domingo, 8 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA SÍRIA, BASHAR AL-ASSAD,


Bashar al-Assad em 20/1/2015 


Presidente Bashar al-Assad da Síria: “Israel apoia organizações terroristas na Síria”

Entrevista de Bashar al-Assad à revista "Foreign Affairsem" em 20/1/2015, reproduzida pela "Agência SANA", da Síria. Título original: "President al-Assad to Foreign Affairs Magazine: Israel is supporting terrorists organizations in Syria" (Full Text). Traduzida pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada no "Redecastorphoto"

Pergunta 1: Gostaria de começar por perguntar-lhe sobre a guerra. Já são quase quatro anos, e o senhor conhece as estatísticas: mais de 200 mil mortos, um milhão de feridos e mais de 3 milhões de sírios que deixaram o país, segundo a ONU. Suas forças também sofreram muitas baixas. A guerra não pode continuar para sempre. Como o senhor vê o fim da guerra?

Presidente Assad: Todas as guerras, em todos os pontos do mundo, no passado, sempre terminaram com uma solução política, porque a guerra em si não é solução; a guerra é instrumento da política, como há outros. Implica dizer que só uma solução política porá fim à guerra. É como vemos. É o ponto principal.

Pergunta 2: O senhor não vê fim militar para a guerra?

Presidente Assad: Não. Não há fim ‘'militar'’ para guerra alguma. Todas as guerras só terminam na solução política.

Pergunta 3: [Pergunta fortemente enviesada, que tenta pôr palavras na boca do entrevistado. Revista muuuuuuuuuuuito é da vagabunda, essa "Foreign Affairs", foi, é e sempre será (NTs)] Pode-se dizer que a Síria está cada vez mais dividida em três miniestados: um é controlado pelo governo, outro é controlado pelo ISIS-Frente Jabhat al-Nusra, o terceiro é controlado pelos sunitas mais seculares e pela oposição curda. Como o senhor algum dia conseguirá reunificar a Síria?

Presidente Assad: Primeiro, essa sua imagem não é acurada, porque, diferentemente do que você pressupõe, não se pode falar de miniestados sem falar do povo que vive no estado. O povo sírio luta pela unidade da Síria e está com o governo. As facções de que você fala controlam algumas áreas, mas elas mudam-se de um ponto a outro, não são estáveis nem há linha de demarcação entre as diferentes forças. Às vezes, elas se misturam umas com outras e movimentam-se. Mas a questão principal é a população síria, que continua apoiando o governo da Síria como representante legítimo da unidade da Síria. Assim, enquanto o povo sírio acreditar na unidade, qualquer governo consegue facilmente manter unida a Síria. Se o povo estivesse dividido em dois, três, quatro grupos, nesse caso ninguém conseguiria manter unido o país, como ele está. É como nós vemos as coisas.

Pergunta 4: O senhor acha que sunitas e curdos ainda acreditam numa Síria unida? [Quando a revista é vagabunda, e o jornalista é fascista sincero que realmente crê na imbecilidade que é adestrado para repetir e repete... o entrevistador tem de corrigir a pergunta, antes de responder (NTs)]

Presidente Assad: Se você vai a Damasco agora, você vê que tudo é bem diferente do que você pressupõe: todas as diferentes, digamos, cores, de nossa sociedade vivem juntas. As divisões na Síria não são baseadas em campos sectários ou étnicos, nem, sequer, na área curda de que você está falando. Temos mais árabes que curdos, mas essa não é questão de etnia: é questão das facções que controlam militarmente algumas áreas.

Pergunta 5: Há um ano, os dois campos, oposição e governos estrangeiros insistiam em que o senhor deixasse o governo, como precondição para conversações. Isso já não existe. Os diplomatas procuram agora um acordo intermediário, que permita que o senhor permaneça no governo. Hoje mesmo o "New York Times" publicou artigo que fala de crescente apoio dos EUA às iniciativas de paz de russos e ONU. O artigo faz referência à “silenciosa desistência, do ocidente, das demandas de que o presidente sírio deixe o governo imediatamente”. Dada essa mudança na atitude do ocidente, o senhor está mais disposto a buscar uma solução negociada para o conflito que leve a uma transição política?

