sábado, 20 de outubro de 2012

CENTRO DE MATEMÁTICA BUSCA DIVERSIDADE

O matemático de origem peruana César Camacho, 69, posa para foto no IMPA, no Rio

IMPA, NO RIO DE JANEIRO, FAZ 60 ANOS COM POLÍTICA DE TRAZER MULHERES PARA SEUS QUADROS E ATRAIR DOAÇÕES PRIVADAS

Estrangeiros são um quarto da equipe do instituto, que também organiza olimpíadas escolares de matemática

Por Fernando Moraes

“O matemático César Camacho, 69, fala com orgulho da instituição que dirige desde 2003, o IMPA (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), mais importante centro de pesquisa de matemática da América Latina, que completa 60 anos na próxima segunda-feira, dia 15.

Nascido no Peru e naturalizado brasileiro, Camacho está no IMPA desde os anos 1970. Na entrevista abaixo, ele conta como o instituto criou um modelo "sui generis", que inclui buscar pesquisadores de fora do país, e o papel de doadores privados, e fala das dificuldades de trazer mais mulheres para a pesquisa em matemática.

Folha - Nesses 60 anos, quais foram os principais momentos da história do IMPA?

César Camacho - O IMPA nasceu em torno dos matemáticos Maurício Peixoto e Leopoldo Nachbin. Logo depois, agrega-se ao grupo Elon Lima, retornando do doutorado nos EUA.

Nos seus primeiros 15 anos, o instituto passou um pouco adormecido, despercebido. A maneira como esses três matemáticos recebiam seus salários seria inconcebível hoje. Um envelope com dinheiro e só. Nada de recibo, carteira de trabalho.

A partir do fim dos anos 1960, o IMPA passou a ter a possibilidade de contratar pessoas em número razoável e tornou-se lugar atrativo para alguém ter uma carreira de pesquisa.

--Como foi a passagem do instituto para o status de organização social?

Isso ocorreu em 2000. O Ministério da Ciência e Tecnologia havia oferecido esse modelo de administração para algumas instituições, dentre as quais o IMPA. O instituto se torna um órgão privado que estabelece um contrato de gestão com o governo federal. Cria-se um plano de metas que a instituição tem de cumprir para ter verbas.

Tais recursos são administrados pelo IMPA com liberdade muito ampla. Ao abrirmos nossos concursos internacionais, não temos obrigação de contratar ninguém, por exemplo, a não ser que encontremos o perfil que estamos procurando. Também não é obrigatório que os candidatos saibam falar português.

As aulas que um pesquisador dá aqui são dois cursos por ano, com carga horária de três horas por semana. Um professor universitário dificilmente dá menos de dez horas/aula semanais.

--O Brasil tem, ao mesmo tempo, prestígio na pesquisa matemática e níveis baixíssimos em testes educacionais de matemática básica. O IMPA faz algo para melhorar isso?

Esse contraste é porque a ciência brasileira é excelente e foi construída com base no mérito, enquanto a educação brasileira em nível escolar foge da classificação pelo mérito como o diabo da cruz.

O conselho da organização social, que contém maioria de membros de fora do IMPA, nos questionou sobre o papel do instituto na educação. Essa é a origem da “Olimpíada Brasileira de Matemática”, que coloca o mérito dentro da escola.

--O IMPA, nos últimos anos, vem recebendo doações de pessoas físicas. Como isso ocorreu?

Essas doações surgiram, inicialmente, de maneira espontânea. Não é que o IMPA estivesse precisando de dinheiro e tenha ido bater nas portas. A primeira se transformou na cátedra Armínio Fraga [por iniciativa do ex-presidente do Banco Central]. E houve outros movimentos.

--Por que tão poucas mulheres na história do IMPA?

De fato, há só uma pesquisadora no momento e houve outra no passado. No último concurso para vagas de pós-doutorado, dos 175 candidatos, que eu me lembre, havia só três mulheres. Ou seja, não depende só de nós.

Outro exemplo: na olimpíada de matemática temos três níveis, de acordo com a idade. No primeiro nível, ente os medalhistas de ouro, cerca de 25% são mulheres; no último nível apenas 9% recebem a medalha. Não sabemos explicar o fenômeno. Mas queremos mudá-lo. No último edital mundial que fizemos, para o programa de pós-doutorado, dissemos que o IMPA aprecia a diversidade em todas as suas formas e vê com muita boa vontade a candidatura de mulheres.”

FONTE: reportagem de Fernando Moraes na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/71500-centro-de-matematica-busca-diversidade.shtml).

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