PIB 2010: "APÓS RECUO, PIB DEVE CRESCER ATÉ 6%"

Terra Magazine

"Belluzzo: Após recuo, PIB deve crescer até 6% em 2010

Soma de todas as riquezas produzidas no País em um dado espaço de tempo, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro recuou 0,2% em 2009 na comparação com 2008 - a maior queda desde 1992.

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp (Universidade de Campinas) entende que o resultado, apesar de negativo, mostra que o Brasil "se recuperou rapidamente da crise". Agora, diz, a economia nacional deve registrar crescimento de até 6% em 2010.

No total, o PIB atingiu R$ 3,1 trilhões no período. Já a renda per capita foi de R$ 16.414,00, uma variação negativa de 1,2% em relação ao ano anterior. Os dados foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) quinta-feira, 11.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2009, o PIB teve alta de 2,0%, com a indústria registrando o maior crescimento, de 4,0%, contra 0,6% do setor de serviços.

Quando confrontado com o mesmo período de 2008, o PIB do último trimestre do ano passado subiu 4,3% - destaque para o crescimento em serviços (4,6%) e indústria (4,0%), ante uma queda de 4,6% no setor agropecuário.

O cálculo do PIB é feito levando em conta o consumo das famílias, gastos governamentais, impostos, dados sobre exportações e importações e os investimentos realizados no País.

Confira a entrevista com Belluzzo:

Terra Magazine - O recuo no PIB era esperado?

Luiz Gonazaga Belluzzo - O choque no final de 2008 foi muito grande, e a contração da economia foi muito rápida, e isso se deu por contágio. A economia brasileira propriamente dita estava num período de expansão, crescendo 6%, o consumo crescendo 8%. Quando veio a crise internacional deu uma parada súbita que diminui o nível de atividade em 15% logo no primeiro trimestre (de 2009). Foi uma contração muito rápida determinada pela paralisia do crédito, principalmente para alguns rendimentos que têm muita importância na economia, como é o caso da indústria automobilística e particularmente o mercado de carros usados. Se esse mercado não roda, não há liquidez, você não consegue empurrar a produção de carros novos. Foi um susto enorme.

Mas o País ainda está bem na comparação com o resto do mundo?

Porque a recuperação foi muito rápida, porque o governo tomou medidas na área do crédito com a compra de carteiras, de criação do seguro de crédito, deu estímulo à compra de automóveis e outros bem duráveis. E você teve também um papel importante do colchão que foi formado embaixo pelas camadas de renda inferior que foram garantidas pelo Bolsa Família, pela política de salário mínimo e pelo crédito consignado.

Esse conjunto de políticas voltadas para o mercado interno amorteceu o impacto da crise?

Acabaram amortecendo, exatamente. O choque foi terrível, mas comparado com outras economias o Brasil se recuperou bem mais rápido. A economia já está numa trajetória de crescimento, de 5%, 6% para esse ano.

Um dado que chama a atenção é a queda de 4,6% agropecuária na comparação com o mesmo período 2008. Também não houve nenhum crescimento na comparação com o 3º trimestre de 2009. Por quê?

Isso tem em boa medida a ver com o câmbio, e também com alguns setores que sofreram mais com a contração doméstica nacional. As duas coisas juntas não ajudaram muito a agropecuária não.

No último trimestre de 2009 as exportações cresceram 3,6%, mas importações tiveral uma alta bem maior, de 11,4%...

Tem a ver com essa questão do câmbio também e com a rapidez da recuperação. Como o Brasil está crescendo, neste momento, acima da média mundial, isso por si só já faz com que as importações cresçam mais. Esse tipo de comportamento das exportações também é ajudado pelo câmbio valorizado. As duas coisas. Nossas exportações ainda cresceram bastante se compararmos com a Alemanha, por exemplo, onde elas caíram 6,7%. As exportações (no Brasil) cresceram bastante por causa da composição da pauta, que tem muitas commodities. E a China está bombando...

A China que compra muitas commodities do Brasil...

Eu estive vendo o crescimento da China e é uma coisa de louco. É impressionante. O investimento cresceu 27%, é um negócio de louco. Então nós somos puxados por essa questão da commodities, tem que levantar a mão pro céu e agradecer a China. Em compensação, as importações nós também devemos lamentar pela China (risos).

No mesmo período, a formação bruta de capital fixo, o chamado investimento, teve alta de 6,6%. Isso tem a ver com a importação de bens de capital, máquinas para aumentar a capacidade produtiva no Brasil?

Ninguém compra bens de capital porque é barato. Compram para proporcionar rendimento. Isso é uma coisa básica de teoria econômica. O bem de capital pode estar barato, mas se não há perspectiva de aumentar o rendimento com ele, você não vai comprá-lo. É claro que ser barato é melhor que ser caro, mas o investimento é sempre feito em relação às expectativas que você tem sobre o crescimento do seu mercado.

Sim...

Eu acho que o investimento por conta da manutenção do programa de investimentos da Petrobras, talvez do investimento público, tanto do governo central quanto dos Estados, e também porque o pessoal percebeu que o diabo não era tão feio. Eles começaram a recuperar o investimento que tinham paralisado abruptamente quando ocorreu a crise. Na verdade isso denota uma porta na continuidade do crescimento da economia."

FONTE: reportagem de Diego Salmen publicada no portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes.