sexta-feira, 8 de outubro de 2010

OS NOVOS JUDAS


Brizola Neto

“A coisa mais maravilhosa na verdade é que ela tem uma capacidade inacreditável de brotar, a despeito do quanto busquem escondê-la sob a propaganda. Aliás, nem é preciso que a escavemos, busquemos nas entrelinhas. Não, ela surge, luminosa, nos momentos decisivos, quando uma coletividade busca seus caminhos. O acessório, o ilusório, o modismo, tudo se dissolve e a realidade aparece.

Ontem (6), mesmo ainda meio baqueado, já havia dado para divisar a questão central contida na decisão que Nação irá tomar: se vamos continuar no caminho da afirmação soberana do Brasil – a qual passa, indispensavelmente, pelo desenvolvimento humano – ou se iremos retomar nossa mal-disfarçada sina de colônia ajoelhada ante as esquadras financeiras da ordem neoliberal, o nome atual do colonialismo e da dominação pelos países centrais.

Nem precisávamos tê-lo feito. Como uma força irresistível, neste momento em que divisaram, graças às explorações mais abjetas e ao papel confusionista da candidatura Marina Silva, a própria direita o evidencia.

A capa do Estadão de hoje (6), que reproduzo acima, mostra que a direita, agora, não quer enfrentar Dilma. Está se achando capaz de enfrentar o que representou o Governo Lula.

Discussões como esta do aborto já deram o que tinham que dar. São lateralidades que serviram apenas – repito, com a tosca colaboração de Marina Silva – para encobrir a questão central. A este tipo de história, ao contrário do que vêm dizendo muitos dirigentes que estão ainda com a cabeça no que aconteceu nos últimos dias do primeiro turno, tem de ser afastado de plano, com um único argumento: ” em oito anos de governo, aponte um ato de Lula ou Dilma neste sentido, ou qualquer coisa que se assemelhe a discriminação religiosa. Não tem, não é?

E vamos direto ao que está em jogo: um Brasil que não se ajoelha, que voltou a se desenvolver, a gerar empregos, a valorizar os salários, a defender da cobiça internacional as nossas riquezas sempre espoliadas e, agora, este imenso tesouro de petróleo encontrado no pré-sal.

Aliás, o genro de FHC e assessor de Serra, Davi Zylbernstein, já deixou claro que as novas leis do petróleo devem ser revistas. Revistas para que fim? Para abrir o petróleo do pré-sal às multinacionais, para negociar, em troca de migalhas, a riqueza que pode ser a redenção do povo brasileiro.

Os marqueteiros vão torcer o nariz, mas temos logo que colar na testa dessa gente o estigma que devem ostentar como traidores da pátria: entreguistas. Sim, pois é entreguistas o que eles são.

São, como o foi Fernando Henrique, verdadeiros Judas da nacionalidade. Aliás, quem diz é o próprio FHC, Serra é mais vendedor do que ele e foi quem mais pressionou pela venda da Vale e de suas imensas reservas de minério brasileiro.

Se querem discutir religião, tomem logo este nome como padrão: Judas, o que entregou seus irmãos e Cristo por trinta dinheiros. Os Judas de hoje são cheios de argumentos sofisticados, mas da parafernália midiática de que dispõe emerge, quando eles estão inflados de pretensão, a verdade cristalina sobre o que são.”

FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço” (http://www2.tijolaco.com/28543).

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