quinta-feira, 10 de setembro de 2009

DE VOLTA À CONCORRÊNCIA

Conheça os caças que interessariam ao governo brasileiro, no âmbito da concorrência F-X2

ESTADOS UNIDOS

F/A-18E/F Super Hornet

Fabricante: Boeing - Primeiro voo: 29 de novembro de 1995 - Envergadura: 13,6m - Comprimento: 18,5m - Altura: 4,87m - Peso: 29,9t - Velocidade máxima: 2.148km/h - Teto de voo: 15.240m - Autonomia: 2.346km - Principais armamentos: 1 metralhadora M61 Vulcan de 20mm; mísseis ar-ar, ar-terra e antinavios; bombas de munição precisa; bombas guiadas a laser; bombas de ferro Mk 80 e bombas de fragmentação CBU-89


SUÉCIA

Gripen NG

Fabricante: Saab - Primeiro voo: 27 de maio de 2008 - Envergadura: 8,4m - Comprimento: 14,8m - Altura: 4,5m - Peso: 16t - Velocidade máxima: 1.312km/h - Teto de voo: 15.240m - Autonomia: 4.070km - Principais armamentos: 1 canhão Mauser BK-27 de 27mm; 4 bombas guiadas a laser; 4 foguetes; 2 mísseis antinavios; 2 bombas de fragmentação; 8 bombas Mark 82; 6 mísseis Sidewinder ar-ar e 4 mísseis AIM-120 ar-ar


FRANÇA

Rafale

Fabricante: Dassault - Primeiro voo: 4 de julho de 1986 -Envergadura: 10,8m - Comprimento: 15,3m - Altura: 5,3m - Peso: 21,5t - Velocidade máxima: 2.125km/h - Teto de voo: 18.288m - Raio de combate: 1.852km - Principais armamentos: 1 canhão 30mm Giat 30/719B, bombas convencionais, mísseis e mísseis nucleares


De volta à concorrência

Após o Brasil negar o fim da negociação para a compra de caças, EUA reafirmam a oferta de transferir tecnologia para a fabricação dos aviões de combate e Suécia garante continuar no páreo

O comunicado do Ministério da Defesa que garante a continuidade da concorrência F-X2, da Força Aérea Brasileira (FAB), reanimou o governo norte-americano e os empresários da Boeing, a principal concorrente da francesa Dassault na disputa. Ontem, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília divulgou nota na qual reafirma que seu governo aprovou a “transferência de toda a tecnologia necessária” e destaca que o Congresso americano não fez objeção à proposta de venda feita ao Brasil. Demonstrando confiança de que nada está definido ainda, dois altos representantes da Boeing chegarão ao país amanhã. Na pauta, conversas com empresários do Rio de Janeiro e de São Paulo sobre parcerias para os caças. A sueca Saab, que concorre com o caça Gripen, declarou não ter sido informada sobre qualquer decisão e admitiu continuar firme na disputa.

Apesar da ponta de esperança dada aos outros concorrentes pelo Ministério da Defesa após a decepção causada pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última segunda-feira, o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, deixou evidente o quanto o governo tem ressalvas em fechar o acordo com os norte-americanos. O representante de Lula mostrou-se cético ao saber da nota da embaixada — o texto garante que a “aprovação do governo dos EUA para transferir ao Brasil as tecnologias avançadas associadas ao F/A-18 Super Hornet é definitiva”. A garantia já havia sido dada pela secretária de Estado, Hillary Clinton, em carta enviada ao colega, Celso Amorim.

“Transferência de tecnologia é um termo geral, e nós queremos saber as garantias efetivas do processo de tecnologia e se não vamos sofrer nenhum tipo de restrição, como, por exemplo, sofreu a venda dos Super Tucanos”(1), lembrou Garcia. Segundo ele, a decisão de iniciar negociações sobre o Rafale com os franceses se deve, em grande parte, aos “bons antecedentes” das relações entre os países — coisa que não ocorreria no caso americano. “Este antecedente (dos Super Tucanos) não é bom e os diplomatas americanos, inclusive, reconheceram que não era.”

Garcia disse que o governo não recuou em sua decisão e negou desentendimentos entre a FAB, o Ministério da Defesa e o Planalto. “Não mudou nada desde o começo. A negociação é só com os franceses. São três propostas, mas na conversa do Lula com o (Nicolas) Sarkozy (presidente francês) houve uma série de elementos importantes que nos fizeram aprofundar as negociações com os franceses. Mas não há ambiguidade, não há divisão do governo”, disse, acrescentando que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, estiveram na reunião em que ficou definida a preferência nas negociações.

Falta de sintonia

Entretanto, esta sintonia não transpareceu durante a visita de Sarkozy ao Palácio da Alvorada. Saito, que aparentemente viu o comunicado conjunto sobre o início das negociações do Rafale — pouco antes da coletiva de imprensa —, afirmou que “havia muito o que conversar”. Desde o início do ano, técnicos da FAB analisam as propostas enviadas pelos três concorrentes, e, até o meio de agosto, eles ainda pediam mais detalhes às empresas participantes sobre as propostas. A atitude demonstra que o relatório não chegou a ser concluído antes de Lula anunciar que iria “entrar em negociações” com os franceses.

O assessor internacional da presidência negou que o governo tenha “passado por cima” da avaliação feita pela FAB. “Depois (dos estudos técnicos) há considerações de ordem estratégica e política. Não há nada demais em se ter considerações de ordem política, porque ao presidente da República e ao ministro da Defesa compete, exatamente, definir as grandes orientações políticas da política de defesa do país”, declarou Garcia. “Ninguém está atropelando nenhum processo de licitação técnica”, arrematou. O ruído foi tamanho que a Comissão de Relações Exteriores do Senado convocou o ministro da Defesa para explicar, na quarta-feira, a decisão do governo de negociar os 36 caças com a França.

1 - Cartão vermelho

Em 2005, a Venezuela demonstrou interesse em comprar 24 aviões Super Tucanos produzidos pela Embraer, mas os Estados Unidos impediram o Brasil de vender ao governo de Hugo Chávez todos os itens de fabricação norte-americana presentes na aeronave, como o motor e componentes da parte eletrônica. O veto mobilizou o Itamaraty, que usou o argumento de que o Brasil seria o maior prejudicado ao não fechar o negócio, já que os venezuelanos poderiam adquirir aviões de outros países, como a Rússia e a China. A diplomacia não foi capaz de reverter a decisão de Washington, e os venezuelanos acabaram fechando acordo com a China para adquirir os seus aviões de treinamento K-8.

FONTE: reportagem de Isabel Fleck publicada em 10/09/2009 no Correio Braziliense.

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