quinta-feira, 28 de julho de 2011
GOVERNO REAGE AOS DRIBLES DO MERCADO
GOVERNO REAGE AOS DRIBLES DO MERCADO E PODERÁ TAXAR EM 25% AS OPERAÇÕES ESPECULATIVAS COM DÓLAR
“Volumes tsunâmicos de capitais continuam a ingressar na economia brasileira por todos os poros. O governo dificultou alguns, outros se abriram. O governo anunciou um IOF de [até] 25% -antes era de 6%- sobre operações com derivativos que reúnem apostas especulativas sobre a cotação futura do dólar.
É uma tentativa indireta de conter um atalho encontrado pelo mercado para contornar as medidas disciplinadoras tomadas anteriormente nessa área. Um desses atalhos é o crédito intercompanhias. Fluxos enviados das matrizes para filiais brasileiras -mas também de filiais brasileiras para o departamento financeiro da sede- inundam o mercado e derretem a cotação do dólar, que, na 3ª feira (26) recuou ao nível mais baixo em 12 anos.
A operação intercompanhias ajuda a maquiar em investimento as operações de ‘carry trade’. Ou seja, o ingresso de recurso tomado lá fora a juro zero para a engorda rápida no pasto rentista mais nutritivo do mundo, a juro de 6,8% reais ao ano.
A avalanche impulsiona as importações com dois efeitos contraditórios: arrefece a inflação com o ingresso de mercadoria barata na economia, mas transfere emprego e produção para o exterior. É um ‘corner’ estratégico para o qual não existe resposta estritamente técnica. No fundo, trata-se de escolha sobre a sociedade que se quer construir no Brasil.
Esta semana, o empresário Jorge Gerdau, de cujas convicções conservadoras não se deve duvidar, defendeu abertamente limites ao ingresso de capital externo.
Há 15 dias, metalúrgicos do ABC fizeram uma greve inédita, cuja palavra de ordem era "contra a desindustrialização". Leia-se, contra o desemprego e baixos salários.
Alguns economistas de esquerda mostram-se céticos. Acham que o país perdeu o ‘timming’ para agir na medida em que permitiu valorização cambial tão grande. Reverter a roda agora trará custos e riscos -inflacionários, por exemplo- proporcionais ao exagero registrado em sentido contrário.
Cabe à política, portanto, encontrar os contrapesos de que se ressente a lógica econômica estrita. No vácuo, o rentismo dará as cartas. Uma opção seria uma ofensiva propositiva de sindicatos e empresários sobre o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro. A desordem cambial reflete desarranjo mais amplo nos preços básicos da economia -entre os quais a taxa de juros se sobressai como um aspirador que suga recursos ao rentismo, em detrimento de outras prioridades. Reordenar essa equação requer negociação política mais ampla. O antídoto ao rebote da inflação, por exemplo -ameaça embutida no caso de um controle cambial que encareça subitamente as importações- está na repactuação das bases do crescimento. Na equação ortodoxa, não tem saída: é desindustrialização ou inflação.”
FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior” em 26/07 (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [imagem do Google adicionada por este blog].
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