terça-feira, 6 de julho de 2010
PARA ZELAYA, POSIÇÃO DO BRASIL SOBRE HONDURAS EVITA ABERTURA DE PRECEDENTE
“O ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya ressaltou a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o golpe de Estado que o destituiu um dia depois de o governo brasileiro reiterar sua posição em relação ao caso.
Na semana em que o golpe contra o então mandatário constitucional hondurenho completa um ano, Zelaya explicou que Lula, assim como os demais presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), quer que "não nos aconteça o mesmo do século 20."
"Que neste novo século não se inicie este turbilhão fascista dos golpes militares promovidos por interesse geopolítico e comercial da potência do norte, os Estados Unidos", rebateu o ex-líder do país centro-americano, que concedeu a entrevista por e-mail a fim de não colocar em risco seu asilo na República Dominicana.
Zelaya partiu para o exílio após um acordo entre o mandatário dominicano, Leonel Fernández, e o atual chefe de governo de Honduras, Porfirio Lobo, que venceu as eleições realizadas durante o regime de fato e por isso não tem sua administração reconhecida por parte da comunidade internacional -- inclusive a maioria dos membros da Unasul, liderados por Lula.
REINTEGRAÇÃO NA OEA
Ontem, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, apontou que a reintegração de Honduras à Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade da qual a nação foi suspensa após a ação contra o regime democrático que instaurou o governo de facto de Roberto Micheletti, dependeria da anistia do ex-presidente.
A reincorporação do país centro-americano à OEA continua a ser rechaçada por nações como Venezuela, Equador e Argentina, além do Brasil, ainda que outros governos da região -- como Peru e Colômbia -- defendam a iniciativa.
Garcia relembrou que na última assembleia geral do organismo muitos dos presentes concluíram que "não foram reunidas as condições" para a reintegração, já que "todos foram anistiados em Honduras, inclusive os golpistas, menos o presidente Zelaya", o que seria "imprescindível".
SICA
Também os países da América Central -- reunidos no Sistema de Integração Centro-Americano (SICA) -- não conseguiram chegar a um consenso sobre o tema. Embora já tenham reconhecido o governo de Lobo, com exceção da Nicarágua, em encontro realizado entre terça-feira e quarta-feira no Panamá os líderes da região terminaram os debates sem um posicionamento comum sobre o tema.
Zelaya também fez elogios a Lula, definido por ele como um "patriota americano de primeira qualidade" e "o melhor que poderia acontecer ao Brasil e à América do Sul nos últimos cem anos".
"Suas democráticas e progressistas posições obedecem a sua consciência de classe e seu conhecimento da realidade de nossos povos explorados da América Latina", exaltou.
Questionado sobre quais seriam suas reivindicações atuais, o ex-mandatário assegurou não necessitar de "reconhecimento" e garantiu não trabalhar por isso. "Sou humanista cristão. Não pratico o hedonismo nem temo a morte", declarou.
Ele também disse não se arrepender de ter "enfrentado os Estados Unidos e a oligarquia midiática e econômica de Honduras", e que está "pagando um alto preço por isso".
"Tenho confiança que será retificado e um dia terminará o apartheid, que já tem vários séculos em Honduras, será buscada e então se terá a reconciliação nacional", acrescentou Zelaya, que atualmente ocupa seu tempo escrevendo um livro sobre democracia e organizando uma fundação.”
FONTE: reportagem de Camila Brandalise e Caroline Mazzonetto, da agência italiana de notícias ANSA (Agenzia Nazionale Stampa Associata), publicada no site “Folha.Com”.
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