Há dias, mais precisamente em 15 deste mês, li no “portalexame.abril.uol.com.br” o seguinte texto publicado no endereço http://www.vidanaislandia.com:
“Eu não sou economista, mas já que também não o são nem o ministro da economia islandês (um veterinário) e nem o presidente do banco central islandês (um advogado), vou seguir em frente e fazer minha análise da crise atual e, em minha opinião, dos erros que resultaram na ruína da economia islandesa.
O PANO DE FUNDO
A atual crise financeira mundial começou, como todos sabem, nos EUA com as chamadas subprime ‘mortgages’, hipotecas de imóveis de alto risco que eram re-empacotadas como produto de investimento e revendidas para o mercado mundial.
Quando ficou claro que esse grande volume de "dívidas tóxicas" não tinha nenhuma chance de ser pago pelos devedores originais, o pânico se espalhou e vários bancos americanos que investiram pesado nesse tipo de investimento caíram. Com isso, bancos no mundo todo passaram a re-avaliar suas linhas e crédito para outros bancos, em caso de risco de falência dos bancos devedores, e essas linhas de crédito entre bancos começaram a secar. Esse é o pano de fundo para a crise islandesa.
Vamos dar uma olhada rápida agora no panorama do mercado financeiro islandês há um mês. Os três bancos comerciais islandeses, sendo estes, Glitnr, Landsbanki e Kaupthing, representavam mais de 60% da economia do país, e juntos tinham em patrimônio de $150 bilhões de dólares, nove vezes, isso mesmo, nove vezes o PIB da Islândia. E até um mês atrás os três bancos estavam bem, não tinham investimentos em subprimes americanos ou "dívidas tóxicas" e estavam os três dando lucro e crescendo.
O que foi que aconteceu de errado com eles então? Ah, essa é uma história de pânico, erros e despreparo.
O PRIMEIRO GRANDE ERRO DO GOVERNO
A crise islandesa começou há duas semanas. Com a crise nos EUA, as linhas de crédito entre bancos ficaram mais restritas, e foi então que o terceiro maior banco islandês, Glitnir, começou a ter problemas para financiar suas operações. Glitnir então pediu um empréstimo para o banco central islandês. Foi aí que o governo islandês cometeu o primeiro grande erro. Ao invés de dar ao Glitnir o empréstimo que o banco pediu, o banco central islandês decidiu nacionalizar o Glitnir, declarando todas as ações do banco de valor zero e tomando 100% do banco em poder do governo.
A nacionalização forçada do Glitnir é unanimemente considerada pelos islandeses hoje como um tremendo erro de enorme conseqüências. E tem mais, os islandeses acreditam que Glitnir foi nacionalizado como uma vingança pessoal do diretor do banco central islandês, Davíð Oddsson, contra seu inimigo jurado, o multibilionário islandês Jón Ásgeir Jóhannesson, que era grande acionista do banco. Parece que, por causa de uma vingança pessoal, Oddsson desencadeou um processo que ia terminar na ruína econômica do país.
O setor financeiro da Islândia, e a economia islandesa de forma geral, é um verdadeiro castelo de cartas. A nacionalização do Glitnir significou que muitas empresas e bancos perderam muito dinheiro, e passaram a ficar numa situação delicada.
No mercado financeiro internacional, com a notícia da nacionalização do Glitnir, a atenção dos bancos e investidores se voltou para a Islândia. Os investidores internacionais se assustaram com o fato dos bancos serem tão maiores do que o resto da economia islandesa, concluindo que assim seria impossível para o governo islandês socorrer qualquer outro banco que venha a falir - a conclusão foi de que qualquer dinheiro em bancos islandeses estaria correndo extremo risco.
O resultado foi que as linhas de crédito se fecharam, e nenhum bancos mais emprestava dinheiro para bancos islandeses. Assim, apenas quatro dias depois, tendo levado um enorme prejuízo com a queda do Glitnir e agora sem acesso à crédito para financiar seu funcionamento, essa foi a vez do segundo maior banco islandês, o Landsbanki, chegar à beira da falência e também ser nacionalizado.
No espaço de uma semana, dois dos três gigantes da economia islandesa caíram, mas ainda havia esperança de que o maior banco islandês e um dos maiores bancos da Europa, Kaupthing, ainda sobreviveria.
O SEGUNDO GRANDE ERRO DO GOVERNO E A RETALIAÇÃO (ANTI-?) TERRORISTA BRITÂNICA
Foi agora que o governo fez islandês fez seu segundo grande erro. Landsbanki era dono de um banco na Inglaterra chamado ‘Icesave’, que tinha mais de $5 bilhões de dólares em depósitos de clientes britânicos. Ao invés de negociar com cautela a situação desses clientes britânicos, o primeiro-ministro islandês declarou numa bravata que simplesmente o dinheiro havia sumido e que os clientes britânicos não veriam nem um centavo de seus depósitos. O governo do Reino Unido retaliou congelando todo o patrimônio de todos os bancos islandeses no Reino Unido, incluindo o patrimônio do banco Kaupthing que ainda estava de pé e não tinha nada a ver com o banco Icesave de propriedade do falido Landsbanki.
Esse bloqueio do patrimônio dos bancos islandeses foi um absurdo por si só, em que o primeiro ministro britânico Gordon Brown, que vinha precisando de uma melhora de popularidade, se utilizou da lei antiterrorismo inglesa (isso mesmo!) para fazer o tal congelamento.
Sem acesso ao seu patrimônio de mais de $10 bilhões de dólares no Reino Unido, na forma do banco Kaupthing Edge que operava em Londres, a sorte do banco Kaupthing estava fadada, e o banco foi nacionalizado, falido, dois dias depois do congelamento (anti-?) terrorista de seu patrimônio pelo governo britânico.
CONCLUSÃO
Essa é a história de como um país chamado por muitos de "Tigre Ártico" teve sua economia arrasada em questão de duas semanas. Os três grandes bancos se foram, os ingleses ainda querem seu dinheiro de volta, várias empresas da real economia islandesa correm agora o risco de quebrar porque tinham investimentos nos bancos falidos, o dólar subiu 110% contra a krona, e a Islândia anda por esses dias de chapéu na mão pedindo dinheiro para qualquer um que possa emprestar.
Para fechar essa minha análise, eu tenho que dizer que mesmo com o terrível estado atual da economia da Islândia, em minha opinião os fundamentos da economia que ainda são sólidos. A Islândia tem uma população de altíssimo nível de educação e com um forte espírito empresarial, o país tem grande riqueza energética, e ainda tem a riqueza dos mares que foi a base da incrível ascensão desse país que ainda há 100 anos era um dos mais pobres do mundo e chegou a ser um dos mais ricos. Os próximos anos serão de recessão econômica, com certeza, mas a Islândia vai se recuperar, disso eu não tenho dúvida.
Repetindo a mensagem da faixa que vi hoje numa das rodovias de acesso à Reykjavík, colocada ali recentemente, com certeza com o intuito de animar os ânimos dos islandeses deprimidos com a crise atual - Áfram Ísland - Pra frente Islândia!”
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