O ideal para a oposição e grande mídia brasileiras seria o Brasil sofrer e afundar muito com nova crise mundial. A frustração agora está presente. Vejamos o que foi publicado hoje (05/03) no jornal tucano Folha de São Paulo:
"Gregos e tucanos
Primeiros números indicam ano calmo na economia; risco de crise no exterior diminui. Bom para o governismo
A ameaça externa mais imediata, mas ainda assim distante, de tumulto na economia brasileira é o risco Grécia. Ou melhor, o risco de que algum dos países mais endividados e com menos crédito na Europa do euro dê calote.
A crise das dívidas europeias poderia provocar desde uma alta súbita e forte do dólar até, no caso extremo, uma seca de crédito internacional similar, mas menor, à do final de 2008. Mas seria preciso que as peripécias greco-europeias fossem inopinadas e muito violentas para que as ondas de crise chegassem até aqui.
Mesmo que assim o fossem, o Brasil resistiu muito bem à chuva de meteoritos financeiros de 2008-09.
Tal sucesso tornou o país menos sujeito à desconfiança e aos ataques das manadas dos mercados. Enfim, ainda que desse tudo errado, o povo eleitor teria de associar o eventual tumulto a Lula. Não vai dar tempo.
O novelão grego foi esticado; seu desfecho, ainda incerto, ficou para mais tarde.
Quanto mais tardio o desenlace da crise europeia, se é que haverá algum final operístico, menor a probabilidade de um ricochete financeiro atingir o Brasil em período politicamente sensível. As incertezas de além-mar fizeram baixas por aqui, mas restritas a tesourarias e à Bolsa, coisas em si mesmas politicamente irrelevantes.
Possíveis fatores domésticos de instabilidade, como um descontrole dos gastos do governo, por ora parecem contidos. Mas seria necessário um descalabro fiscal para que houvesse reação dos mercados suficiente para dar eco político. E o governo surpreendeu os rapazes da praça financeira, que revisam para cima suas estimativas de superavit primário, a poupança do governo.
A alta de juros pode começar neste mês de março, o que terá efeito perceptível na atividade econômica apenas lá por setembro, e será mínimo. Apesar de a inflação ter dado saltos além dos previstos neste início do ano, eles parecem mais resultados de soluços. Com a crise greco-europeia em banho-maria, morna também ficou a variação do dólar, que pode ter efeito nos preços.
A recuperação lenta da economia mundial não requenta demais os preços de comida, combustíveis e matérias-primas. As estimativas de índices de preços ao atacado são revisadas para cima, mas não se trata de nenhuma variação crítica.
Os gregos conseguiram tomar dinheiro emprestado bastante para respirar por uns dois meses. O protesto contra o arrocho está nas ruas ou até na sede invadida do Ministério das Finanças grego, mas não é forte o bastante para balançar ou rachar a política parlamentar, pelo menos por enquanto. A União Europeia pediu sangue ao governo grego, que prometeu o sacrifício e agora espera a benesse de empréstimos ou garantias dos seus primos ricos.
A Grécia ainda ameaça dar o vexame (para a Europa) de ir ao FMI se a União Europeia não pingar nada no pires heleno. Decerto ainda virão os dramas espanhol e português -os tímidos portugueses já vão à rua protestar. Mas o medo diminuiu.
Até a véspera da eleição no Brasil, ao menos, é provável que o clima seja de estabilidade um tanto nevoenta, lá fora e aqui. Não parece um ambiente eleitoral propício para a propagação de críticas da oposição. Que de resto nem sabe como fazê-las."
FONTE: reportagem de Vinicius Torres Freire publicada hoje (05/03) na Folha de São Paulo [título e 1º parágrafo colocados por este blog].
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