Li no Jornal do Brasil de ontem o seguinte artigo do veterano jornalista Mauro Santayana:
“O governo norte-americano, sob Bush, esmerou-se no uso do terrorismo. Valeu-se do medo trazido pelos ataques de 11 de Setembro para levar o desassossego e justificar medidas antidemocráticas internas, entre elas a espionagem de cunho macartista, a interferência no Poder Judiciário e na escolha de promotores, a chantagem sobre o Congresso. E intensificou a antiga prática de utilizar os serviços de espionagem e contra-espionagem, nas provocações, sabotagem e assassinato.
As operações de domingo contra a Síria foram, conforme as definiu o governo de Damasco, atos de terrorismo de Estado. O terrorismo não se exerce apenas nas sombras e com agentes embuçados: exerce-se também em operações militares abertas. Nesse sentido, todas as guerras de agressão, desde que o mundo é mundo, são a utilização do terror, para assegurar o saque e o domínio. A agressão ao Iraque, a partir do primeiro Bush, e mantida, mediante os bombardeios, pelo democrata Clinton, para ser transformada em invasão aberta pelo segundo Bush, tem sido, assim, ato permanente de terrorismo.
O ato contra a soberania da Síria, sem prévia declaração de guerra, levou o governo do Iraque a protestar. Bagdá exige mais autonomia em troca de acordo que permita a continuação das tropas ianques em seu território, a partir do dia 1º de janeiro – quando se encerra o mandato outorgado pelo Conselho de Segurança da ONU. A China, que faz fronteira com o Afeganistão e o norte do Paquistão, e a Rússia – golpeada na Ossétia por Washington – têm poder de veto no cimo da organização internacional e não permitiriam nova extensão do mandato. Daí a pressão direta sobre Bagdá, a fim de continuar com suas tropas na área.
O governo do Paquistão protestou novamente ontem, e de forma mais grave, contra os ataques norte-americanos a faixas de seu território na fronteira com o Afeganistão.
As repetidas operações na região – a pretexto de caçar talibãs – têm trazido a morte de numerosos civis paquistaneses. Sexta-feira passada uma escola religiosa foi alvejada por helicópteros, e morreram seis pessoas. Há três dias, 20 pessoas morreram na fronteira.
Houve, assim, clara violação da soberania do país.
O mundo está perdendo a paciência com os norte-americanos. Há apenas alguns meses, o Paquistão não protestaria com tanta ênfase. Ao mesmo tempo em que isso ocorre na Ásia, Moscou reata seus vínculos militares com Cuba, depois de os haver rompido, a partir da queda do Muro de Berlim. O general Maslov, da Força Aérea, visita Havana, a fim de discutir a troca de experiências militares e o fornecimento de peças de substituição dos aviões de caça russos. E o governo de Bagdá, depois do ataque à Síria, advertiu Washington de que não permitirá o uso do território iraquiano como base para ataque aos países vizinhos – e árabes.
Comentaristas internacionais encontram outra razão para o ato terrorista dos Estados Unidos em território sírio: ato de provocação, a fim de desviar a atenção do eleitorado de Obama e favorecer McCain. Por mais cauteloso seja o candidato democrata e mais sólida seja a opção conservadora da sociedade americana, os texanos de Bush temem que, a partir da posse do novo presidente – se ele for o democrata – o povo exija uma devassa que venha a apontar as verdadeiras razões da perseguição e morte de Saddam, e do conflito entre Bin Laden e os Bush, outrora amigos e sócios.
Outro sinal de que os "neocons" norte-americanos perdem seu poder: sob pressão internacional, Uribe foi obrigado a destituir altos comandantes militares, entre eles três generais, depois da descoberta dos corpos de dezenas de jovens, seqüestrados nas cidades e assassinados friamente na zona rural, a fim de que seus matadores recebessem a recompensa "por guerrilheiros mortos em combate". A opinião pública norte-americana tem exigido que Washington corte sua ajuda a Uribe, e retire do país seus instrutores militares. O presidente da Colômbia, conforme investigações internas, se associa a paramilitares e narcotraficantes que, entre outros crimes, assassinam impunemente jovens pobres, a fim de contabilizar os corpos como baixas guerrilheiras. A descoberta dos corpos de rapazes inocentes, executados a tiros de fuzil e sepultados em valas comuns, é mais um libelo contra o governo colombiano e seus protetores do Norte”.
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