quinta-feira, 9 de junho de 2011

A NECESSÁRIA UNIÃO EM TORNO DE DILMA


Por Izaías Almada

“Neste último final de semana, almocei com o meu filho mais velho, o André, para comemorarmos o seu aniversário. Ele é ‘designer’ e trabalha num escritório de arquitetura e decoração de São Paulo. Conversa vai, conversa vem, entre uma boa perna de cabrito e uma caipirinha, ele me contou a história de uma sua nova colega de trabalho, que voltou há pouco tempo da Inglaterra. Em resumo, sua colega resolveu, após cinco anos na Europa, voltar para o Brasil e disse que, no momento, o nosso país é “a bola da vez” na Europa. Irônico, perguntei: Mas por quê? Samba, carnaval, futebol, corrupção? Não, disse o meu filho, ela diz que, por lá, o Brasil apresenta um novo perfil: um país que está vencendo a crise econômica, que apresenta bom índice de empregos formais, que apresenta índice de crescimento compatível com a sua economia, que tem liderança na América Latina sem ambições expansionistas etc. Um exemplo, afinal.

Curioso, pensei. Não é exatamente o quadro que o velho e insistente PIG, com seus jornalões, revistões e televisões nos querem fazer crer. Aliás, como já o fizeram durante os oito anos do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva. A mesma técnica do, sempre e quando puder, se criar fatos que possam ser explorados como perspectiva de crise política, encobrindo os fatos relevantes de programas do governo, como o novo “Minha Casa, Minha Vida”, o “Brasil sem Miséria” (programa que atinge a 16 milhões de brasileiros), a defesa da indústria naval e petroleira do país, entre outros. Ou seja, a velha e surrada tentativa de esconder a incompetência de governos anteriores como os de FHC, Collor, Sarney et caterva…

A presidenta Dilma Roussef tomou posse há seis meses para um mandato de quatro anos. Com grande experiência em gestão e administração dos negócios públicos, depois de passar pelo Ministério das Minas e Energia e pela Casa Civil da Presidência, Dilma –pelo seu próprio currículo– ainda precisava ser testada num dos aspectos mais sensíveis para quem exerce a presidência de uma nação: as questões políticas. Nessas, muitas vezes, políticos mais experientes já escorregaram. Formar um ministério, por exemplo, é questão complexa num quadro de democracia representativa, onde o interesse do país é obrigatoriamente permeado por interesses e alianças que se fazem para alcançar a vitória, no caso, diante de adversários inescrupulosos, conservadores e de viés nitidamente antinacionais.

Há compromisso da presidenta Dilma Roussef com o país e com os mais de 60 milhões de eleitores que a sufragaram. Esse compromisso passa pelo aprofundamento das políticas sociais de inclusão, pela defesa da indústria nacional, pela defesa da nossa soberania, pela integração sul-americana, pela autodeterminação dos povos, pela paz mundial, para ficarmos nos exemplos mais sonantes. Dilma Roussef honrará esses compromissos, o seu passado político aponta nessa direção.

No momento em que parte da esquerda e da direita brasileira trocam acusações e afagos inconscientes (para gáudio da imprensa venal e calhorda), no afã de transformar o secundário em principal, mesmo que o ator coadjuvante seja passível de críticas ou de elogios, conforme o ponto de vista de seus autores, o país real vê-se refém de um matraquear infindável de argumentações do lado mais pobre do fazer político: a acusação sem provas e a defesa sem convicções. A esperteza é inerente ao ser humano. O uso que se faz dela é que poderá diferenciar um canalha de um homem de bem. E canalhas os há à direita e à esquerda. Não são poucos os ‘Iagos’ que por aí transitam e que procuram um novo Otelo para a morte de Desdemona.

Preservar a presidenta Dilma Roussef é confiar na sua capacidade política de reverter situações que, porventura, escapem ao seu controle imediato ou a eventual assessoria equivocada. Ou, o que é pior, mas não menos verdadeiro, de não se perceber numa ou noutra questão os inúmeros interesses que circulam pelas salas do poder e que nem sempre são os interesses da maioria da população brasileira.

O Brasil, como todo adolescente, vive crise de crescimento. E de contestação da autoridade. Estamos no caminho de nos tornarmos de fato um país respeitado por todos. Os votos que depositamos nas urnas é sempre um voto de esperança e também de responsabilidade para quem os recebe. A convivência de Dilma Roussef com um governo exitoso como o de Lula da Silva irá sobressair mais dia, menos dia.

Os apaixonados debates que invadiram a blogosfera nos últimos cinco meses dão bem a idéia do que pode ser uma comunicação de ideias para um debate democrático, pois entre críticas e elogios ao novo governo, duras aquelas ou excessivamente encomiásticos esses, não macularam a comandante do processo. E ela precisará, com toda certeza, da compreensão e do apoio dos que, mesmo discordando de uma ou outra decisão, ainda confiam nas significativas promessas da sua campanha.

O confronto de opiniões nos chamados ‘blogs sujos’ (que é o melhor que se pode ler hoje em dia) vem mostrando, na prática, como se convive em democracia, numa demonstração inequívoca de como o velho jornalismo brasileiro se mostra cada dia mais ultrapassado e mofado, com jornais revistas e televisões repetindo-se uns aos outros, numa cantilena que começa a dar sono em anfetamina. A tal ponto, que basta alguém escrever umas páginas contra o ex-presidente e já ganha uma vaguinha na embolorada Academia Brasileira de Letras. No vizinho Peru, esse mesmo tipo de jornalismo dava como certa a vitória da candidata conservadora Keiko Fujimori como vencedora nas eleições presidenciais do último domingo. Foi o que se viu…

Junho começa bem. Ollanta Humala é o novo presidente peruano. Chávez veio ao Brasil para dar continuidade às suas reuniões trimestrais com o governo brasileiro, assim como fazia com o presidente Lula… e Dilma começa a mostrar a que veio.

A América Latina mostra, em definitivo, que não é mais a mesma dos desastrados governos neoliberais, cujos patrões e ideólogos renitentes do hemisfério norte lutam desesperadamente para encontrar uma solução para a crise econômica em que se meteram.”

FONTE: escrito por Izaías Almada, escritor, dramaturgo, autor –entre outros– do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos). Artigo publicado no blog “Escrivinhador”, do jornalista Rodrigo Vianna (http://www.rodrigovianna.com.br/colunas/reflexoes/a-necessaria-uniao-em-torno-de-dilma-roussef.html#more-8500) [imagem do Blog do Planalto adicionada por este blog].

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