Presidente Assad: Nós sempre estivemos abertos a solução negociada, desde o começo. Dialogamos com todos os partidos na Síria. “Partidos”, aqui, não significa exclusivamente partido político; poderia ser partido, corrente, alguma personalidade, qualquer entidade política. Modificamos a Constituição e estamos abertos a tudo. Mas quando você quer fazer alguma coisa, não se cogita da posição ou do governo: essa é questão de todos os sírios; às vezes você pode ter uma maioria de todos os lados, não de um único lado. Assim, se você quer fazer uma mudança, se se fala de problema nacional, todos os sírios têm de poder manifestar-se. Diálogo não se dá só entre governo e oposição: dá-se entre todos os diferentes partidos e entidades sírios. É como entendemos o que seja diálogo. Isso, em primeiro lugar. Em segundo, seja qual for a solução que queiram, no final é imprescindível ouvir o povo em referendo, porque estamos falando da Constituição; de mudar o sistema político. É indispensável voltar ao povo sírio para ouvi-lo. Comprometer-se num diálogo é muito diferente de tomar e impor decisões.

Pergunta 6: O senhor está dizendo que não aceita nenhum tipo de transição política, a menos que haja um referendo que a apoie?

Presidente Assad: Exatamente. Essa é decisão que só o povo pode tomar, ninguém mais.

Pergunta 7: Significa que não há lugar para negociações?


Edifício do Ministério de Relações Exteriores da Rússia

Presidente Assad: Não, não significa isso. Iremos à Rússia, para essas negociações, mas a pergunta aqui é outra: com quem negociar? Como governo, temos instituições, temos exército, temos influência, positiva ou negativa, em todas as direções a qualquer momento. Com que pessoas negociaremos? Quem representam? Essa é a pergunta. Quando se fala de oposição, a palavra tem de ter algum conteúdo. Oposição em geral teria de ter representantes nas nossas instituições, no Parlamento, nas instituições sírias, teria de haver bases que a oposição representaria. Na crise atual, é preciso perguntar que influência tem essa ‘oposição’ em campo. É preciso voltar ao que os rebeldes anunciaram publicamente, quando disseram muitas vezes que a oposição não os representa. Se querem falar de diálogo que dê frutos, terá de ser entre o governo da Síria e os rebeldes.

E há outro ponto. Oposição tem de ser nacional, significa grupo que, embora com posições diferentes da situação, também trabalha pelos interesses do povo sírio. Não se pode falar de legítima “oposição”, se o que se vê são fantoches do Qatar ou da Arábia Saudita ou de países ocidentais, inclusive dos EUA, pagos por gente de fora. “Oposição” tem de ser síria. Temos oposição nacional, e não estou excluindo essa oposição. Não estou dizendo que nenhuma oposição seria jamais legítima. Mas você tem de separá-la daqueles fantoches. Não é verdade que qualquer diálogo seria automaticamente frutífero.

Pergunta 8: Isso significa que o senhor não quer encontrar-se com forças de oposição apoiadas por outros países?

Presidente Assad: Nos reuniremos com qualquer um. Sem condições.

Jornalista: Sem condições?

Presidente Assad: Sem condições.

Jornalista: O senhor aceita reunir-se com qualquer um?

Presidente Assad: Sim. Nos reuniremos com qualquer um. Mas é preciso saber exatamente: quem cada um representa. Isso foi o que eu quis dizer.

Pergunta 9: Se não me engano, o vice-representante Staffan de Mistura está agora na Síria. Estão propondo, como medida temporária, um cessar-fogo e congelamento dos confrontos em Aleppo. O senhor concordaria com isso?

Presidente Assad: Claro que sim. Já implementamos precisamente essa medida antes de De Mistura ser nomeado para essa missão. Implementamos em outra cidade, Homs, outra grande cidade. Implementamos em escala menor também em, pode-se dizer, subúrbios, vilas, com sucesso. A ideia portanto é ótima, mas depende dos detalhes. De Mistura chegou à Síria com orientações gerais. Concordamos com algumas delas e, agora, estamos esperando que nos traga um plano, uma agenda, um plano de A a Z. Estamos discutindo tudo isso com esse senhor.

Pergunta 10: No passado, o senhor insistiu, como precondição para o cessar-fogo, que os rebeldes depusessem armas primeiro – condição inaceitável, obviamente, [é preciso ser jornalista muuuuuuuito do arrogante e metido a besta, para “declarar” o que seria “obviamente inaceitável” para seja quem for, né-não?!] do ponto de vista deles. O senhor mantém sua precondição?

