terça-feira, 27 de abril de 2010

"MONOCLE": QUESTÕES INTERESSANTES SOBRE A DIPLOMACIA BRASILEIRA


"Monocle": Questões interessantes sobre a diplomacia brasileira

por Luiz Carlos Azenha

A revista Monocle traz um artigo interessante sobre o papel do Itamaraty no mundo.

Com um certo exagero, diz que a diplomacia do verde-amarelo está substituindo a do vermelho-azul-e-branco. Se considerarmos que os Estados Unidos estão muito ocupados com duas guerras e meia (Iraque, Afeganistão e Paquistão) e o Brasil ampliou rapidamente sua presença diplomática e seu peso relativo no mundo (estou devendo um post para vocês sobre o papel que a Embrapa está jogando na África), quem sabe um dia… Seja como for, a Monocle decidiu vir ao Brasil, conhecer de perto o Itamaraty.

E levantou questões muitos interessantes na reportagem, que saiu na capa sob o título “A ascensão de Brasília: afiando a política externa do Brasil”.

Ao definir o Itamaraty como “ministério do Sol”, a revista pergunta: “Uma rede de embaixadas em rápida expansão e o uso inteligente da cultura significam que o Brasil faz amigos em todo o mundo. É só a tentativa de conquistar um assento no Conselho de Segurança ou uma nação emergente tentando mudar a ordem mundial?”.

Um outro trecho que me chamou a atenção diz respeito à opinião de um analista norte-americano que diz que existem obstáculos no caminho do Itamaraty, dentre os quais a dúvida sobre o que vai acontecer depois que Lula deixar o poder, o fato de que diplomacia forte depende de economia forte e, segundo o analista, o medo dos vizinhos do Brasil de que os Estados Unidos se retirem da região.

“Eles querem multiplicar suas opções, não querem ficar sujeitos ao poder do Brasil”, diz ele.

Aqui eu acho que o analista traz um preconceito de origem: ele acha que o Brasil age em relação aos vizinhos da mesma forma que os Estados Unidos sempre agiram. Ou será que ele está certo? Quantos golpes o Brasil patrocinou na vizinhança?

Aliás, na região fronteiriça de paises como o Paraguai, a Bolívia e o Uruguai, especialmente, o ressentimento contra a penetração cultural brasileira existe.

Este tema me fascina especialmente agora, depois que fiz várias viagens à África e li vários livros sobre a presença chinesa na África, dentre os quais destaco China Into Africa, organizado por Robert Rotberg, e China Safari, de Serge Michel e Michel Beuret.

Diante das acusações de que praticam neocolonialismo em território africano (de onde a China importa hoje mais de 15% de todo o petróleo que consome), os chineses respondem com grandes obras públicas de impacto social e uma leva de mercadorias baratas que permitem a milhões de africanos, muitos dos quais dependentes da agricultura, entrarem no mercado de consumo.

Questionados por europeus e pelos Estados Unidos, especialmente pelo apoio a regimes como o do Sudão e do Zimbábue, os chineses remetem à história do colonialismo e argumentam: embora os chineses tenham chegado muito cedo à África, através do Índico, nunca estiveram aqui para ocupar território, escravizar gente ou impor sua cultura.

Independentemente de considerar se o argumento é válido ou não, trata-se da versão chinesa da “diplomacia cultural”, “entre iguais”.

Os chineses, por seu tamanho específico, podem se dar ao luxo de exercê-la na África.

Ao se projetar no mundo, o Brasil deve à vizinhança um cuidado muito especial. No curso da campanha eleitoral, os candidatos devem ter cuidado para não se deixar levar por ideias alopradas, daqueles que:

1. Por paixão política, deixam de reconhecer o novo protagonismo brasileiro no mundo;

2. Por paixão ideológica, deixam de reconhecer que a posição brasileira num mundo multipolar requer a finesse histórica do Itamaraty e a calibragem das relações com os Estados Unidos para usá-las em nosso favor quando for do interesse nacional;

3. Por servilismo, querem saber antes o que pensa Washington;

4. Por ignorância, desprezam 900 milhões de consumidores na África (leiam Africa Rising, do professor Vijay Mahajan, que mostra como grandes empresas redesenharam seus produtos para se expandir lá) ou o fato de que o centro do mundo, ainda que lentamente, se desloca para a Ásia."

FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha e publicado em seu portal "Viomundo".

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