MARCIO POCHMANN
O VIGOR DO OUTRO BRASIL SURGIDO DOS ANOS 2000
Por MARCIO POCHMANN, doutor em Ciência Econômica na UNICAMP (originalmente publicado na Rede Brasil Atual)
"A parte do país que não está nas principais regiões metropolitanas aumentou a participação na riqueza nacional de 46,4% em 1970 para 60%, em 2010. Mas esse Brasil menos desigual parece não agradar alguns.
O modelo de desenvolvimento urbano e industrial constituído a partir da Revolução de 1930 no Brasil caracterizou-se pelo movimento maior de centralização do emprego, renda e riqueza em poucos lugares do território nacional. Apesar de contar com mais de 5,5 mil municípios, apenas alguns emergiram identificados como locomotivas da expansão econômica nacional.
Isso porque, no início da década de 1970, os militares oficializaram com o conceito de região metropolitana um conjunto de municípios centralizados em torno de nove capitais principais do país, a saber: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O restante dos municípios excluído da definição de região metropolitana seria expressão do atraso e da desigualdade, que sem força própria se tornaria dependente de transferências do governo central.
O resultado disso foi a trajetória do fluxo imigratório que deslocou uma massa de trabalhadores do meio rural fundamentalmente para as regiões metropolitanas do país. Entre 1940 e 1980, por exemplo, a população localizada nas regiões metropolitanas passou de 16,8% do conjunto dos brasileiros para 29,2%, crescimento acumulado de 73,8% em somente 40 anos.
Ao mesmo tempo, a participação na produção nacional por parte das regiões metropolitanas subiu de cerca de um terço para quase 54% entre as décadas de 1940 e 1970. Um Brasil polarizado entre a modernidade de algumas cidades que se situavam em torno de poucas capitais a sustentar o núcleo dinâmico do desenvolvimento nacional e a parte restante representando o atraso passou a sofrer importante inflexão a partir de 1980.
A crise da dívida externa entre os anos de 1981 e 1983, bem como pelas medidas adotadas pelo último governo da ditadura (1964-1985), terminaram por romper o curso do projeto nacional desenvolvimentista estabelecido nos últimos 50 anos. As políticas neoliberais adotadas na década de 1990 colocaram uma pá de cal nas possibilidades de soerguimento do desenvolvimento nacional.
O resultado foi a regressão nas regiões metropolitanas concomitantemente com o resto do Brasil. De oitava economia do mundo em 1980, o País decresceu para o posto de 13ª no ano 2000 [PSDB/FHC], coincidindo com a expansão do desemprego que saltou de 1,8 milhão para 11,5 milhões no mesmo período de tempo.
Nos anos 2000, a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social ofereceu novo horizonte para a questão da desigualdade no território. Passou-se a assistir ao crescimento econômico descentralizado, por opção de políticas públicas de investimento e políticas de renda onde o Brasil encontrava-se esquecido por séculos.
O resultado, em pouco tempo, não tardou a se apresentar. De um lado, a estabilização dos habitantes nas regiões metropolitanas, que as manteve abaixo de 30% a participação relativa no total da população do país.
De outro lado, a alteração na composição da riqueza nacional segundo a localização territorial. No ano de 2010, por exemplo, o conjunto das regiões metropolitanas respondeu por 40% do produto nacional, enquanto em 1970 chegou a representar quase 54%.
A queda no peso relativo das regiões metropolitanas no produto nacional ocorreu principalmente em função do verificado nas duas principais. A região metropolitana do Rio de Janeiro perdeu 50% de sua participação relativa entre os anos de 1970 e 2010, ao passo que a de São Paulo decaiu 29,3% no mesmo período.
No sentido inverso, as regiões metropolitanas de Salvador (17,6%), Fortaleza (62,5%), Curitiba (78,6%) e Belo Horizonte (14,3%) aumentaram suas posições relativas na riqueza nacional. Belém manteve intacta sua participação relativa no produto nacional nos últimos 40 anos.
Se considerar a parte restante do país, excluída do conceito de região metropolitana, percebe-se o crescimento na participação da riqueza nacional de 46,4%, em 1970, para 60%, em 2010. Ou seja, aumento acumulado de 29,3% em 40 anos.
Em função disso, nota-se que as fontes do dinamismo nacional localizam-se cada vez mais na interior do Brasil, o que reduz o grau de polarização entre regiões metropolitanas e o resto do território nacional. A riqueza aumenta mais puxada pela força do outro Brasil, assim como a própria expansão de empregos e renda.
Um país menos desigual surge das transformações introduzidas fundamentalmente na década de 2000. Mas isso, contudo, parece não agradar alguns, que buscam, mesmo de forma não democrática, interromper a todo custo o governo que produziu o vigor do outro Brasil."
FONTE: escrito por MARCIO POCHMANN, doutor em Ciência Econômica na UNICAMP (originalmente publicado na Rede Brasil Atual). Transcrito no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/170146/O-vigor-do-outro-Brasil-surgido-dos-anos-2000.htm).
