"Imaginei que se juntasse alguns assuntos que tenho lido nos jornais nos últimos dias, daria uma novela imbatível em termos de audiência. Se não, vejamos.
Começaria com o primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, no papel de vilão. Ele reconhecidamente mulherengo é desmascarado quando suas histórias de orgias regadas a drogas e sexo grupal com prostitutas vêm à tona. O super vilão nunca teve escrúpulos em misturar direita e esquerda, situação ou oposição, parlamentares de todos os lados eram convidados para as festas e prontamente aceitavam, deixando de lado suas convicções políticas em prol de uma aproximação com o czar das orgias. Na novela, eles são expulsos de seus partidos, Berlusconi acaba perdendo o cargo e vai pra cadeia.
Um personagem coadjuvante seria o Governador de São Paulo, José Serra, que, ao ser entrevistado sobre as enchentes que estão causando inundações, desabamentos, mortos e feridos no estado, diz que tudo isso está acontecendo por culpa da natureza que está se rebelando. E conclama a todos para rezar pedindo que novas tragédias não aconteçam mais. Na novela, Serra acaba abrindo mão de sua candidatura à presidência no ano que vem e torna-se um ativista do Greenpeace para lutar verdadeiramente pela preservação do meio ambiente, cansado da política e de ser politico, pois prometeu sempre o que nunca cumpriu.
A história acontece em meio a um clima de violência que cresce sem controle. Num dos muitos episódios, há o do médico atacado ao chegar em casa por assaltantes que atiram nele à queima roupa só porque tentou proteger a moto que acabara de comprar. Na novela, o cirurgião sobrevive aos tiros e os criminosos, arrependidos, lhe devolvem a moto e dizem que atiraram num momento de revolta, pois só queriam tirar dele o que achavam que também tinham o direito de ter. Diante da confissão e do arrependimento, o desembargador que joga xadrez durante as sessões do tribunal da Bahia julga o caso e absolve os ladrões, citados como como exemplo típico de injustiça social.
Na nossa novela não existem mais reality shows ou programas populares que foram substituídos por debates com a sociedade que encontra espaço e voz para discutir seus problemas e cobrar soluções verdadeiras, não as anunciadas nas campanhas eleitorais. Os entrevistadores são experientes e bem informados, não trocam nomes, nem falam errado, podem ser chamados de verdadeiros formadores de opinião que informam com responsabilidade e isenção.
Quase no final da novela tem a eleição do novo presidente. Os politicos que se candidataram são pessoas de bem, honestas e dedicadas ao trabalho em prol da sociedade. O eleito vai poder contar com um parlamento onde senadores e deputados trabalham de segunda a sexta, na elaboração de leis de grande alcance social.
Todos, presidente, deputados e senadores, fazem o juramento solene de servir ao povo que os elegeu e de abrir mão de seus mandatos se um dia se servirem do povo para atitudes menos nobres.
A novela se encerra com a cantora Vanusa cantando o Hino Nacional na Praça dos Três Poderes, diante de uma multidão que grita em coro: 'povo unido jamais será vencido'."
FONTE: texto da jornalista Leila Cordeiro publicado esta semana no seu blog "Direto da Redação".
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