segunda-feira, 4 de julho de 2011

A DÍVIDA PARTICULAR QUE VIRA DÍVIDA PÚBLICA


Por Brizola Neto

“A matéria –e o gráfico, que reproduzo aí acima– publicados domingo pela 'Folha de São Paulo', reflete muito bem o que buscamos dizer quando afirmamos que é o dólar, muito mais que qualquer pressão inflacionária, o grande perigo, hoje, para a economia brasileira.

Embora o endividamento seja, basicamente, privado, é o Estado brasileiro que tem de entrar como uma espécie de “fiador monetário” desses créditos.

Explico: quando esses recursos entram no país, são convertidos em reais.

Para que esses reais não “inundem” e economia, o Banco tem de recolhê-los com a emissão de títulos, captando-os em troca de juros –e de juros altos.

Isto é: o dinheiro que foi tomado por particulares lá fora, a juros baixos, é remunerado a juros altos pelo Tesouro.

E reaplicado, em dólar, a juros baixos no exterior, como reserva cambial do país, em boa parte para proteger a moeda e a economia brasileiras de súbitas valorizações do dólar.

Ter reservas cambiais, em si, é muito bom para um país. Mas o discutível é ter reservas caras para garantir dinheiro tomado barato fora.

A criação do “imposto sobre Operações Financeiras” e sua progressiva elevação até 6% conteve, parcialmente, essa “onda” de capital especulativo.

Mas parcialmente, porque mundo dos investimentos financeiros é uma “esponja”, cheio de vasos que se comunicam e se transferem de um ponto a outro.

Este binômio –dívida externa privada [particular; barata] vs. dívida pública cara– é uma das maiores perversidades da economia brasileira.

E, também, uma de suas maiores contradições. Porque o capital para movimentar e fazer crescer a economia, para quem pode tomá-lo em dólar lá fora –e só os grandes podem– é barato, pelos altos juros. Mas para a população e para os pequenos e médios empreendedores, que não têm como captar no exterior, é inviavelmente caro.

Com a permeabilidade que a economia mundial tem hoje, com a possibilidade crescente de se financiar no exterior, a juros muito baixos, pelos setores empresariais de maior porte, dominantes na vida econômica, a ideia de que juros altos “desaceleram” a economia é de validade limitada e, sobretudo, seletiva.

É por isso que o estabelecimento de controles cambiais, para as economias emergentes –Brasil entre elas– está longe de ser posição de natureza ideológica, de restrição aos capitais estrangeiros. Passou a ser necessidade imperiosa para limitar um processo que, na próxima e inevitável crise, pode derrubar a única parte da economia mundial que consegue crescer hoje.”

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/a-divida-privada-que-vira-divida-publica/).

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