestre reduza o ritmo de crescimento de 6% previsto para 2010. Para Bacha, a economia brasileira já contratou para o próximo ano um crescimento acima de sua capacidade de produção e de infraestrutura, que terá pressão inflacionária como "efeito colateral".
Com o resultado ontem do PIB, o economista vai reduzir a previsão de crescimento de 0,3% para 2009, mas manterá a expectativa de alta de 6% em 2010. "É mais fácil errar por subestimar o crescimento no ano que vem", disse. Consultor-sênior do banco Itaú BBA, Bacha acredita que o BC terá de elevar os juros no início de 2010 para segurar a inflação.
FOLHA - Vocês vão reduzir as projeções para o PIB?
EDMAR BACHA - Embora a gente vá rever a previsão do PIB de 2009 [de alta de 0,3%] para baixo, vamos manter a previsão de 6% para 2010. A economia vai estar numa trajetória mais forte do que aquilo que a gente estima que seja o potencial de crescimento [expansão máxima sem causar inflação].
FOLHA - Qual o espaço para crescer sem inflação como efeito colateral?
BACHA - A gente estima em 5%, mantendo inflação sob controle e o passivo externo sem explodir. Esses 5% são confortáveis porque ninguém gosta de dever, mas também não gosta de deixar de crescer. É um crescimento que tem de pedir emprestado dinheiro lá fora. Mas o grosso desse dinheiro tem vindo em reais e em portfolio. São os estrangeiros que estão correndo risco cambial. É bem diferente das experiências de crescimento com deficit externo que tivemos no passado, que significava falta de dólares. Aqui tem excesso de dólar. O que dá conforto é que o mundo está atrás [do Brasil] para aplicação de seu capital. O Brasil está ajudando a equilibrar a economia mundial.
FOLHA - O fato de o PIB vir mais fraco reduz a urgência de aumentar os juros a partir de março?
BACHA - Não acho. A gente está vendo em outros indicadores que o ritmo de crescimento da economia está bastante forte. Precisamos relativizar um pouco esse resultado do PIB porque os indicadores indiretos, que são de emprego, de capacidade ociosa e de produção industrial, não são afetados por revisões metodológicas do IBGE. Essa questão do PIB trimestral dessazonalizado, como o próprio IBGE reconheceu, é sujeita a revisões muito substanciais de curto prazo. E essas revisões podem vir contrárias ao que foi dito. Não existe nada de inusitado nisso.
FOLHA - Então o BC terá de subir os juros no início do ano?
BACHA - Dito tudo isso, é mais um elemento que qualifica aquela avaliação de que o BC precisaria começar [a subir os juros] já em março, embora sempre exista essa questão de quanto mais cedo ele começar, menos próximo da eleição vai estar quando terminar.
FOLHA - Há esse "timing" político?
BACHA - Quanto mais próximo da eleição [subir a taxa], pior. Mexer na política monetária é uma coisa muito sensível. É para não perturbar o processo eleitoral. Nenhum Banco Central no mundo gosta de contaminar o processo eleitoral. Se puder ficar parado durante o processo, é o ideal.
FOLHA - Esse dado do PIB pode estimular o governo a gastar mais e a adotar mais políticas de estímulo?
BACHA - Espero que não. Quanto mais tiver estímulo agora, mais o juro terá que subir depois. Essa previsão nossa de crescimento de 6% tinha uma folga [para eventuais estímulos]. Se me perguntar qual o risco [de errar a previsão], diria que é mais subestimar o crescimento no ano que vem.
FOLHA - Há dúvidas no mercado se o BC vai mexer mesmo nos juros em um ano eleitoral?
BACHA - É uma dúvida natural, não somente porque é um ano eleitoral, mas porque a gente não sabe como vai ser o BC em 2011. O prêmio de risco aumenta, isso é uma consequência. A taxa de juros a médio prazo tem um componente de risco que, em circunstância de indefinição eleitoral, é maior do que quando não há eleições. Mas também o que se vai fazer? Esse é o custo da democracia.
FOLHA - O processo eleitoral vai trazer volatilidade em 2010?
BACHA - Sim, mas nada parecido com 2002. Há muitos consensos na política econômica."
FONTE: reportagem de TONI SCIARRETTA publicada hoje (11/12) na Folha de São Paulo.
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