sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

“ATIRAM EM CRISTINA PARA ACERTAR DILMA”

Cristina Kirchner

“Em entrevista ao jornal argentino ‘Página/12’, o jornalista Paulo Henrique Amorim fala sobre as críticas da imprensa brasileira contra as reformas na legislação da comunicação na Argentina. “O PIG se horroriza com o que acontece na Argentina, diz que é o exemplo que não deve ser seguido”, diz Amorim.

Por Darío Pignotti , no jornal argentino “Página/12”

A imprensa brasileira, com a ‘Globo’ na liderança, tem por hábito promover chanchadas para demonizar a presidenta Cristina, criticando as reformas na legislação dos meios de comunicação”. Dizem que Paulo Henrique Amorim, um dos jornalistas mais influentes do Brasil, está entre as pessoas mais detestadas pelos executivos da ‘rede Globo’, onde trabalhou por mais de uma década.

Conheço a maquinaria da ‘Globo’ por dentro, vi ela funcionar quando fui editor e depois correspondente em Nova York, entre 1985 e 1996, sei como orquestraram uma campanha para destruir a reputação de Lula nas eleições de 1989. As campanhas sujas contra governantes que provocam algum incômodo são habituais aqui e, ressalvadas as distâncias, se repetem agora contra Cristina. Isso que digo sobre a ‘Globo’ alcança também outros meios de comunicação aos quais passei a chamar ‘Partido da Imprensa Golpista’ (PIG)”, assinala o jornalista. “O PIG se horroriza com o que acontece na Argentina, diz que é o exemplo que não deve ser seguido; imagine se Dilma resolvesse fazer o que fez Cristina, a colocariam diante de um pelotão de fuzilamento... Por isso, aparecem editoriais dizendo que há uma ‘democradura’ na Argentina. Um absurdo... Em matéria de comunicações, o Brasil é uma ditadura perfeita”.

A entrevista de Amorim ao ‘Página/12’ iniciou há dois meses no aeroporto de Porto Alegre, onde um grupo de senhoras o observava insistentemente, até que uma delas se aproximou de mim para perguntar: “É o Amorim, da televisão?” O diálogo foi retomado na semana passada por telefone, desde São Paulo, onde ele trabalha como um dos âncoras da ‘Rede Record’, a única que disputa em alguns horários a liderança ainda incontestável da ‘Globo’.

Uma espécie de movimento de ‘indignados’ contra o bloco midiático dominante começa a se observar no Brasil, processo vigoroso, mas que ainda permanece nas bordas do sistema, dado que ainda não conseguiu colocar o pé na televisão nem conta com o apoio de um jornal de alcance nacional. Encabeçando essa guerrilha informativa, há centenas de blogueiros e sites independentes como ‘Carta Maior’, ‘Vermelho’, ‘Opera Mundi’, ‘Brasil Atual’, identificados com uma bandeira comum: a aprovação de uma nova legislação para a regulação dos meios de comunicação.

Nas últimas semanas de seu governo, Lula deu a benção ao movimento insurrecional, concedendo-lhe uma entrevista no Palácio do Planalto e elaborando um esboço para esse projeto de legislação, herdado por Dilma Rousseff.

Paulo Henrique Amorim está entre os poucos, ou pouquíssimos, âncoras televisivos de grande audiência alinhado com as reivindicações da imprensa genericamente chamada de “alternativa”. Por isso, suas intervenções sarcásticas acabam sendo particularmente incômodas para os herdeiros de Roberto Marinho, patriarca do grupo ‘Globo’, falecido em 2003.

O Brasil precisa despertar, e creio que está despertando. A ‘Globo’ é poderosa, mas já não é mais tanto quanto foi. A ‘Globo’ quis, mas não conseguiu impedir que Lula fosse eleito e reeleito, quis e não pode impedir que Dilma fosse eleita. A família Marinho é uma ameaça à democracia”.

Uma hipotética lei de comunicação deveria acabar com o modelo “monopolista onde a família Marinho abusa da propriedade cruzada de meios de comunicação para asfixiar a competição. No Rio de Janeiro, são donos de tudo, até do Cristo Redentor, a fundação Marinho limpou a estátua do Cristo Redentor, e o próximo passo é se ‘adonarem’ da Copa do Mundo de 2014”. O método do maior grupo midiático da América Latina, sustenta Amorim, pode ser sintetizada em uma linha: “Proscrever todo debate com um mínimo interesse na mudança”.

