O "blog do Azenha" trouxe hoje a seguinte matéria publicada por Luiz Weis, no "Observatório da Imprensa" em 22/2/2008:
"Toda hora, ou quase, a mídia dá motivo para se condená-la por acusar aos berros e se retratar aos sussurros.
Nesse sentido, o modo como a Folha tratou o caso do padre Júlio Lancelotti merecia ser ensinado nas escolas de jornalismo – como um exemplo a não se imitar.
No domingo, 28 de outubro, o jornal deu na primeira página:
"Ex-interno diz que fazia sexo por dinheiro com padre".
Na quinta-feira, 8 de novembro, a mesma Folha – mas nunca, jamais, onde já se viu, na primeira página – noticiou a conclusão da polícia de que “padre Júlio sofreu extorsão".
A omissão, contrastando constrangedoramente com a apelação anterior, foi registrada neste blog.
Para explicar a disparidade de tratamento, o jornal poderia alegar, forçando a barra, que a conclusão policial não seria necessariamente o fecho do caso, apenas uma etapa no processo de esclarecimento dos fatos. Afinal, informava a matéria, "o inquérito será analisado pelo juiz Júlio Caio Farto Sales", que "poderá pedir novas investigações, caso considere as provas insuficientes".
Hoje, reincidente, alegaria o quê? Em oito linhas, praticamente caindo de uma página interna do caderno Cotidiano, o jornal dá que "o Ministério Público de São Paulo considerou o padre Júlio Lancelotti vítima de extorsão" e que "a condenação deve sair na semana que vem".
Fácil imaginar o que a Folha faria se o Ministério Público considerasse que não houve extorsão nenhuma na história – e que o religioso, como o jornal proclamou naquele domingo de outubro, o dia em que mais vende, de fato pagava por sexo com um ex-interno, segundo acusação deste.
E a azeitona nessa empada podre é que a notícia de hoje na Folha chegou atrasada: as conclusões do Ministério Público já estavam ontem no Estado."
A DEVIDA RETRATAÇÃO DA MÍDIA
O assunto acima é grave e exige honesta atitude da mídia. Ela é reincidente na omissão da devida retratação.
Na última quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008, postamos o artigo “A IMPRENSA E AS AUTORIDADES QUE COAGIRAM, CERTAMENTE, FARÃO AMPLA RETRATAÇÃO...” Eu havia lido naquele dia, no jornal Folha de São Paulo (FSP), que o ex-secretário de governo na prefeitura de Ribeirão Preto mudou sua versão e confessou que mentiu sob pressão da "execração pública" (da imprensa), quando acusou o então Ministro da Fazenda de Lula, Antônio Palocci.
A FSP publicou que "Rogério Buratti, que trabalhou com o ex-ministro em Ribeirão Preto, retira acusações". Tudo havia sido mentira. Ao Ministério Público, à polícia e à CPI dos Bingos, Buratti antes dissera que Palocci recebia propina mensal de empresa, na sua gestão como prefeito, bem como de que "o mensalinho pago pela Leão Leão serviu para financiar o Diretório Nacional do PT".
Acrescentou a Folha: "No documento, de 28 de junho de 2007, ele afirma ser mentira, também, a declaração que fez à Polícia Civil e à Promotoria, de que o "mensalinho" pago pela Leão Leão serviu para financiar o Diretório Nacional do PT".
O recuo do ex-secretário de Palocci está registrado no 14º Tabelião de Notas de São Paulo, onde ele prestou declarações extrajudiciais, conforme noticiou "O Estado de S. Paulo".
Em outra reportagem da Folha de São Paulo daquele mesmo dia 21/02/2008, também há a confissão de outro depoimento mentiroso. Foi o de testemunha antes propalada intensamente pela imprensa como chave para provar a existência de "mensalão". Trata-se do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.
Disse o jornal FSP: "No último dia 14, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato renegou na Justiça seu depoimento à CPI dos Correios, em dezembro de 2005, quando dissera ter liberado R$ 23 milhões a uma agência de Marcos Valério por ordem do então ministro Luiz Gushiken. Ele alegou que depôs sob a coação dos parlamentares da CPI: "Estava sob ameaça de que iam me prender. Fui coagido, ameaçado e humilhado".
Terminei aquele meu artigo de 21 de fevereiro com a pergunta: E agora? A imprensa e as tais autoridades e parlamentares que coagiram aqueles depoentes no sentido da mentira, certamente, farão ampla retratação. Assim espera-se por ser justo e correto. A imprensa reproduziu insistentemente, milhares de vezes, geralmente na primeira página, aquelas falsas acusações durante a campanha eleitoral de 2006.
Assim, espera-se para breve a proporcionalmente ampla retratação da imprensa escrita e falada, tanto para o caso do padre Júlio Lancelotti, como no caso dos depoimentos mentirosos de Buratti e de Pizzolato. Retratação proporcional ao espaço e ao tempo que a mídia consumiu para acusar. A liberdade de imprensa não é uma moeda com somente um lado. Ela também exige responsabilidade dos veículos de comunicação.
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