quinta-feira, 14 de agosto de 2014

INDÚSTRIA NAVAL BRASILEIRA: JÁ SÃO 50 ESTALEIROS





Indústria Naval - 50 Estaleiros no Brasil

Obras de quatro estaleiros entram na reta final 

Por Maria Alice Rosa, no jornal "Valor"

"Quatro novos estaleiros estão na reta final de construção: "Oceana", em Santa Catarina; "EBR", no Rio Grande do Sul; "Jurong Aracruz", no Espírito Santo; e "Enseada", na Bahia. Com eles, o setor passa a contar com cerca de 50 estaleiros distribuídos de norte a sul do país, segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL). Há mais empreendimentos em fase de instalação, com previsão de abertura em médio ou longo prazos.

As novas indústrias, assim como projetos de ampliação de estaleiros já constituídos, são resultado dos investimentos que reergueram o parque naval do país nos últimos 12 anos para atender à demanda da Petrobras por plataformas, embarcações e equipamentos necessários à exploração do petróleo do pré-sal e para permitir o escoamento de crescente produção agrícola. Passado esse primeiro momento, o setor busca a consolidação de suas conquistas com tecnologia de ponta, qualificação de mão de obra e aumento da produtividade para se tornar competitivo no mercado global.

"A Petrobras atua no limite da tecnologia de prospecção em mar aberto, e nos poços mais profundos possíveis, o que significa que as embarcações fornecidas para suportar essas operações também precisam estar no limite do conhecimento. Esse é um dos nossos grandes desafios", afirma Luiz Maurício Portela, presidente da Companhia Brasileira de Offshore (CBO), adquirida no fim do ano passado pelos grupos "Vinci Partners" e o fundo "P2 Brasil" - parceria entre "Pátria Investimentos" e "Promon" -, que detêm o controle do estaleiro junto com a empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar). Portela cita o caso das embarcações de apoio ligadas a satélites, que se aproximam de plataformas sem encostar nelas - um exemplo de recurso tecnológico avançado que otimiza as operações.

O "Oceana", que ocupa uma área de 320 mil metros quadrados em Itajaí (SC), tem sua produção voltada para embarcações de apoio offshore de médio porte e possui capacidade para processar 15 mil toneladas de aço por ano. Segundo Portela, essa capacidade instalada equivale ao fornecimento de seis "platform supply vessels" (PSV) por ano. Hoje, o estaleiro tem em sua carteira de encomendas dois PSV e dois "anchor handling tug supply" (AHTS). "Nossas embarcações estão no estado da arte da tecnologia que existe hoje", afirma Portela. A conclusão das obras está prevista para agosto.

No início de julho, uma nova tecnologia aportou em Aracruz, no Espírito Santo, trazida do Japão pelo "Sembcorp Marine", grupo de Cingapura que está construindo o estaleiro "Jurong Aracruz" no local. É um guindaste flutuante gigante, de 140 metros de altura, 110 metros de comprimento, 46 metros de largura e quatro ganchos de 900 toneladas cada -, capaz de içar até 3,6 mil toneladas. O equipamento foi encomendado pelo "Sembcorp" a uma empresa japonesa para ser utilizado no Brasil, inicialmente na produção de sete sondas que o "Jurong Aracruz" vai produzir para a "Sete Brasil", empresa que tem contrato para fornecer 29 sondas para a exploração do pré-sal à Petrobras. "O guindaste tem bandeira brasileira e poderá ser utilizado para prestar serviços para outros estaleiros", diz a diretora institucional do "Jurong Aracruz", Luciana Sandri.

O estaleiro, cujo investimento é orçado em R$ 1 bilhão, terá capacidade para processar 4 mil toneladas mensais de aço e foi planejado com conceito integrado - fabrica todo o tipo de equipamento naval e atua também nos segmentos de transformação e reparo. O "Jurong" emprega cerca de 2,5 mil pessoas e, no pico da produção, prevista para agosto de 2016, deverá ter esse número ampliado para 5,4 mil vagas.

Segundo Luciana, os equipamentos terão conteúdo local entre 55% e 65%, privilegiando fornecedores de navipeças brasileiros. O "Jurong Aracruz" é primeiro estaleiro do Espírito Santo. "O projeto deverá provocar uma diversificação da indústria capaz de representar uma nova era para a economia local", afirma Luciana.

Para Portela, do "Oceana", a qualificação é um ponto crítico no processo de ressurgimento do parque naval nos últimos 15 anos. "O Brasil fez um projeto industrial antes de fazer um projeto educacional."

Ele conta que o "Oceana" criou um centro de treinamento que inclui grandes simuladores, cujos programas de capacitação podem durar meses antes de o profissional fazer seu primeiro embarque para o alto mar.

No "Jurong", apenas um dos programas de qualificação, realizado em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), recebeu US$ 4 milhões, segundo Luciana. Duas mil pessoas passaram por treinamento.

"É uma dificuldade, mas temos potencialidade grande, porque há anos são desenvolvidos projetos no país voltados para a capacitação no setor", diz Humberto Rangel, diretor de relações institucionais e de sustentabilidade da "Enseada Indústria Naval", citando o exemplo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (PROMINP), da Petrobras.

