quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Espionagem dos EUA: “OU O BRASIL FICA DE PÉ… OU SE AGACHA”



Por Bob Fernandes no portal “Terra Magazine”

“É do século XVII a definição de diplomacia de certo Henry Wotton. Disse ele:

- “O diplomata é um homem correto enviado ao estrangeiro para mentir por sua pátria.”

Líderes dos Estados Unidos têm mentido para o Brasil.

Há meses, vazadas por Edward Snowden, detalhes de como os EUA espionam o mundo e o Brasil. Há três semanas, John Kerry, Secretário de Estado norte-americano, esteve em Brasília. E nem mentiu tanto. Mas omitiu muito.

Kerry, em resumo, disse que para "se defender e ao mundo" seu país se vê no direto de espionar. Em 19 de julho, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, ligou para a presidente Dilma. Lamentou a repercussão da ciberespionagem e disse que não era bem aquilo.

Como são muitos os interesses bilaterais, a diplomacia entrou em campo. Os norte-americanos fingiram que se desculpavam e o Brasil fingiu que acreditava. Tudo se arrumava para a visita de Dilma a Obama em outubro.

O que agora é noticia não é novo nem deveria surpreender. Mas reabre a ferida. Via Snowden, se conta que uma agência dos Estados Unidos, a “National Security Agency” (NSA), espionou Dilma e assessores.

Há dois meses, detalhamos aqui como agências norte-americanas, CIA, FBI, DEA, NSA… espionaram, espionam o Brasil.

Como até 2002, ao menos, a CIA operava em uma instalação da Polícia Federal. Instalação doada pela CIA ao Brasil nos anos 80.

Até 2002, a CIA operava em 15 bases espalhadas pelo país; para espionagem política, industrial… Em ação conjunta, grampeou o ex-presidente Fernando Henrique. Assim como grampeou o Palácio da Alvorada e o Itamaraty.

Entre 1999 e 2004, essa história foi contada. Em 8 reportagens e 72 páginas. Com nomes dos chefes das agências de espionagem. Com contracheques do dinheiro depositado para delegados da PF.

Até meados dos anos 2000, a espionagem era artesanal, no varejo. Em plena era digital, se aprofundou no atacadão das infovias. Além do óbvio interesse de Estado, existe outro, mais prosaico, próprio dos humanos: a sobrevivência. O salário.

A cada ano, cada uma das dezenas de agências dos Estados Unidos disputa verbas no Congresso. Para manter seus empregos precisa ter, ou, se não tiver, inventar inimigos.

Só as 12 agências do “Programa Nacional de Inteligência” consomem US$ 52,6 bilhões de um orçamento geral estimado em US$ 90 bilhões. A CIA briga por seu orçamento de US$ 22 bilhões. A NSA por seus US$ 16 bilhões…

Idem o FBI, a DEA…. Agências e espiões lutam também por seus empregos e salários. Para tanto, como soube o mundo nos últimos meses, espionam até a mãe e o pai.

A presidente Dilma e o presidente Obama se encontrarão na Rússia, no G-20 [onde já estão]. Depois, Dilma discursará na ONU. A visita a Obama e Washington está marcada para 23 de outubro.

Até lá, os Estados Unidos terão que se desculpar. Ou, ao menos, diplomaticamente, fazer de conta. Se isso não ocorrer, restarão duas alternativas ao Brasil: manter-se de pé, ou se agachar.”


[P.S. deste blog 'democracia&política': 

A desculpa formal apresentada ao Brasil pel
o governo dos EUA, até agora, é de que eles "somente espionam pessoas físicas que sejam suspeitas de terrorismo". Isso é forte e grosseira agressão pessoal aos presidentes Dilma Rousseff e Pena Nieto (México), pois assim os EUA os classificam, xingam, como "terroristas".

Como já expressei em postagem anterior (03 set), continuo insegura e perplexa quanto ao seguinte detalhe intrigante em tudo isso: foi a “Globo” que divulgou, com inusitado estardalhaço, a grave violação norte-americana da soberania brasileira e do direito internacional !!!

Logo a "Globo"!?! As “Organizações Globo”, há décadas, até aonde vai a minha memória, sempre atuaram (por ideologia ou pagamento) a favor dos Estados Unidos e do grande poder econômico e financeiro internacional, em detrimento do interesse nacional. Até mesmo na política interna brasileira, ela sistematicamente protege, enaltece, luta pela volta ao poder de governos fantoches dos EUA, esconde falcatruas, blinda, aqueles que agem em sintonia com as determinações e interesses estadunidenses.

Portanto, se agora a "Globo" divulgou essas graves notícias de espionagem até pessoal contra a Presidente Dilma, certamente foi com o consentimento prévio e sob orientação da Embaixada dos EUA. Tem armadilha no ar nessa provocação.

Há alguma agenda oculta pró-EUA nessa divulgação pela TV Globo da espionagem e nas suas exigências de atitudes duras (como cancelamento da viagem aos EUA, da compra de caças F-18 etc) como resposta do governo brasileiro. Além disso, vejo grandes figurões tucanos, tradicionais americanófilos, também apresentando-se "revoltados" contra a ação norte-americana, inclusive com hipócritas mensagens de "solidariedade" à Dilma. H
á muita incoerência nessa história. Como a "Globo" e eles sempre agem como “pau mandado” dos EUA,  qual o interesse norte-americano em criar clima de rompimento com o Brasil? Querem escalar a crise, deteriorando as relações entre os dois países para criar condições que “justifiquem” atos hostis e até militares contra o Brasil dentro de algumas décadas? Por quê? O Brasil ideal para eles é o “Estado-bandido” a atacar militarmente para implantar governos "bonzinhos"?  Não os está sendo útil sermos o tradicional “bom parceiro”? Será o petróleo do pré-sal? A Amazônia e suas águas doces? Nossas terras férteis? 

Ainda não estou convicta da correta resposta ao enigma
].


FONTE: escrito e apresentado por Bob Fernandes no portal “Terra Magazine”. O autor foi redator-chefe de CartaCapital. Trabalhou em IstoÉ (BSB e EUA) e Veja. Repórter da Folha de S.Paulo e JB. Fez "São Paulo, Brasil" no GNT/TV Cultura. É comentarista da TVGazeta e Rádio Metrópole (BA)   (http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2013/09/04/espionagem-dos-eua-ou-o-brasil-fica-de-pe-ou-se-agacha/) [Trecho final entre colchetes e em azul adicionado por este blog 'democracia&política']

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