quinta-feira, 21 de julho de 2011
A ENTREVISTA COM O MST CENSURADA PELO “O GLOBO”
DENÚNCIA: A RESPOSTA DO MST QUE A ‘GLOBO’ NÃO PUBLICOU
“Por que a população não sai às ruas contra a corrupção? O jornal ‘O Globo’ publicou uma reportagem sobre o tema no domingo. Para fazer a matéria, a emissora entrevistou, entre outros líderes de movimentos, a ‘Coordenação Nacional do MST’, mas as respostas dadas não foram aproveitadas. Por que será?
Por Gustavo Belic Cherubine
A seguir, leia as respostas da integrante da ‘Coordenação Nacional do MST’, Marina dos Santos, que não saíram em ‘O Globo’:
-Globo: Por que o Brasil não sai às ruas contra a corrupção?
MST: Arrisco uma tentativa de responder essa pergunta ampliando e diversificando o questionamento: por que o Brasil não sai às ruas para as questões políticas que definem os rumos do nosso país? O povo não saiu às ruas para protestar contra as privatizações –privataria– e a corrupção existente no governo FHC. Os casos foram numerosos -tanto é que substituiu-se o Procurador Geral da Republica pela figura do “Engavetador Geral da República”.
Não saiu às ruas quando o governo Lula liberou o plantio de sementes transgênicas, criou facilidades para o comércio de agrotóxicos e deu continuidade a uma política econômica que assegura lucros milionários ao sistema financeiro.
Os que querem que o povo vá as ruas para protestar contra o atual governo federal –ignorando a corrupção que viceja nos ninhos do tucanato- também querem ver o povo nas ruas, praças e campo fazendo política? Estão dispostos a chamar o povo para ir às ruas para exigir Reforma Agrária e Urbana, democratização dos meios de comunicação e a estatização do sistema financeiro?
O povo não é bobo. Não irá às ruas para atender ao chamado de alguns setores das elites porque sabe que a corrupção está entranhada na burguesia brasileira. Basta pedir a apuração e punição dos corruptores do setor privado junto ao estatal para que as vozes que se dizem combater a corrupção diminua, sensivelmente, em quantidade e intensidade.
-Globo: Por que não vemos indignação contra a corrupção?
MST: Há indignação sim. Mas essa indignação está, praticamente, restrita à esfera individual, pessoal, de cada brasileiro. O poderio dos aparatos ideológicos do sistema e as políticas governamentais de cooptação, perseguição e repressão aos movimentos sociais, intensificadas nos governos neoliberais, fragilizaram os setores organizados da sociedade que tinham a capacidade de aglutinar a canalizar para as mobilizações populares as insatisfações que residem na esfera individual.
Esse cenário mudará. E povo voltará a fazer política nas ruas e, inclusive, para combater todas as práticas de corrupção, seja de que governo for. Quando isso ocorrer, alguns que querem ver o povo nas ruas agora, assustados, usarão seus azedos blogs para exigir que o povo seja tirado das ruas.
-Globo: As multidões vão às ruas pela marcha da maconha, MST, Parada Gay...e por que não contra a corrupção?
MST: Porque é preciso ter credibilidade junto ao povo para se fazer um chamamento popular. Ter o monopólio da mídia não é suficiente para determinar a vontade e ação do povo. Se fosse assim, os tucanos não perderiam uma eleição, o presidente Hugo Chávez não conseguiria mobilizar a multidão dos pobres em seu país e o governo Lula não terminaria seus dois mandatos com índices superiores a 80% de aprovação popular.
Os conluios de grupos partidário-políticos com a mídia, marcantes na legislação passada de Estados importantes -como o de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul- mostraram-se eficazes para sufocar as denúncias de corrupção naqueles governos. Mas foram ineficazes na tentativa de que o povo não tomasse conhecimento da existência da corrupção. Logo, a credibilidade de ambos, mídia e políticos, ficou abalada.
-Globo: A sensação é de impunidade?
MST: Sim, há uma sensação de impunidade. Alguns bancos já foram condenados a devolver milhões de reais porque cobraram ilegalmente taxas dos seus usuários. Isso não é uma espécie de roubo? Além da devolução do dinheiro, os responsáveis não deveriam responder criminalmente? Já pensou se a moda pegar: o assaltante é preso já na saída do banco, e tudo se resolve com a devolução do dinheiro roubado...
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em recente entrevista à ‘Revista Piauí’, disse abertamente: “em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.(...) Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no ‘Jornal Nacional’.”
Nada sintetiza melhor o sentimento de impunidade que sentem as elites brasileiras. Não temem e sentem um profundo desrespeito pelas instituições públicas. Teme, apenas, o poder de outro grupo privado com o qual mantêm estreitos vínculos, necessários para manter o controle sobre o futebol brasileiro.
São fatos como esses, dos bancos e do presidente da CBF –por coincidência, um dos bancos condenados a devolver o dinheiro dos usuários também financia a CBF- que acabam naturalizando a impunidade junto a população.”
FONTE: respostas da integrante da ‘Coordenação Nacional do MST’, Marina dos Santos, ao jornal “O Globo”, que censurou a reportagem, não a publicando. Reportagem de Gustavo Belic Cherubine reproduzida no blog de Luís Nassif e transcrita no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=159241&id_secao=6) [imagem do Google adicionada por este blog].
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