Presidente Assad: Não é como o senhor diz. Nós escolhemos diferentes cenários, ou diferentes reconciliações. Em algumas áreas, permitimos que eles deixassem áreas não habitadas, para evitar mortes de civis. Eles deixaram aquelas determinadas áreas com as armas deles. Em outras áreas, entregaram as armas e partiram. Tudo dependia, caso a caso, do que eles ofereçam e do que você ofereça.

Pergunta 11: Não entendi bem sua resposta. O senhor insiste que eles entregaram as armas?

Presidente Assad: Não, não foi o que eu disse. Acabo de dizer que, em algumas áreas, os rebeldes deixaram a área com as respectivas armas.

Pergunta 12: O senhor está otimista quanto às conversações de Moscou?

Presidente Assad: Ainda não há negociações em Moscou sobre alguma solução. Trata-se só de preparativos para a conferência.

Jornalista: Quer dizer, conversas sobre conversas?


Bashar al-Assad em 20/1/2015

Presidente Assad: Exatamente, como preparar-se para as conversações. Quando se começa a falar sobre conferência, é preciso que todos saibam quais são os princípios da conferência. Tenho de voltar ao mesmo ponto. Permita-me ser bem franco: alguns dos grupos não passam de fantoches, como já disse, de outros países. Têm de implementar determinada agenda e sei que vários países – a França, por exemplo – não tem interesse algum em que a conferência seja bem-sucedida. Esses países ordenarão aos respectivos fantoches que façam fracassar a conferência. Há lá também personalidades que só se autorrepresentam, não representam ninguém na Síria. Vários deles nunca sequer viveram na Síria e nada sabem sobre o país. Claro que há outras personalidades que trabalham a favor do interesse nacional. Por isso, não se pode falar de ‘'oposição'’ como entidade monolítica: quem influenciará quem? Eis a pergunta. Nada está ainda claro sobre isso. Nessas circunstâncias, falar de qualquer otimismo seria exagero, seria irrealista. Não digo que esteja pessimista. Digo que há esperanças, de fato, em qualquer tipo de ação.

Pergunta 13: Parece que nos últimos dias, os EUA têm-se mostrado mais favoráveis, manifestado mais claro apoio às conversações de Moscou. Inicialmente foi bem diferente. Ontem, o secretário de Estado Kerry disse algo que sugere que os EUA esperam que as conversações progridam e cheguem a bom termo.

Presidente Assad: Eles falam, falam, mas o que se deve observar é o que eles farão. O senhor sabe que sírios não confiam nos EUA. Assim sendo... Vamos esperar e ver o que acontece na conferência.

FONTE: 1ª Parte da entrevista de Bashar al-Assad à revista "Foreign Affairsem" em 20/1/2015, reproduzida pela "Agência SANA", da Síria. Título original: "President al-Assad to Foreign Affairs Magazine: Israel is supporting terrorists organizations in Syria" (Full Text)Traduzida pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto"   (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/01/presidente-bashar-al-assad-da-siria.html).

COMPLEMENTAÇÃO 1 (2ª PARTE DA ENTREVISTA)

Continuação da entrevista de Bashar al-Assad à revista "Foreign Affairsem" em 20/1/2015, reproduzida pela "Agência SANA", da Síria. Título original: "President al-Assad to Foreign Affairs Magazine: Israel is supporting terrorists organizations in Syria" (Full Text). Traduzida pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto"


Bashar al-Assad

Pergunta 14: O que parece ao senhor que seja o melhor meio para um acordo entre todos os diferentes partidos na Síria?

Presidente Assad: É indispensável negociar diretamente com os rebeldes, mas há dois tipos de rebeldes. A maioria deles é da al-Qaeda, que é ISIS e al-Nusra, com outras facções também da al-Qaeda, mas menores. E o que Obama chamou de “oposição moderada”, uma fantasia. Não é “oposição”: são rebeldes. A maior parte deles uniu-se à al-Qaeda, e alguns deles recentemente uniram-se ao exército. Ao longo da última semana, muitos deles deixaram seus grupos e uniram-se ao exército.

Pergunta 15: Serão antigos desertores que voltaram?

Presidente Assad: Sim. Agora, voltaram para o exército. Dizem que não querem mais guerra. Assim sendo, resta muito pouco daqueles grupos. Afinal, se pode negociar com al-Qaeda e outros? Não estão prontos para negociar, eles têm o plano deles. A reconciliação que nós começamos e o Sr. de Mistura continuará é a solução prática em campo. Esse é o primeiro ponto. Em segundo lugar, é preciso implementar a Resolução nº 2.170 do Conselho de Segurança sobre al-Nusra e ISIS, aprovada há alguns meses, e essa Resolução é muito clara: ela proíbe qualquer apoio militar, financeiro ou logístico àquelas facções. OK, mas Turquia, Arábia Saudita e Qatar continuam a apoiá-las. Se a Resolução não é implementada, não se pode falar de solução real, porque há obstáculos. É indispensável começar por aí.