Por MARCIO POCHMANN, doutor em Ciência Econômica na UNICAMP (originalmente publicado na Rede Brasil Atual)
"A parte do país que não está nas principais regiões metropolitanas aumentou a participação na riqueza nacional de 46,4% em 1970 para 60%, em 2010. Mas esse Brasil menos desigual parece não agradar alguns.
O modelo de desenvolvimento urbano e industrial constituído a partir da Revolução de 1930 no Brasil caracterizou-se pelo movimento maior de centralização do emprego, renda e riqueza em poucos lugares do território nacional. Apesar de contar com mais de 5,5 mil municípios, apenas alguns emergiram identificados como locomotivas da expansão econômica nacional.
Isso porque, no início da década de 1970, os militares oficializaram com o conceito de região metropolitana um conjunto de municípios centralizados em torno de nove capitais principais do país, a saber: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O restante dos municípios excluído da definição de região metropolitana seria expressão do atraso e da desigualdade, que sem força própria se tornaria dependente de transferências do governo central.
O resultado disso foi a trajetória do fluxo imigratório que deslocou uma massa de trabalhadores do meio rural fundamentalmente para as regiões metropolitanas do país. Entre 1940 e 1980, por exemplo, a população localizada nas regiões metropolitanas passou de 16,8% do conjunto dos brasileiros para 29,2%, crescimento acumulado de 73,8% em somente 40 anos.
Ao mesmo tempo, a participação na produção nacional por parte das regiões metropolitanas subiu de cerca de um terço para quase 54% entre as décadas de 1940 e 1970. Um Brasil polarizado entre a modernidade de algumas cidades que se situavam em torno de poucas capitais a sustentar o núcleo dinâmico do desenvolvimento nacional e a parte restante representando o atraso passou a sofrer importante inflexão a partir de 1980.
A crise da dívida externa entre os anos de 1981 e 1983, bem como pelas medidas adotadas pelo último governo da ditadura (1964-1985), terminaram por romper o curso do projeto nacional desenvolvimentista estabelecido nos últimos 50 anos. As políticas neoliberais adotadas na década de 1990 colocaram uma pá de cal nas possibilidades de soerguimento do desenvolvimento nacional.
O resultado foi a regressão nas regiões metropolitanas concomitantemente com o resto do Brasil. De oitava economia do mundo em 1980, o País decresceu para o posto de 13ª no ano 2000 [PSDB/FHC], coincidindo com a expansão do desemprego que saltou de 1,8 milhão para 11,5 milhões no mesmo período de tempo.
Nos anos 2000, a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social ofereceu novo horizonte para a questão da desigualdade no território. Passou-se a assistir ao crescimento econômico descentralizado, por opção de políticas públicas de investimento e políticas de renda onde o Brasil encontrava-se esquecido por séculos.
O resultado, em pouco tempo, não tardou a se apresentar. De um lado, a estabilização dos habitantes nas regiões metropolitanas, que as manteve abaixo de 30% a participação relativa no total da população do país.
De outro lado, a alteração na composição da riqueza nacional segundo a localização territorial. No ano de 2010, por exemplo, o conjunto das regiões metropolitanas respondeu por 40% do produto nacional, enquanto em 1970 chegou a representar quase 54%.
A queda no peso relativo das regiões metropolitanas no produto nacional ocorreu principalmente em função do verificado nas duas principais. A região metropolitana do Rio de Janeiro perdeu 50% de sua participação relativa entre os anos de 1970 e 2010, ao passo que a de São Paulo decaiu 29,3% no mesmo período.
No sentido inverso, as regiões metropolitanas de Salvador (17,6%), Fortaleza (62,5%), Curitiba (78,6%) e Belo Horizonte (14,3%) aumentaram suas posições relativas na riqueza nacional. Belém manteve intacta sua participação relativa no produto nacional nos últimos 40 anos.
Se considerar a parte restante do país, excluída do conceito de região metropolitana, percebe-se o crescimento na participação da riqueza nacional de 46,4%, em 1970, para 60%, em 2010. Ou seja, aumento acumulado de 29,3% em 40 anos.
Em função disso, nota-se que as fontes do dinamismo nacional localizam-se cada vez mais na interior do Brasil, o que reduz o grau de polarização entre regiões metropolitanas e o resto do território nacional. A riqueza aumenta mais puxada pela força do outro Brasil, assim como a própria expansão de empregos e renda.
Um país menos desigual surge das transformações introduzidas fundamentalmente na década de 2000. Mas isso, contudo, parece não agradar alguns, que buscam, mesmo de forma não democrática, interromper a todo custo o governo que produziu o vigor do outro Brasil."
FONTE: escrito por MARCIO POCHMANN, doutor em Ciência Econômica na UNICAMP (originalmente publicado na Rede Brasil Atual). Transcrito no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/170146/O-vigor-do-outro-Brasil-surgido-dos-anos-2000.htm).
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