por Diego Salmen, em Terra Magazine
"A crise em Honduras poderia ter um desfecho diferente caso os Estados Unidos decidissem aplicar "constrangimentos maiores" ao governo golpista. A avaliação é de Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais.
- Se os Estados Unidos decidissem aplicar constrangimentos maiores a Honduras, isso teria um impacto muito mais forte.
Em entrevista a Terra Magazine, o professor Marco Aurélio nega que o Brasil tenha agido deliberadamente ao abrigar o presidente destituído de Honduras, Manuel Zelaya, em sua embaixada no país centro-americano.
Nega, também, que a motivação por trás dessa postura seja a tentativa de garantir uma vaga no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). "A evolução dos acontecimentos é que levou o Brasil a ter um protagonismo e uma visibilidade maiores", diz.
Confira a entrevista.
Terra Magazine - O presidente Lula diz que o Brasil não vai aceitar "ultimato de golpistas". Mas como lidar com essa ameaça sabendo que Michelleti tem o poder de fato no país?
Marco Aurélio - Ele tem o poder de fato, mas se ele... Ele já declarou que não pretende invadir a embaixada. E se invadir ou realizar qualquer ato de hostilidade maior, evidentemente que ele estará exposto às sanções do Conselho de Segurança da ONU.
O Brasil retaliaria unilateralmente, caso isso ocorresse?
Nós já retaliamos, não unilateralmente, mas multilateralmente. Nós suspendemos financiamentos, toda a ajuda financeira, passamos a exigir vistos para eles... É claro que aí nós procurariamos acentuar sanções multilaterais, e é um país que não tem condições de se sustentar por muito tempo sozinho. Ele já está numa situação bastante difícil.
Até por isso o senhor não acha que os EUA, por terem mais poder, poderiam ter uma participação maior na restituição de Zelaya?
Sem dúvida nenhuma. Se os Estados Unidos decidissem aplicar constrangimentos maiores a Honduras, isso teria um impacto muito mais forte.
O Brasil tem alguma preocupação com as declarações de Zelaya incitando à desobediência civil no país?
Não, o governo brasileiro já pediu para o Zelaya se abster de fazer declarações, evidentemente para não criar uma situação constrangedora para ele mesmo. Nós não queremos transformar a embaixada brasileira num escritório político, mas eu acho que ele vai seguir essa orientação.
Neste fim de semana o presidente Lula se reuniu, na Cúpula América do Sul-África, com personalidades como Muammar Kadafi (presidente da Líbia) e Robert Mugabe (presidente do Zimbábue), consideradas ditadores pela comunidade internacional. Isso não enfraquece a postura pró-democracia do Brasil em relação a Honduras?
Não... Veja bem: nós estamos observando na África e de uma maneira geral um movimento muito forte não só de recuperação econômica, mas também de recuperação da democracia. Nossa posição não é de nos imiscuir em questões políticas internas de outros países.
E em Honduras?
No caso de Honduras, foi um recurso internacional, generalizado e o tema foi tratado em primeiro lugar na OEA. Nós tratamos inclusive com muito cuidado; em um primeiro momento, havia alguns dizendo que o Brasil não estava fazendo o suficiente, estavam querendo que nós tivéssemos uma atitude mais adequada para o momento. De maneira geral, nós temos uma política, diante desses fenômenos, sobretudo em áreas mais distantes da nossa, de não pregar políticas de isolamento e constrangimento, muito pelo contrário: buscamos, pela persuasão, fazer com que essas situações melhorem.
Mesmo no caso de Mugabe, o ministro Celso Amorim já havia estado lá há alguns meses, manteve contatos com ele e com a oposição, e hoje há uma situação um pouco diferente. Há um acordo (de Mugabe) com a oposição. É um processo de caráter mais democratizante no país.
O senhor acredita que essa postura do Brasil na crise em Honduras ajudará o país a pleitear uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU?
Em primeiro lugar, não é isso que está nos movendo. O pessoal tem que perder a mania de achar que é isso o que está nos movendo, de maneira nenhuma. Não é essa a preocupação. Nós tinhamos uma atitude muito moderada no caso de Honduras, e até discreta. Isso ganhou uma visibilidade a partir do momento em que o Zelaya, o presidente constitucional, bateu às portas da embaixada brasileira pedindo proteção.
E evidentemente o Brasil não poderia deixar de oferecer essa proteção, sobretudo se tratando do presidente constitucional. Se fosse outro caso, nós poderíamos adotar uma norma mais estrita de asilo. A evolução dos acontecimentos é que levou o Brasil a ter um protagonismo e uma visibilidade maiores, e não uma ação deliberada da nossa parte."
FONTE: publicado hoje (28/09) pelo portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes. Reproduzido, também, no portal "Vi o mundo".
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