quarta-feira, 28 de abril de 2010
"FOLHA" SERRISTA CONFESSA: "SERRA DESAFINADO"
"Desafinado
Promessa de novo ministério, feita por José Serra na TV, não combina com defesa tucana de máquina estatal "enxuta"
Dada a pobreza de ideias [da oposição] que tem caracterizado a disputa presidencial até agora, chamam atenção declarações feitas pelo candidato tucano, José Serra, num programa televisivo de grande audiência popular.
O tema da segurança pública, priorizado com notória estridência na pauta do apresentador, ocupou boa parte da entrevista. Do ponto de vista retórico, Serra conseguiu equilibrar-se entre o recurso a um vocabulário de impacto ("pedófilo maldito", "crime covarde" etc.) e a reafirmação, bem-vinda naquelas circunstâncias, de seu compromisso com os direitos humanos.
No campo das propostas concretas, o peessedebista foi oportuno ao expressar seu inconformismo com algumas liberalidades do sistema penal brasileiro, que por exemplo assegura a condenados por crime hediondo, mesmo se reincidentes, o benefício da redução do seu tempo de encarceramento.
O ponto mais memorável da entrevista de José Serra, entretanto, corresponde a velho hábito das campanhas. A cada urgência da população, promete-se criar um novo órgão para cuidar especialmente do assunto.
Foi assim que o candidato tucano falou em constituir, caso eleito, um "Ministério da Segurança Pública" -que viria a somar-se, aliás, a uma pasta para portadores de deficiência, prometida poucos dias atrás.
Cabe perguntar de que modo o aumento de ministérios se concilia com o conceito de "Estado musculoso e enxuto", que o ex-governador defende para o país.
Não foram poucas as críticas da oposição ao excesso de ministérios no governo Lula. O caso mais célebre, o da pasta dedicada aos assuntos da Pesca, serviu como que para abreviar, [falsa e figurativamente], um fenômeno mais amplo na administração federal, o da multiplicação de cargos e empregos. Em 2003, eram 485 mil os funcionários civis do Executivo na ativa; passaram a perto de 553 mil em dezembro de 2009.
A proposta de novos ministérios certamente diminui a credibilidade de Serra para criticar situações desse tipo.
Credibilidade que se torna ainda menor, de resto, quando os olhos se voltam para o próprio governo paulista. De 2002 a 2009, as administrações tucanas também aumentaram o seu quadro administrativo, ainda que em percentual menor do que o governo federal.
Convidado pelo apresentador do programa a cantar uma canção de sua preferência, Serra não teve como recusar-se; arriscou o "Chega de Saudade", de Tom Jobim. Ao sair do estúdio, entoou ainda "Desafinado", do mesmo compositor.
Duas canções apropriadas ao contexto. Interessado em não se mostrar nostálgico do governo Fernando Henrique Cardoso -que efetuou "drástica redução na máquina pública" [sic!]-, Serra promete novos ministérios e Estado enxuto ao mesmo tempo. Objetivos que, se não são incompatíveis em tese, cercam de dissonância as mensagens do tucano.
[No governo FHC/PSDB/DEM, propagandeava-se que havia o "enxugamento do Estado", "drástica redução na máquina pública", a redução do Estado Brasileiro "ao mínimo" (o objetivo oculto era assim tornar o Brasil fraco e mais vulnerável e submisso ao grande poder dos EUA e demais potências). Na realidade, o que houve foi a gigantesca e dispendiosa transferência (sem licitação) do poder do Estado para ONGs, em grande parte defensoras dos interesses estrangeiros. Somando-se os integrantes brasileiros e estrangeiros daquelas custosas ONGs, o que houve foi grande inchaço e aumento na despesa com a "máquina pública"].
FONTE: editorial de hoje (28/04) do jornal (do PSDB?) "Folha de São Paulo" [título, imagem e trechos entre colchetes colocados por este blog democracia&política]
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