sábado, 23 de julho de 2011
OS ÔNIBUS ESPACIAIS FORAM UM FRACASSO?
A FAVOR
"VOOS ESPACIAIS PASSARAM A SER PARTE DA VIDA MODERNA
Por Salvador Nogueira
Há duas medidas para o sucesso dos ônibus espaciais. Se o critério for o que a NASA prometeu que eles fariam antes de projetá-los, o resultado não é dos melhores.
Quando a agência "vendeu" a ideia, na década de 70, pensava em realizar 50 voos por ano, baratear o acesso ao espaço e aumentar os níveis de segurança.
Não é preciso ser historiador para saber que nada disso aconteceu. Nunca houve uma nave tão perigosa, cara e difícil de lançar. O número máximo de lançamentos por ano? Nove, em 1985, um ano antes do acidente com a Challenger -a primeira das duas tragédias em três décadas.
Mas se adotarmos outro critério -o que os ônibus de fato conseguiram realizar-, a imagem que fica é a de um estrondoso sucesso.
Nunca houve uma máquina de voar mais complexa, e o comportamento dos pilotos acerca de sua sofisticação beira a adoração religiosa.
Os ônibus espaciais -e a capacidade que eles proporcionaram de capturar satélites em órbita- são responsáveis pela mais bem-sucedida espaçonave já lançada: o Telescópio Espacial Hubble.
Graças aos ônibus, os engenheiros puderam projetá-lo de forma a ser atualizável, prolongando sua vida útil e proporcionando mais revelações sobre o Universo.
Além disso, a capacidade de reparos salvou a NASA de um embaraço, quando foi descoberto que o espelho do Hubble tinha uma deformação que o tornava míope.
Não fosse a capacidade de levar astronautas até lá para o conserto, o satélite já seria, há muito tempo, lixo espacial.
Tudo isso para não falar da Estação Espacial Internacional [ISS]. Muito mais complexa que a velha estação russa Mir, ela não poderia ter sido construída sem os ônibus.
E se agora se fala em espaçonaves desenvolvidas pela iniciativa privada como a bola da vez, vale lembrar que, se não houvesse as demandas geradas pela estação [ISS], não haveria mercado para elas.
É inegável que um dos objetivos originais do programa foi atingido: os voos espaciais passaram a ser vistos como rotina, parte integrante da vida na sociedade moderna.
Talvez tenha sido esse o maior "pecado". Com a sensação de que os ônibus eram mais que veículos experimentais, ninguém se preparou para encarar os perigos inerentes ao voo espacial -em cada missão, a tripulação está disposta a dar a vida pela conquista do cosmos.”
FONTE: escrito por Salvador Nogueira, na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2207201103.htm).
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CONTRA
ÔNIBUS SÃO UM DOS FRACASSOS DA HISTÓRIA DA TECNOLOGIA
Por Ricardo Bonalume Neto
“Os ônibus espaciais merecem lugar de honra entre os mais grandiosos fracassos da história da tecnologia. Não é apenas pelo fato de que explodiram dois dos cinco construídos capazes de ir ao espaço, um índice absurdo; o projeto já nasceu falho e foi ficando cada vez pior.
A ideia original na década de 1970 era produzir um veículo espacial reutilizável. Falava-se mesmo em uma frota realizando um voo por semana. Nos 30 anos de utilização, isso teria significado cerca de 1.500 voos. Foram apenas 135.
E nem eram tão reutilizáveis assim. O enorme tanque central de combustível e os dois foguetes propulsores eram descartáveis. A camada de proteção térmica tinha que ser praticamente reconstruída depois de cada voo.
A corrida espacial era parte importante da Guerra Fria entre os EUA e a finada União Soviética. A tecnologia para construir foguetes espaciais e mísseis balísticos transportando armas nucleares é basicamente a mesma. Depois do susto inicial de ver os soviéticos lançarem o primeiro satélite artificial e colocarem o primeiro homem em órbita da Terra, os EUA venceram a corrida para ter o primeiro homem caminhando na Lua.
Os voos espaciais tripulados têm mais valor de prestígio político do que valor científico. Paralelamente, sondas não tripuladas e satélites revolucionavam o conhecimento sobre o Universo e a própria Terra. O mundo hoje é inconcebível sem satélites de comunicação.
A NASA queria criar uma base na Lua e fazer voos tripulados até Marte. Mas o entusiasmo da população e dos políticos com voos foi minguando. Os ônibus espaciais e suas viagenzinhas de uma semana em órbita baixa não tinham o mesmo charme de uma missão Apollo.
A NASA usou expedientes populistas para chamar atenção. Levou congressistas ao espaço, astronautas de outros países e até mesmo uma professora (que explodiu junto com a 'Challenger').
E cada voo custava caro: há quem estime em US$ 1,5 bilhão cada um. O programa também desestimulou a produção americana de foguetes descartáveis, dando estímulo a europeus e soviéticos tomarem esse mercado.
Hoje, os americanos precisam de carona dos russos para irem à estação espacial [ISS] que é, na maior parte, americana -outro projeto, caro, que pouco rendeu para a ciência e que, no fundo, existe porque era preciso um lugar para os "shuttles" terem aonde ir...”
FONTE: escrito por Ricardo Bonalume Neto, na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2207201104.htm)
[imagens do Google adicionadas por este blog].
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