Em terceiro lugar, os países ocidentais devem retirar o “guarda-chuva”, que é como dizem vários dos que apoiam a tal “oposição moderada”. Eles sabem que protegem principalmente a al-Qaeda, ISIS e a Frente al-Nusra.

Pergunta 16: O senhor estaria preparado para algumas medidas antes das conversações, para construir confiança? Por exemplo, troca de prisioneiros ou o fim das barreiras de artilharia, ou a libertação de prisioneiros políticos, para construir confiança no outro lado, de que o senhor está disposto a negociar de boa fé?

Presidente Assad: Essa não é uma relação pessoal. Aqui se trata de mecanismos, de instituições. Na política, só se cogita de mecanismos e de instituições. Ninguém precisa confiar pessoalmente em alguém para fazer alguma coisa no mundo político. Se há um mecanismo claro, que todos conheçam, é possível chegar a um resultado. O povo quer resultados. Portanto, a pergunta correta é: qual o mecanismo que poderá ser acionado? Com isso, voltamos necessariamente àquela pergunta anterior: quem são os grupos com quem negociar? O que representam? Que influência têm? De que adiantaria a alguém “construir confiança” com gente que nada representa e não tem influência alguma?


Bashar al-Assad

Jornalista: As medidas de que falei teriam o efeito de baixar a temperatura, alguma coisa concreta.

Presidente Assad: Já temos o processo de reconciliação, muito concreto. Gente depôs armas, nós demos anistia a quem depôs armas, vivem hoje vida normal. Esse é exemplo muito concreto. Essa também é medida de confiança mútua. Por outro lado, que relação haveria entre aquela “oposição” e os prisioneiros? Nenhuma relação. Não são prisioneiros daqueles grupos. A questão aí é completamente diferente.

Pergunta 17: O senhor está dizendo que ofereceu anistia aos combatentes?

Presidente Assad: Claro que sim, e várias vezes.

Pergunta 18: Quantos aceitaram? O senhor tem números?

Presidente Assad: Não tenho aqui os números precisos, mas são milhares, milhares, não centenas, de militantes.

Pergunta 19: E o senhor está disposto a dizer a toda a oposição que se depuserem armas estarão seguros?

Presidente Assad: Claro que sim. Já disse exatamente isso, publicamente, num de meus discursos.

Pergunta 20: E como o senhor garantiria a segurança deles? Porque eles têm razões para desconfiar do seu governo.

Presidente Assad: Não há garantia absoluta para nada, mas, no fim, se, digamos, mais de 50% dos casos forem bem-sucedidos, já será um sucesso. Nada é absoluto. O caminho é esse e todos temos de contar com algumas dificuldades, mas as dificuldades não são predominantes.

Pergunta 21: Gostaria de mudar um pouco de assunto. O Hezbollah, a força Quds do Irã e as milícias xiitas treinadas no Irã têm, todos esses, papel significativo na luta contra os rebeldes aqui na Síria. Dado esse envolvimento, o senhor se preocupa com a influência do Irã sobre a Síria? Afinal, o Iraque, e mesmo o Líbano, mostram que quando uma potência militar estrangeira estabelece-se dentro de um país, é muito difícil conseguir que saiam.

Presidente Assad: O Irã é país importante na região, e já era influente antes da crise. A influência do Irã nada tem a ver com a crise, tem a ver com o papel do país, com sua posição política em geral. Quando se fala de influência, há vários fatores que tornam influente um determinado país. No Oriente Médio, nossa região, há uma mesma sociedade, uma mesma ideologia, tantas coisas semelhantes, as mesmas tribos, que cruzam fronteiras. Todos os fatores de influência cruzam fronteiras, por aqui. Se alguém influencia num fator, a influência cruzará fronteiras. Isso é parte de nossa natureza. Não está relacionado ao conflito. Claro, quando há conflito e anarquia, outro país poderá ser mais influente sobre um ou outro país. Se você não tem vontade de ter um país soberano, essa influência prevalecerá. Mas, respondendo sua pergunta: o Irã não tem qualquer ambição na Síria e, como país, a Síria jamais admitirá que qualquer país “influencie” nossa soberania. Nós não admitiremos em nenhum caso, nem os iranianos desejam tal coisa. Admitimos a cooperação.

