sábado, 30 de julho de 2011

CIÊNCIA PARA O BRASIL

Laboratório Nacional de Luz Sincrotron - Campinas - SP - Brasil


Por Alaor Chaves

A expansão do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron alavancará importantes tecnologias, e quase 40% dos gastos retornarão ao Tesouro

Os cientistas brasileiros têm demonstrado singular atavismo pelas colaborações científicas internacionais. Isso tem sido um dos obstáculos para que nossa ciência atinja a maioridade e também se torne agente propulsor do desenvolvimento do país.

O volume da nossa produção científica tem crescido rapidamente, mas a elevação da sua qualidade não tem tido o mesmo vigor.

Reconhecemos a necessidade de dar salto de qualidade, mas temos sido lerdos na adoção das políticas indispensáveis para esse salto. Os países com sucesso em desenvolver uma ciência tardia (ex-URSS, Japão, Coreia, China) praticaram por longo tempo alto grau de introversão científica.

Empenharam-se na construção de ciência autônoma, com olhos atentos aos interesses nacionais, e somente depois de se tornarem competitivos se abriram para colaboração mais intensa com o exterior. Nós temos trilhado o caminho inverso.

No Brasil, temos exemplos emblemáticos do sucesso de programas em ciência e tecnologia perseguidos de forma autônoma.

Após longo insucesso com práticas agrícolas importadas, o Brasil decidiu seguir seu próprio caminho, e para isso criou a EMBRAPA.

Hoje, nossa técnica agropecuária é a que avança mais rapidamente em todo o mundo. No caso da produção de etanol de cana, nem tínhamos com quem colaborar; com isso, desenvolvemos para o setor tecnologia sem rival.

O Brasil tem colaborado em projetos internacionais para a "big science", o que requer equipamento muito dispendioso. Até o momento, temos feito parcerias que dão aos nossos pesquisadores acesso a boa infraestrutura sem dispêndios muito elevados.

Neste ano, o Ministério da Ciência e Tecnologia assinou acordos de colaboração com o consórcio europeu responsável pelo ESO (European Southern Observatory) e com o CERN, consórcio dono do maior acelerador de partículas no mundo, que mudam a escala de nossos gastos nesse tipo de colaborações.

Somente como taxa de ingresso no ESO, pagaremos 130 milhões de euros. Ainda nesta década, seremos, provavelmente, o seu maior financiador. Pelo acordo com o CERN, nossa contribuição inicial será de US$ 15 milhões/ano. Mas, até 2020, talvez o Brasil também se torne o seu maior financiador. Generosamente, subsidiaremos a ciência europeia.

Há anos temos discutido um ótimo projeto 100% brasileiro em "big science", a expansão do ‘Laboratório Nacional de Luz Síncrotron’. Seu custo será de R$ 360 milhões. O empreendimento alavancará várias tecnologias importantes. Como os gastos serão realizados no Brasil, quase 40% deles retornarão ao Tesouro na forma de impostos.

A comunidade de usuários do Laboratório já é mais de dez vezes a dos potenciais usuários do ESO ou do CERN, e abrange biologia, química, física, ciência de materiais, nanociência e pesquisa industrial.

O impacto do Laboratório em nossa ciência e tecnologia será muito maior que o dos projetos aprovados [ESO/CERN]. Mas o Ministério da Ciência e Tecnologia o considera muito caro. Nenhum país teve destaque na área com esse caminho.”

FONTE: escrito por Alaor Chaves, físico, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Publicado na Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2507201108.htm) [imagem do Google adicionada por este blog].

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