sexta-feira, 19 de junho de 2009

COMANDANTE DE AIRBUS OPINA SOBRE O ACIDENTE DO AF 447

Recebi de amigo o seguinte relato de Fábio Farias, experiente comandante de Airbus A340-500 e, por anos, do Airbus A330:

“Gostaria de passar algumas informações com relação ao acidente da AF. Posso dizer apenas que o assunto é muito complexo e, portanto, difícil de tirar uma conclusão baseada apenas nas evidências atuais.

Porém, se for para especular, acho que estou em melhor condição que muitos repórteres e curiosos da nossa imprensa. Eu pilotei o A330-200, de 2001 até 2007, e depois passei a voar o A340-500 (quatro turbinas e 132 ton mais pesado), com tecnologia similar ao A330.

Estes aviões são computadores voadores. Todos os comandos que existem na cabine são na realidade terminais de um teclado de computador disfarçados em alavancas, interruptores, teclas etc. Tudo para dar ao piloto uma sensação de um avião convencional, ao qual nós pilotos estamos acostumados. Pergunta: o avião é seguro?

Sim, super seguro. As chances de algo muito errado acontecer a todos os computadores ao mesmo tempo é, realisticamente falando, impossível. Somente para o caso específico dos controles de voo, por exemplo, temos seis computadores, com dois canais cada, e que podem funcionar independentemente ou em conjunto com até 26 combinações. Para alimentar eletricamente todos os sistemas, o avião possui 3 geradores normais, um gerador de emergência, que é acionado pelo ar de impacto, e duas baterias com autonomia de 30 minutos. Apenas um gerador é suficiente para alimentar todos os sistemas de voo por tempo indeterminado.

Então o que aconteceu ao AF? Eu acho que foi um conjunto de fatores extraordinários, que, somados, não deram a menor chance aos pilotos de usarem todos os recursos disponíveis. Uma turbulência extremamente forte, que normalmente vem associada a formação rápida de gelo ou chuva de granizo, pode extraordinariamente bloquear ou danificar todos ou quase todos os sensores externos que todo avião possui (até os mais simples) e que são essenciais para o funcionamento dos instrumentos a bordo.

Uma nuvem do tipo "cumulo nimbos" pode ter em seu interior pedras de gelo com diâmetro de até 20 centímetros, deslocando-se com velocidade superior a 300 km/h.

Mesmo desviando de uma formação assim, uma aeronave pode ser atingida por uma saraivada de granizo estando a mais de 25 km de distância da nuvem. Voando à noite, próximo a nuvens pesadas com turbulência severa, formação de gelo ou granizo, sensores danificados e sem indicação de velocidade e/ou altitude qualquer avião fica condenado a entrar em atitude anormal, atingindo velocidade muito acima da máxima estrutural de homologação, comprometendo a integridade estrutural da aeronave. Todo avião tem procedimento alternativo para voar sem indicação nenhuma de velocidade ou sem indicação de atitude ou com restrição elétrica ou despressurizado ou com controles de voo parcialmente travados... Porém, com tudo isso ao mesmo tempo ...

Vamos aguardar a investigação das autoridades competentes; aí saberemos o que realmente aconteceu.”

FONTE: texto do Cmt Fábio Farias, recebido por terceiro em 18/06/2009

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