Mas se se admite que qualquer país influencie, por que não deixar que os norte-americanos mandem aqui? Porque esse é o problema com os norte-americanos: eles só querem influenciar, sem cooperar."

FONTE da complementação 1: 2ª Parte da entrevista de Bashar al-Assad à revista "Foreign Affairsem" em 20/1/2015, reproduzida pela "Agência SANA", da Síria. Título original: "President al-Assad to Foreign Affairs Magazine: Israel is supporting terrorists organizations in Syria" (Full Text). Traduzida pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/01/presidente-bashar-al-assad-da-siria_30.html).

COMPLEMENTAÇÃO 2: 
 (3ª PARTE DA ENTREVISTA)

Presidente Bashar al-Assad da Síria: “Israel apoia organizações terroristas na Síria” (3/3)



3ª Parte da entrevista de Bashar al-Assad à revista "Foreign Affairsem" em 20/1/2015, reproduzida pela "Agência SANA", da Síria. Título original: "President al-Assad to Foreign Affairs Magazine: Israel is supporting terrorists organizations in Syria" (Full Text). Traduzida pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto" . Ver em:

Nota dos tradutores: [...] da pergunta 47 até o final, optamos por não traduzir: é trabalho inútil traduzir a longa conversa fiada do jornalista entrevistador, que só faz repetir ideias feitas e “manchetes jornalísticas”, na luta para merecer o salário que lhe pagam os sionistas de "Foreign Affairs". Excertos: foram omitidos os trechos “jornalísticos” sionistas mais ridículos das perguntas do entrevistador de "Foreign Affairs".


Bashar al-Assad durante a entrevista

Pergunta 22: Permita-me insistir. Semana passada um comandante do Corpo de Guardas Revolucionários do Irã, comandante da força aeroespacial, Haji Zadeh, disse numa entrevista que o Líder Supremo do Irã lhe ordenara que suas forças construíssem e operassem fábricas de mísseis na Síria. Isso sugere que o Irã tenha papel maior e que esteja agindo por conta própria.

Presidente Assad: Não, absolutamente não sugere isso. Cumprir determinada função mediante cooperação é completamente diferente de cumprir determinado papel como exercício de hegemonia.

Pergunta 23: Quer dizer que tudo que o Irã está fazendo...?

Presidente Assad: Claro. Em total cooperação com o governo sírio, como sempre foi e é o caso.


Jonathan Tepperman, o "entrevistador"

Pergunta 24: O Irã é caso à parte, porque é um país. Mas o senhor também tem milícias que são atores subestatais e, portanto, mais complicados. Um dos problemas de trabalhar com esses grupos é que, diferentes de um governo, eles podem não querer cooperar; e nunca se sabe exatamente com quem falar. O senhor não se preocupa com sua habilidade para controlar essas forças e para segurá-las, se for preciso? E, uma pergunta relacionada a essa: esta semana, Israel atacou forças do Hezbollah no Golan, e os israelenses sugeriram que atacaram porque o Hezbollah estaria planejando atacar Israel a partir do território sírio. Será que isso não chama a atenção para o perigo de permitir que milícias armadas, que têm agendas próprias, não necessariamente a agenda do seu governo, entrem nessa guerra?

Presidente Assad: O senhor fala de milícias sírias ou outras, em geral?

Jornalista: Falo especialmente do Hezbollah e das milícias iraquianas xiitas.

Presidente Assad: É natural que só as instituições do governo, do Estado, digamos, são garantia de estabilidade e ordem. Qualquer outro fator que tenha papel paralelo ao do governo pode ser positivo, pode ser bom em certas circunstâncias, mas sempre tem efeitos colaterais, negativos. É natural. E ter milícias que apoiam o governo é um dos efeitos colaterais da guerra. Elas estão aí, mas é preciso tentar controlar esse efeito colateral. Assim, se o senhor consultar qualquer sírio sobre esse assunto, obterá resposta semelhante à que lhe dou. Ninguém se sentirá mais confortável com elas do que se puderem tratar com instituições do estado sírio, inclusive o exército e a polícia etc. Mas o que aconteceu em Quneitra é algo completamente diferente.

Jamais houve operação alguma contra Israel através das colinas do Golan, desde o cessar-fogo de 1974. Nunca, nem uma vez.

