De Peão a Rei
"Os acontecimentos dos dias 06 e 07 de Setembro, agora mais claros, podem significar uma das mais bem sucedidas ações do Governo Luiz Inácio.
Segundo a descrição dos fatos pelo jornal francês Lês Echos e também a matéria de Tânia Monteiro de OESP, a inusitada proposta, surpreendente e “arrasa-quarteirão” do presidente Luiz Inácio de propor negociações ainda na mesma noite de 06 de Setembro, continua gerando efeitos ainda impossíveis de mensurar.
Os itens polêmicos e que geram mais contestação pela FAB e Governo Brasileiro puderam ser repassados por um seleto grupo, pelo lado brasilerio Nelson Jobim , Brigadeiro Saito, Embaixador Bustani e Marco Aurélio Garcia. Pelo lado francês estavam o Almirante Edourd Guillard, chefe do Estado-Maior particular do Presidente Sarkozy, e seu adjunto o General-de-Brigada Aérea Antoine Noguier, o conselheiro diplomático do Palácio Elysée, Jean-Daniel Levitte, pela Dassault, Charles Edelstenne e Eric Trapier.
A reunião dura da 23h30min até as 03h00 e cada item discutido é redigido um parágrafo com texto em português e outro em francês. Pela manhã o presidente Sarkozy recebe o documento e concorda com os termos ali apresentados.
Na mesma manhã o Ministério da Defesa emite a nota:”Brasil e França anunciam parceria para aquisição mútua dos aviões Rafale (francês) e o KC-390 (brasileiro)”.
A nota tem enorme impacto e domina a entrevista coletiva dos dois presidentes.
O resultado é devastador nas concorrentes Boeing e SAAB. O churrasco que Sarkozy não comeu foi empurrado goela abaixo de americanos e suecos incluindo os cacos de vidro da churrasqueira que explodiu.
Atordoados os concorrentes começam na própria segunda e terça-feira a desativarem suas estruturas montadas para a competição. No final de terça o Ministro Jobim emite uma lacônica nota que a competição não está encerrada.
O efeito pelo lado brasileiro também é atordoante com o alto-comando da FAB amuado e os rumores de um pedido de demissão do brigadeiro Saito.
O jogo continua e as empresas voltam a campo e na sexta FAB em uma longa nota detalha as etapas do Projeto F-X2 e é complementada pelo MD que dá até o dia 21 de Setembro um novo prazo para os concorrentes apresentarem novas propostas.
A Boeing, em evento previamente agendado, realizou nos dias 15-16, FIESP, “Fazendo Negócios com a Boeing”. O mote é de rastrear toda a cadeia produtiva da indústria aeronáutica brasileira (cerca de 145 empresas) e apresentá-las como fornecedoras à Boeing Company . No evento a Boeing emite uma nota onde ataca o custo do caça francês: “Estamos confiantes que a nossa oferta representa a solução de melhor valor para o Brasil, ... e preço que é consideravelmente mais baixo que aquele apresentado pelo Rafale”. Na semana anterior (09SET09) a própria Embaixada Americana emitiu uma dura nota sobre o programa F-X2.
A SAAB em uma rara aparição pública do governo sueco apresentou no dia 17, na Embaixada da Suécia, em Brasília, uma nota com uma frase polêmica:” Comprar o dobro de aviões pelo preço de um avião oferecido pelos concorrentes.”
O Presidente Luiz Inácio passou de um “Peão” no F-X1 a “Rei” no jogo de xadrez do F-X2. Não quer passar pelo quase cheque-mate dado por Putin, que atrasou por duas horas o banquete oficial na sua visita a Brasília durante o F-X1 Conseguirá Luiz Inácio dominar o tabuleiro e conter os movimentos dos cavalos americanos, bispos franceses e da rainha sueca?
Caso consiga o presidente Luiz Inácio terá obtido a maior vitória de seu governo e também um caso único nas negociações internacionais na área de defesa.
O ministro Jobim anuncia como fatos relevantes no Senado na quarta-feira, em uma audiência de 5 horas na Comissão de Relações Exteriores que há três fatos relevantes no processo do F-X2: a carta de Hillary Clinton, a carta de Sarkozy e a carta dos controladores da SAAB a Família Wallemberg.
Sarkozy e Edelstenne sairam de uma vitória fulminante para uma espinhosa e dura realidade: a necessidade de confirmar a venda, para um cliente que diz ser o Rafale seu caça preferido. Passar por cima de vários dogmas que têm sido espectros nas vendas de defesa francesas, em especial da Dassault."
FONTE: artigo de Nelson During publicado hoje no site Defesa@Net.
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