Se dependesse da família Marinho, se interromperiam os movimentos de rotação e translação da Terra, eles não querem mudar nada”, reforça. Seguindo a lógica de um partido político, a “Globo atuou como oposição golpista contra Lula e atrasa mesmo as transições mais modestas em um país como o nosso, onde nunca caminhamos na direção de mudanças com grande velocidade”.

O Brasil foi o último país a liberar os escravos (no final do século XIX) e para que ninguém se sentisse ameaçado queimaram os arquivos; um século depois, veio a transição para a democracia, uma transição porca, porque, em 1985, assumiu a presidência um colaborador dos militares, José Sarney. E seguimos esperando a transição completa porque até hoje se obstrui toda investigação sobre a ditadura”.

No dia 18 de novembro, Dilma Rousseff promulgou a ‘Comissão da Verdade’, atribuindo a ela poderes para averiguar e examinar os delitos perpetrados durante a ditadura. O lobby militar e o ‘boicote’ do grupo ‘Globo’ serão, aponta Amorim, dois fatores de poder que oporão “total resistência” a uma comissão que, segundo a lei, só procurará levantar os responsáveis por assassinatos, desaparecimentos e torturas, mas não encaminhará o julgamento de ninguém. “Se a Comissão avançar, inevitavelmente virá a público a cumplicidade da ‘Globo’ com a ditadura; por isso, eles vão combatê-la ou ocultá-la. A ‘Globo’ foi muito mais [do que] porta-voz, foi um dos grupos mais beneficiados pelos militares, que deram a ela uma rede nacional de micro-ondas, tornando possível que se tornasse o gigante que é hoje”.

FONTE: Por Darío Pignotti , no jornal argentino “Página/12”. Transcrito no site “Carta Maior”, com tradução de Katarina Peixoto. Republicado no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=172389&id_secao=6).

2 comentários:

Thaynara MG disse...

Me perdoem, mas nao consigo entender esse medo que voces tem da Globo, se ela é poderosa, o problema é dela, as outras emissoras que dao um jeito de se tornarem tambem, outra coisa, voces dizem que a Globo manipula, pode ate ser, mas ela manipulando ou nao, ja ganhamos três eleiçoes presidencias, deixa a Globo em paz e vamos melhorar ainda mais este país, pois eu tenho coisas mais importantes para me preocupar, do que a besteira da regulaçao da midia, onde eu me sinto livre, escrevo o que quero, assisto o que quero, mudo de canal a hora que quero, enfim, faço o quero da minha vida, e nao vejo a globo me manipulando.

Unknown disse...

Thaynara,
O que acho errado é toda a grande imprensa escrita, televisionada e falada, não somente a Globo, sempre querer associar o que existe de ruim no Brasil à suposta incompetência do governo federal nos últimos nove anos. Excetua-se somente a revista “Carta Capital”. Compreendo que é jogo partidário comprometido a favor da direita internacional e nacional. No caso atual brasileiro, a favor da volta ao poder do PSDB, DEM, PPS. Raramente, recriminam governos estaduais e municipais demotucanos. Especialmente, blindam São Paulo.
Se esquecermos a Globo (a Band, a SBT, a Veja, a Época etc) como você tem, persistente e frequentemente, propugnado, e não apontarmos seu papel doloso antidemocrático de falseamento das verdades, a imprensa continuará livre, sem ser alcançada por qualquer crítica, muito menos por controle social, quando injusta e flagrantemente distorce, fabrica notícias, condena inocentes por interesses escusos. Especialmente, com os inaceitáveis quase sempre e indiretamente presentes fins antinacionais.
Você diz: “se ela [a Globo] é poderosa, o problema é dela”, vamos deixá-la livre para agir.
Para mim, isso seria como deixar a máfia (como a do narcotráfico) agir livre somente porque é poderosa. Não acho certo deixar a “grande” imprensa continuar com a ditadura do monopólio da desinformação no Brasil, com o monopólio da tendenciosidade.
Hoje (9) postei artigo de Gilson Caroni Filho onde ele bem resume: “A leitura diária dos jornais pode ser interessante exercício de sociologia política se tomarmos os conteúdos dos editoriais e das principais colunas pelo que, de fato, são: a tradução ideológica dos interesses do capital financeiro, a partitura das prioridades do ‘mercado’”.
Thaynara, compreendo que a sua trabalhosa campanha para deixarmos a Globo continuar assim agindo é isenta, despretensiosa, de moto próprio. Você tem todo o direito democrático nessa sua luta, mas nós também temos o direito de expor nossos pontos de vista. Assim, desculpe-nos. Continuaremos com postagens que contenham críticas à Globo.
Maria Tereza