Maior projeto privado da Bahia, com investimentos de R$ 2,6 bilhões, o "Enseada" terá capacidade de processamento anual de 36 mil toneladas por turno de oito horas. Segundo Rangel, 75% das instalações estão prontas, incluindo o primeiro cais, e o estaleiro recebeu três navios. Um deles trouxe para o Brasil a primeira parte do guindaste Goliath, comprado do grupo finlandês Konecranes. O equipamento tem 150 metros de altura, e capacidade para içar 1,8 mil toneladas. O término da construção do empreendimento está previsto para 2015."



FONTE: escrito por Maria Alice Rosa, no jornal "Valor". Transcrito no site "DefesaNet" (http://www.defesanet.com.br/prosuper/noticia/16386/Industria-Naval---50-Estaleiros-no-Brasil/).

COMPLEMENTAÇÃO

Expansão do pré-sal fará indústria naval faturar US$ 17 bilhões por ano até 2020



Por Alana Gandra, da EBC

"A expansão da produção de petróleo no pré-sal dobrará para 20%, até 2020, a participação da indústria de petróleo e gás no Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país), e levará a indústria naval e offshore (exploração em alto mar) brasileira a faturar em torno de US$ 17 bilhões por ano no período. A informação foi dada à Agência Brasil pelo presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (ABENAV), Augusto Mendonça, que participou ontem (13) da "Marintec South America – 11ª Navalshore", no Rio de Janeiro.

É importante considerar que a indústria de petróleo e gás é de longa maturação. Quando você fala em abrir uma fronteira nova na área de petróleo, está falando em sete a dez anos para começar a produzir. A indústria do setor naval também é de longa maturação, porque trata de projetos que duram três a quatro anos para construção de cada unidade, mais um ano de engenharia”, ressaltou.

Daí, disse que a fotografia atual vislumbra um futuro promissor para a indústria naval e para o setor de petróleo no país, e adiantou: “O que garante tudo isso é o tamanho da reserva no pré-sal, que coloca o Brasil entre as cinco ou seis maiores reservas do mundo”. Mendonça disse que, enquanto o petróleo for uma fonte de energia importante, “nós vamos ter mercado e indústria”. Segundo ele, o petróleo responde por cerca de 95% da indústria naval nacional, e a maior parte está relacionada à exploração offshore.

O setor engloba três segmentos distintos: a fabricação de navios, a fabricação de embarcações de apoio à produção e a construção de plataformas de perfuração e produção. “Os sistemas são distintos, porque os estaleiros ou se dedicam a um ou a outro [segmento]”.

Segundo o presidente da ABENAV, os estaleiros instalados no Brasil utilizam processos modernos, com tecnologia e inovação. “A questão da tecnologia, para nós, está superada. Mas não é suficiente, porque 50% do custo vêm de fora, de fornecedores”, destacou. Por isso, a principal preocupação do setor é a cadeia de suprimentos, e o setor estimula a atração de indústrias produtoras estrangeiras, que podem atenuar esse problema, argumentou.

Augusto Mendonça disse que o grande desafio da indústria naval e offshore é a competitividade. “Temos que fazer com que a nossa indústria tenha competitividade internacional”, disse ele, e acrescentou que o volume de encomendas no Brasil é suficiente para desenvolver a indústria em base competitiva. “Ou seja, quando alguém, amanhã, pensar em comprar uma plataforma, com certeza vai querer comprar no Brasil”, destacou.

A carteira atual de encomendas dos estaleiros brasileiros inclui 373 embarcações. O dado importante, porém, segundo o presidente da Abenav, é que “estamos falando da construção, até 2020, de 90 plataformas de produção, que vão entrar em operação até 2025. Isso significa US$ 120 bilhões. É um número pequeno de unidades, mas tem valor agregado enorme para o país”. Admite também que o grande número de barcaças (142) na carteira sinaliza, mais à frente, que haverá grande ampliação na navegação fluvial do país. Embora as barcaças tenham pouco valor agregado, elas poderão impulsionar o crescimento do mercado, analisou. “É quase uma commodity [produto básico com cotação internacional, quase sempre para produtos agrícolas e minerais]”.

Mendonça disse que os estaleiros têm resolvido o problema de qualificação de mão de obra de fábrica com ajuda, muitas vezes, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). “Todos têm centros de treinamento”. A grande questão, admitiu, são os profissionais mais especializados, como técnicos e engenheiros. “É uma demanda cada dia maior. De um lado, você cresce o requisito e, de outro, a gente tem pouca formação”, ressaltou.

Em busca do desenvolvimento de mercado, da atração de investimentos e do intercâmbio tecnológico, a ABENAV firmou, durante a "Marintec", acordo de cooperação com a "Korea International Trade Association". “Nós estamos falando de competitividade, e a Coreia foi, e ainda é, um ícone na fabricação de navios”, disse ele, e lembrou que a Coreia desenvolveu boa cadeia de fornecedores, cujas empresas não vieram para o Brasil, ao contrário das companhias chinesas e japonesas. A ideia, destacou, é justamente promover a aproximação entre empresas brasileiras e coreanas, para que elas se instalem e fabriquem produtos no Brasil, com tecnologia da Coreia."


FONTE: reportagem de Alana Gandra, da EBC. Transcrita no site "DefesaNet"  (http://www.defesanet.com.br/naval/noticia/16406/Expansao-do-pre-sal-fara-industria-naval-faturar-US$-17-bilhoes-por-ano-ate-2020/).

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