Assim sendo, o que Israel diz, que havia "plano de alguma invasão", está muito distante da realidade, não passa de desculpa, porque Israel, isso sim, queria matar alguém do Hezbollah.

Pergunta 25: Mas os israelenses têm sido muito cautelosos desde que a guerra começou, para não se envolverem, exceto quando sentem que seus interesses estejam diretamente ameaçados.

Presidente Assad: É mentira. Israel tem atacado a Síria várias vezes, ao longo de dois anos, sem qualquer razão.

Jornalista: Mas em todos os casos eles dizem que é porque o Hezbollah estava recebendo armas do Irã, através da Síria.

Presidente Assad: Israel atacou posições do exército sírio. Que relação haveria entre o Hezbollah e o exército sírio?

Jornalista: Foram casos em que o exército bombardeou acidentalmente...

Presidente Assad: São mentiras. Todas essas alegações são falsas.

Pergunta 26: Qual, então, na sua avaliação, é a agenda de Israel?

Presidente Assad: Israel apoia rebeldes na Síria. Não há dúvidas quanto a isso. Cada vez que avançamos em algum ponto, Israel ataca para enfraquecer o exército. Sabe-se que é assim. Não há qualquer dúvida. Há até uma piada na Síria: “Como é que você vê que a al-Qaeda não tem Força Aérea? Porque todos os aviões da al-Qaeda voam com bandeira de Israel”.

Pergunta 27: Voltando à pergunta anterior sobre as milícias, o senhor sente-se confiante de que poderá controlá-las quando a guerra acabar, porque, afinal, qualquer governo, para ter soberania efetiva, tem de ter o que se chamava “o monopólio da força”. Não é fácil, quando o senhor tem esses grupos armados independentes operando por aqui.

Presidente Assad: É verdade que o estado só pode cumprir a missão que a sociedade lhe dá se for capaz de manter a ordem.

Jornalista: No Iraque, por exemplo, já se vê como pode ser difícil, porque o governo está tendo muito trabalho para controlar aquelas milícias xiitas que foram fortalecidas durante a guerra.

Presidente Assad: Há uma importante razão para a confusão em que está o Iraque: é porque Paul Bremmer (EUA) não criou uma Constituição para o Estado: criou “constituição” para as facções. Na Síria, é diferente: por que o senhor supõe que o exército mantém-se em perfeita operação há quatro anos, apesar do embargo, da guerra, de dezenas de países de todo o mundo que têm atacado a Síria e continuam a apoiar terroristas e rebeldes? Porque a Síria tem Constituição verdadeira, real, Constituição secular. A Constituição no Iraque é sectária. “Constituição sectária” é sectarismo, não é constitucionalismo nem há Constituição em sentido estrito.

Pergunta 28: Mas o que o senhor vai fazer dessas milícias, quando a guerra acabar?

Presidente Assad: As coisas devem voltar ao normal, como eram antes da guerra.

Pergunta 29: E o senhor confia que...

Presidente Assad: Confiamos plenamente nisso e não temos alternativa. O papel do governo é fazer acontecer exatamente a vida normal, depois da guerra. É autoevidente.

Pergunta 30: Que impacto tiveram os baixos preços do petróleo sobre a guerra na Síria? Afinal, dois dos seus mais próximos aliados e apoiadores, Irã e Rússia, dependem muito de preços do petróleo e têm sofrido danos terríveis em seus orçamentos em meses recentes, com a queda dos preços do petróleo. O senhor teme pela capacidade desses dois estados para continuarem a ajudar a Síria?

Presidente Assad: Não, porque não nos ajudam com dinheiro. Ainda que venham a nos ajudar com dinheiro, serão empréstimos. Como qualquer país, a Síria em alguns casos compra, em outros toma empréstimos.

Jornalista: Mas o apoio militar lhes custa dinheiro, e se tiverem menos dinheiro para pagar pelos próprios gastos militares... Não será problema?

Presidente Assad: Não, porque se se paga pelas armas e outros bens, não há problema algum.

Pergunta 31: O senhor está dizendo que tudo que o senhor tem recebido de russos e iranianos...

Presidente Assad: Não observamos qualquer tipo de problema. Quanto à influência que haja em outros países, não sei dizer.

