segunda-feira, 11 de julho de 2011

A “BOA” DÍVIDA EXTERNA


Por Brizola Neto

“As críticas que aqui se faz às altas taxas de juros praticadas pelo Brasil não se confundem com uma crítica aos propósitos da equipe econômica deste governo.

Ninguém está na pele de Guido Mantega para saber o quanto são fortes as pressões que sofre.

E pressões que estão fora de seu controle, tanto que é sintomático que ele tenha dito que, mais que as eventuais pressões inflacionárias –basicamente internas– o que mais lhe tira o sono são as pressões cambiais.

É correta a afirmação do ministro de que a apreciação do real, provocada pela enxurrada de dólares, é motivo maior de “perder o sono” que a suposta onda inflacionária interna.

Por mais que tenhamos dado um salto no mercado interno, nossa economia depende, em muito, de duas condições: o preço dos produtos primários –as tais “commodities”- e dos investimentos externos, pois aqui somente o Estado tem “cacife” para investir pesado, além das próprias empresas estrangeiras ou de suas controladas nacionais, porque as poucas grandes empresas nacionais ou foram vendidas ou se abriram para o capital estrangeiro.

Ontem, o Banco Central fez um “teste” de captação de recursos externos. Lançou ‘letras da República’, em dólar e com dez anos de prazo, a juros muito mais baixos que os pagos aqui pelas ‘letras do Tesouro’: 4,2% ao ano. E, apesar de toda a “onda” dos últimos dias da imprensa internacional, a oferta –pequena para esse tipo de operação, de US$ 500 milhões– a aceitação dos papéis foi imediata.

Aqui, como se sabe, a taxa é de 12,25% e passará, com certeza, a 12,5%.

Portanto, a venda de títulos brasileiros no mercado interno não é, essencialmente, para financiar o Estado, mas para retirar liquidez (moeda nacional) de circulação.

Os bancos e investidores estrangeiros estão jogando pesado na valorização da moeda brasileira frente ao dólar.

Os números que ontem se apontou aqui, de movimentação de câmbio, ao lado dos dados divulgados (08/07) na ‘Folha’, quantificam o tamanho desse movimento especulativo. Os contratos de “venda” futura de dólar passaram de 222.175 em julho de 2010 para 241.756 em janeiro de 2011 e chegaram 286.539 no início deste mês, considerando apenas os investidores não residentes no Brasil. Como cada contrato representa U$ 50 mil, isso quer dizer US$ 14,5 bilhões, US$ 3,2 bilhões a mais que há um ano. Se somarmos a carteira “vendida” em dólar dos bancos, chega a US$ 28 bilhões. E ainda há a das empresas que tomaram empréstimo em dólar e investidores nacionais, o que permite dizer que deve haver uma “aposta” de perto de US$ 40 bilhões na mesa de jogo cambial.

Toda esta montanha de dinheiro tem liquidez imediata. Somente 15% do valor desses contratos tem de ser depositado como garantia, o que facilita ainda mais a sua escolha como forma de especulação, pois não exige o desembolso imediato dos recursos, porque podem seguir aplicados em outras modalidades de renda, com taxas maiores que as da variação cambial e aos “prêmios” em juros –mais baixos– dessa modalidade de aplicação financeira.

Se você achou muito técnica e chata essa explicação, perdoe. Mas é importante que todos nós comecemos a ver porque é que a “guerra cambial” a que se referiu o ministro é, sem trocadilho, real. Ou que tomar dívida de governo lá fora é ruim, quando aqui dentro é muito pior. E como é superficial achar sempre bom que a nossa moeda de valorize, porque isso vai diminuir os preços internos.

Economia pode –e como deve!– ser tratada com simplicidade, sem aquele economês que só serve para fazer com que a população seja passada na conversa e aceite políticas prejudiciais ao país. Mas sem simplismo, porque isso faz a gente, sem querer, jogar ao lado do inimigo.”

FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “tijolaço”  (http://www.tijolaco.com/a-boa-divida-externa/).

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