quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

IPEA: "2010 PODE SER O MELHOR ANO DA DÉCADA"

Terra Magazine

"A economia brasileira cresceu 1,3% no terceiro trimestre deste ano na comparação com o segundo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), isto mostra "a continuidade da expansão do emprego e do rendimento do trabalho". "Os salários continuam crescendo", acrescenta.

- Mantido assim, nós deveremos esperar que 2010 seja o melhor ano da década.

Embora tenha crescido 1,3% em relação ao trimestre anterior, o Produto Interno Bruto (PIB) do País recuou 1,7% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Para Pochmann, "estamos retomando" a recuperação da crise que abateu o mundo. Na sua avaliação, isto não se deu pelo insuflamento do Estado brasileiro, que foi o que menos cresceu (0,5%), nem pelo consumo das famílias (2,0%), mas pelo crescimento do investimento (6,5%).

O setor industrial trouxe "boas notícias", afirma. O PIB da indústria apresentou expansão de 2,9% no terceiro trimestre de 2009 em relação ao anterior. "Nós estamos crescendo da melhor maneira, que é pelo investimento, que gera capacidade futura de produção, que está adequada ao ritmo de consumo", encadeia.

Apresentado o cenário, Pochmann prevê uma expansão em torno de 1 a 1,5% no PIB deste ano. "Ainda temos a esperança de que o último trimestre seja muito mais forte do que este terceiro", explica.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Terra Magazine - A economia recuou 1,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse número é muito significativo, tendo em vista a crise global enfrentada?

Marcio Pochmann -
De fato, o Brasil registrou uma inflexão nessa crise. Essa inflexão se deu, fundamentalmente no setor industrial, o que, de certa maneira, indica o quanto esse setor está internacionalizado. Ou seja, o que ocorre no mundo tem impacto imediato na indústria brasileira. Em segundo lugar, tivemos um impacto importante no setor agropecuário, causado pelas importações. Mas o setor de serviços, voltado mais para o mercado interno, terminou não apresentando recessão, mas em ritmo de expansão. Talvez o maior problema dessa expansão se deva ao que aconteceu nos investimentos.

O senhor poderia explicar isso melhor?

O Brasil, praticamente de 2004 até 2008, registrou, depois do Milagre Econômico, o período mais longo de expansão de investimentos. O que apontava para um cenário de crescimento econômico. A crise terminou impactando, justamente, na evolução desse setor de investimentos. A dúvida que se tinha até o momento era se esses investimentos tinham sido rompidos ou postergados. Agora, os dados que foram apresentados mostram que os investimentos foram apenas postergados.

Por quê?

Quando se compara o 3º trimestre com o 2º deste ano, os investimentos cresceram 6,5%. Então, aparentemente, houve uma postergação em função da crise.

E agora, estamos retomando esses investimentos? É isto?

Exatamente.

O PIB brasileiro cresceu 1,3% no 3º trimestre ante 2º trimestre. Alguns economistas, mais descrentes da recuperação da crise afirmavam, no trimestre passado, que o Brasil tinha superado a recessão técnica, mas não tinha saído da crise. Podemos dizer que, com esse retorno dos investimentos, o Brasil saiu dessa crise? O que podemos esperar para o cenário que se desenha para 2010?

Comparando o 3º trimestre com o 2º, temos uma recuperação pelo investimento. A formação de capital fixo cresceu 6,5% e é o que mais cresceu entre todos os componentes. O consumo das famílias cresceu 2% e o do governo 0,5%.

O que isto quer dizer?

A recuperação da economia não está se dando pelo insuflamento do Estado, que foi o que menos cresceu. Em segundo lugar, não é pelo consumo das famílias. Na verdade, a recuperação se dá pela forma mais adequada que é o crescimento do investimento.

O PIB da indústria apresentou expansão de 2,9% no terceiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. Isto se deve aos incentivos do governo? O senhor acredita que esses incentivos ao consumo de bens industrializados podem trazer prejuízos como excesso de demanda para uma oferta que não acompanhe?

Esse crescimento da indústria é outra boa notícia. Mas eu tenho dúvidas a respeito desses prejuízos. Porque se nós estivéssemos crescendo e só ocupando a capacidade ociosa sem investimento, certamente seria preocupante. Mas não é isso que o cenário nos mostra. Nós estamos crescendo da melhor maneira, que é pelo investimento, que gera capacidade futura de produção, que está adequada ao ritmo de consumo.

Podemos dizer que persiste uma certa margem de ociosidade dos fatores produtivos, como destacou o Copom ao manter a taxa de juros Selic em 8,75% ao ano?

Frente a uma opção de demanda, não haverá uma inflação de consumo, que não teremos como atender internamente. Sim, podemos dizer isso e essa avaliação me parece correta, mas não tem inserção no próprio movimento de redução da própria taxa de juros.

O que esse crescimento do PIB significa para o bolso do brasileiro?

A continuidade da expansão do emprego, que é outra coisa vinculada à própria expansão da economia. Significa também a recuperação do rendimento do trabalho, os salários continuam crescendo, inegavelmente, por conta da melhoria do desempenho econômico. Então, teremos a continuidade do crescimento e expansão da renda do trabalho.

Basicamente, aumento de emprego e de renda?

Nós deveremos esperar, se mantida essa situação, que 2010 seja o melhor ano da década.

Qual a previsão para o PIB deste ano?

Uma previsão de expansão em torno de 1 a 1,5%. Na verdade, ainda temos a esperança de que o último trimestre seja muito mais forte do que este terceiro. Então, daria uma recuperação, mesmo que a base de comparação com o trimestre passado seja muito baixa."

FONTE: reportagem de Marcela Rocha, do portal "Terra Magazine" do jornalista Bob Fernandes, publicada hoje, 10/dez.

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