Pergunta 32 até 35: Em outras entrevistas o senhor disse que o senhor e seu governo fizeram erros ao longo da guerra. Que erros foram esses? Há algo que o senhor lastime? [longa troca de perguntas e respostas sem importância alguma, pura provocação do jornalista entrevistador, aqui omitida (NTs)]

Pergunta 36: Desde que os EUA iniciaram a campanha aérea contra o Estado Islâmico, Síria e EUA tornaram-se alguma espécie estranha de parceiros e estão efetivamente cooperando nessa parte da luta. O senhor vê algum potencial para cooperação ampliada com os EUA?

Presidente Assad: O potencial está aí (...), mas até agora nada vimos de concreto, apesar de alguns ataques contra o ISIS no norte da Síria. Nada há de concreto. Até agora, só se viu, digamos, uma cortina, nada de substancial. E desde o início desses ataques, o ISIS sempre ganhou mais territórios na Síria e no Iraque.

Pergunta 37: Mas e os ataques aéreos contra Kobani? Foram muito efetivos para deter o ISIS.

Presidente Assad: Kobani é cidade muito pequena, com cerca de 50 mil habitantes. Os ataques ali já duram três meses, e os terroristas ainda não foram expulsos. A mesma área, quando ocupada por facções da al-Qaeda, foi libertada pelo Exército Sírio em menos de três semanas. Significa que os norte-americanos não são sérios quando dizem que combatem o terrorismo.

Pergunta 38: O senhor está dizendo que deseja maior envolvimento dos EUA na guerra contra o ISIS?

Presidente Assad: Não, absolutamente não, não se trata de maior envolvimento dos militares, porque não se trata só de militares, trata-se de política, trata-se de o quanto os EUA têm influência sobre os turcos, porque, se os terroristas podem aguentar ataques aéreos durante todo esse tempo, é prova de que os turcos continuam a enviar armas e dinheiro para aqueles terroristas. Os EUA fizeram alguma pressão para que a Turquia parasse de apoiar a al-Qaeda? Não, não fizeram. Assim sendo, absolutamente não se trata de envolvimento militar direto. Isso, em primeiro lugar.

Em segundo lugar, se o senhor quer falar sobre o envolvimento militar, oficiais norte-americanos reconhecem publicamente que, sem tropas em solo, não podem obter nada de concreto. De que tropas em solo então dependem hoje?

Pergunta 39: O senhor está sugerindo que há tropas norte-americanas em solo?

Presidente Assad: Não, estou falando sobre a ideia, o princípio, não estou falando de tropas dos EUA. Se o senhor prefere dizer que quero fazer guerra ao terrorismo, é preciso ter tropas em solo. A pergunta que o senhor tem de fazer aos norte-americanos é: de que tropas em solo vocês dependerão? Com absoluta certeza terão de depender de tropas sírias. Estamos em nosso país, este é nosso país. Nós somos os responsáveis. E absolutamente não estamos pedindo tropas norte-americanas.

Pergunta 40: O que, então o senhor gostaria de obter dos EUA? O senhor mencionou mais pressão sobre a Turquia...

Presidente Assad: Pressão sobre a Turquia, pressão sobre a Arábia Saudita, pressão sobre o Qatar, para que parem de dar apoio aos terroristas. Segundo, que entrem em sistema de cooperação legal com a Síria e passem a esperar até que nosso governo autorize aqueles ataques. Até agora, não houve qualquer autorização e os ataques são ilegais.

Pergunta 41: Perdoe, mas não entendi perfeitamente esse ponto. O senhor quer legalizar os ataques?

Presidente Assad: Claro que sim.

Pergunta 42: Entendo. O senhor quer um acordo formal entre Washington e Damasco, para legalizar os ataques aéreos?

Presidente Assad: Pode-se até discutir o formato. Mas, sem autorização, os ataques norte-americanos são ilegais. Começamos pela autorização. Será um acordo? Será um tratado? Essa já é outra questão.

Pergunta 43: E o senhor estaria disposto a tomar medidas para tornar mais fácil a cooperação com Washington?

Presidente Assad: Com qualquer país que mostre seriedade na luta contra o terrorismo. Estamos prontos a qualquer cooperação, se o país for sério, para cooperação séria.

Pergunta 44: Que passos o senhor está disposto a dar para mostrar a Washington que o senhor deseja cooperar?

Presidente Assad: Quem tem de mostrar sinais de que quer realmente cooperar são eles, não nós. Nós já estamos lutando em solo. Não temos de “mostrar” que somos capazes de lutar em solo.

Pergunta 45: Os EUA estão atualmente treinando cerca de 5 mil combatentes sírios que devem voltar à Síria em maio. Mas o general John Allen dos EUA tem sido extremamente cuidadoso e insiste que esses soldados não serão mandados para lutar contra o governo sírio, mas exclusivamente contra o ISIS. O que o senhor fará se esses soldados entrarem na Síria? O senhor atacará soldados sírios?

