O blog do jornalista Luis Nassif postou ontem o seguinte texto na Coluna Econômica:
“Há muitas visões sobre os desdobramentos da crise mundial. No médio e longo prazo, um quase consenso de que o país sairá fortalecido da crise – muito mais forte do que antes da crise. No curto prazo, as opiniões se dividem desde aqueles que apostam em uma pancada dolorosa (por conta do desaparecimento do crédito) até os que pensam em um leve arrefecimento do nível de atividade.
Dentre os otimistas, o mais consistente, até agora, tem sido o senador Aluizio Mercadante, com quem conversei antes de ontem, na cerimônia do prêmio “As Empresas Mais Admiradas do Ano” da Carta Capital.
O primeiro diferencial brasileiro, segundo Mercadante, são as reservas cambiais, que permitirão a travessia para uma situação de equilíbrio maior nas transações correntes.
A segunda, é a gordura dos depósitos compulsórios (o percentual que os bancos são obrigados a manter em reserva no Banco Central). Segundo Mercadante, na Europa o compulsório é de 2%; em muitos países, não tem. O Brasil tem o maior compulsório do mundo (50%), permitindo grande margem de manobra ao BC.
O terceiro item é dispor de um sistema bancário sólido. A atual crise vai afetar bancos pequenos e médios. Mas há um trinca imbatível dos nove maiores bancos: os públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES), os privados nacionais (Bradesco, Itaú e Unibanco) e os três estrangeiros (Santander, HSBC e ABN-Amro).
Além disso, segundo Mercadante, no próximo ano haverá duas pressões a menos sobre a dívida pública. A primeira, decorrente da própria desvalorização do real. Em outros tempos, essa desvalorização provocaria um aumento da dívida, já que parte dele era dolarizada. Agora, com a desdolarização da dívida e com as reservas cambiais, a desvalorização permitiu uma queda de cinco pontos percentuais na relação dívida/PIB.
Somada aos juros menores da Selic – que serão reduzidos inapelavelmente em função da nova conjuntura -, haverá mais espaço para outros gastos públicos.
Finalmente, Mercadante aponta a ação pró-ativa do BC e da Fazenda. O BC não hesitou em abrandar o compulsório e fazer leilões de dólares.
Contrapontos importantes. A operacionalização das medidas está sendo muito lenta.
Seria mais eficaz a montagem de uma espécie de Sala de Situação, a exemplo do que ocorreu na crise de energia. Além disso, há dúvidas de monta sobre a capacidade do governo manter o ritmo do PAC e do crédito.
Hoje em dia, todas as grandes empresas estão com o pé na embreagem, para averiguar se reduzem a marcha ou mantém o ritmo. A maior ou menor rapidez do BC em resolver os problemas de empoçamento do crédito é que definirão seu ritmo.
Fatos relevantes a serem acompanhados nos próximos dias:
1. A decisão de Ben Bernanke de começar a atuar sobre os mutuários inadimplentes.
Deveria ter sido tomado desde o início da crise. perda de tempo vai custar caro mas, finalmente, entra-se no cerne da questão.
2. Os dados de desaquecimento mundial - China, Europa, montadoras reduzindo produção.
3. A decisão da China de criar uma espécie de subsídio para sua indústria têxtil. Se descambar para protecionismo, repetirá os EUA em 1929 e ampliará a crise global”.
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