Anteontem e ontem, este blog reproduziu a 1ª e a 2ª Parte da entrevista concedida pela Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff ao jornal inglês da ultradireita "Financial Times". Hoje, postamos, a seguir, a última parte da entrevista. A fonte foi o site "Vi o Mundo", de Luiz Carlos Azenha.
A entrevista de Dilma ao Financial Times (3)
Terceira e última parte de entrevista concedida pela ministra Dilma Rousseff a Jonathan Withley, do Financial Times, publicada pelo diário britânico no dia 7 de setembro de 2009:
FT: Então quem vai pagar pelos primeiros anos de investimento?
DR: Nós vamos. Com os 5 bilhões de barris de petróleo.
FT: Mas quem vai emprestar o dinheiro?
DR: Hoje, se você olhar para este ano, saindo da crise, há 12,5 bilhões de dólares que nós garantimos, 10 bilhões de dólares de um contrato com a China, no qual nós fornecemos o petróleo e a China adianta o dinheiro. Então são 22,5 bilhões de dólares. Para chegar a 31 bilhões faltam 8,5 bilhões, Ok? E conseguimos isso no mercado internacional. Assim há várias formas de capitalizar a Petrobras. Sem sombra de dúvidas, a Petrobras vai se tornar, por causa do pré-sal, uma jogadora grande e interessante para se fazer parcerias, para fazer investimentos e empréstimos. Com o retorno do crescimento econômico em países desenvolvidos e a performance dos países emergentes estamos certos de que a Petrobras vai oferecer investimentos extremamente atrativos. Não temos dúvidas disso, desde os financiadores tradicionais, os bancos, especialmente se a situação deles melhorar, e de outros parceiros internacionais que vão aparecer. Estamos certos de uma coisa. Esse teste de stress que o governo brasileiro e a Petrobras atravessaram, que aconteceu depois da falencia da Lehman Brothers e do fechamento completo das linhas de crédito internacionais, nós sobrevivemos. Assim, se nós sobrevivemos o pior cenário dos tempos recentes eu não tenho a menor dúvida de que a Petrobras terá toda possibilidade de levantar dinheiro nos mercados internacionais. Se você olhar a performance da indústria de petróleo, só a Petrobras e uma outra companhia apresentaram lucros.
FT: Quando será a próxima rodada de leilões?
DR: Temos de esperar que isso [o novo marco regulatório] seja aprovado no Congresso. O ministro Lobão disse em uma entrevista coletiva que ele estava considerando a possibilidade de fazer uma rodada de leilões este ano, De concessões, não de compartilhamento, não do pré-sal. Para o pré-sal temos de esperar o marco regulatório. É por isso que o governo está usando o regime de urgência no Congresso [que dá ao Congresso 90 dias para aprovar ou rejeitar os projetos]. Agora, estamos confiantes de que o Congresso vai avaliar isso rapidamente para que nós possamos começar a trabalhar no pré-sal.
FT: Qual será o impacto de tudo isso nas eleições do ano que vem?
DR: É assim. No Brasil temos uma situação difícil e gostei que você tenha feito a pergunta. A vida é dura, nós temos um ciclo de quatro anos dos governos federal e estaduais e um ciclo separado para os governos municipais o que nos dá eleições a cada dois anos. Ou você acaba de ser eleito, ou está no ciclo municipal, ou está no ano intermediário, ou de novo num ano eleitoral. Então não é possível imaginar que as coisas só podem ser feitas no Brasil em anos não-eleitorais, ou não teríamos tempo de fazer nada. E não estamos numa situação em que as pessoas podem ficar esperando. Este ano eles estão dizendo que tudo o que fazemos tem objetivo eleitoral, e este é um ano intermediário. Imagine no ano que vem.
FT: Bem, é no ano que vem que esses projetos provavelmente serão aprovados.
DR: Sim, tem de ser aprovados no ano que vem.
FT: E sua candidatura?
DR: Essa candidatura, é algo, não sei se você entende a expressão brasileira, mas sempre digo à imprensa brasileira que não falarei sobre minha candidatura nem amarrada. Mas deixe-me dizer uma coisa sobre o pré-sal. Olhamos outros marcos regulatórios em todo o mundo. Não eu, mas comissionamos um estudo ao BNDES. Olhamos em Angola, em tudo da Noruega, nos Estados Unidos, o que foi feito no Mar do Norte, no Oriente Médio. Analisamos contratos e sistemas de leilão e digo uma coisa. Em poucos lugares havia leilões puros, em pouquíssimos lugares.
FT: Você pensa que vocês criaram um novo modelo?
DR: Nós adaptamos várias coisas ao Brasil, mas tínhamos de adaptá-las, porque aqui, por exemplo, se você comparar o Brasil e a Noruega, existem enormes diferenças por causa da história de cada país. Nós começamos no Brasil com todo mundo dizendo que não havia petróleo. E a Petrobras cresceu com cada passo que tomamos, lado a lado. Não deu grandes saltos. Cresceu junto com o conhecimento que temos sobre nossas reservas. E foi a Petrobras que fez as descobertas, em contraste com o que aconteceu na Noruega, onde parte das descobertas foi feita por companhias internacionais de petróleo. E então a Statoil veio mais tarde e assumiu controle das reservas. Aqui o processo foi diferente. Começamos com grandes dificuldades, porque o óleo da Bacia de Campos era pesado, com grande conteúdo sulfuroso e difícil de achar. Então o regime de concessão era certo para aquele momento.
E atraiu empresas de porte médio, como a Galp. A Chevron veio mas era a única das grandes. Mas as grandes apareceram com força no dia que vendemos concessões para a área do pré-sal. E as razões foram o tamanho das reservas e a qualidade do petróleo. Isso explica a presença das grandes empresas de petróleo em algumas partes estranhas do mundo. Naturalmente que as condições de operação são um fator, mas não tanto quanto querem te fazer acreditar. Naturalmente que as empresas gostariam que mantivessemos o sistema de concessões. Mas não é o que as atrai. É a quantidade e a qualidade do petróleo. O executivo de uma companhia me disse isso outro dia, o que conta é a clareza e a estabilidade das regras. E o Brasil tem regras claras e estáveis. E ele não disse isso para me deixar feliz. É o que vai acontecer.
Vamos definir regras claras e estáveis. E é possível nessas condições para uma companhia internacional de petróleo e uma companhia nacional de petróleo, como acontece em outros países, entrarem em um contrato e realizarem lucros. Hoje não é uma questão trivial ter acesso a reservas. Pensamos ter criado um mercado estável e atrativo no qual as companhias internacionais de petróleo vão querer operar sob essas regras, que esperamos serão aprovadas pelo Congresso. Pelo menos é o que propusemos. O Congresso sempre pode mudá-las. Mas deixe-me dizer que o pré-sal é um passaporte. É um passaporte para sair da condição de país mais desigual do mundo."
FONTE: site "Vi o mundo".
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