Presidente Assad: Soldados armados que não estejam em regime legal de cooperação com o Exército Sírio são soldados ilegais e serão combatidos. Quanto a isso não há dúvida alguma.

Pergunta 46: Ainda que isso ponha o senhor em conflito com os EUA?

Presidente Assad: Se não estiverem em regime de cooperação legal com o exército sírio, são ilegais e vêm para cá como fantoches de outro país. Serão enfrentados como qualquer milícia ilegal que se ponha em luta contra o Exército Sírio. Mas há um detalhe a perguntar, sobre esses soldados. Obama disse que não existiam, que eram fantasia. Viraram realidade, agora? Como?

Jornalista: Parece-me que graças a um programa de treinamento.

Presidente Assad: Não há treinamento que converta extremistas em “moderados”.

Jornalista: Ainda há moderados na oposição. Estão cada dia mais fracos, mas creio que o governo dos EUA está trabalhando muito atentamente para garantir que os combatentes treinados nos EUA não sejam os radicais.

Presidente Assad: A pergunta importante é: por que a sua “oposição moderada” – vocês chamam de oposição, nós chamamos de rebeldes – está, como o senhor diz, cada dia mais fraca? Eles estão cada dia mais fracos por causa de desenvolvimentos na crise síria. E se mandarem para cá mais 5 mil soldados armados, treinados fora daqui, mais deserções acontecerão, mais gente deixará as “brigadas norte-americanas” para juntar-se ao ISIS e outros grupos, exatamente com aconteceu ao longo do ano passado. Tudo isso de que o senhor fala é fantasia. Não que as milícias treinadas fora daqui, os seus 5 mil, sejam ilusórios. Ilusória é a própria ideia, o próprio conceito.

Pergunta 47: (...) O senhor está preparado para tomar medidas que tornem mais fácil a cooperação com os EUA?

Presidente Assad: A parte mais engraçada sobre esse governo dos EUA é que parece ser o primeiro na história do mundo que constrói avaliações e toma decisões de guerra e paz a partir de “informação” que recolhe da imprensa-empresa e das mídias sociais. Chamamos de “governo das mídias sociais”, porque é governo de diz-que-diz, não é governo político. Praticamente, nenhuma informação que a imprensa-empresa comercial ocidental divulga sobre a Síria é verdadeira. São, praticamente, 100% mentiras. Forjam-se imagens, forjam-se “declarações”, inventam-se “notícias”, e ninguém investiga para saber quem disse o quê, onde mentiu, por que mentiu. Ninguém sabe coisa alguma sobre as notícias, a não ser que saíram de outro veículo, ou de alguma agência. Nada se investiga. Não há provas de coisa alguma do que se noticia sobre a Síria, no ocidente.

Jornalista: Mas as fotos [...] foram examinadas por investigadores europeus independentes...

Presidente Assad: Não, não foram examinadas, não eram independentes. Não é verdade. Os investigadores são de um grupo financiado pelo Qatar, e dizem que são anônimos. Não são. Não há provas de coisa alguma. [...] No início da crise, publicaram-se fotos da guerra do Iraque, tiradas no Iêmen, como se tivessem sido feitas na Síria. Em segundo lugar, os EUA em especial e o ocidente em geral não têm autoridade moral alguma para falar sobre direitos humanos. Os EUA e o ocidente são responsáveis por número já incontável de mortos na nossa região, especialmente os EUA, depois que invadiram o Iraque, e a Grã-Bretanha, depois de invadirem a Líbia, e a situação no Iêmen, e o que houve no Egito, e o apoio que dão a terroristas na Tunísia.

Todos esses problemas aconteceram por causa dos EUA. Foram os primeiros a atropelar a lei internacional e resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA, não a Síria.

[NT: Como informamos na Nota dos tradutores, deste ponto até o final optamos por não traduzir].

FONTE da complementação 2: 3ª Parte da entrevista de Bashar al-Assad à revista "Foreign Affairsem" em 20/1/2015, reproduzida pela "Agência SANA", da Síria. Título original: "President al-Assad to Foreign Affairs Magazine: Israel is supporting terrorists organizations in Syria" (Full Text). Traduzida pelo "pessoal da Vila Vudu" e postada por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/02/presidente-bashar-al-assad-da-siria.html).

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