sexta-feira, 16 de outubro de 2009

DE VOLTA AO TOPO

Brasil conquista seu 10º mandato como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU. Reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York: multilateralismo e decisões cruciais para o planeta

"A partir de 1º de janeiro de 2010, o Brasil ocupará, pela 10ª vez, um mandato de dois anos como membro não permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A eleição do país, que agora atinge a marca de participações só conseguida pelo Japão, já estava praticamente certa — por ser o único candidato da América Latina e do Caribe — e foi confirmada por 182 dos 190 votos na Assembleia Geral. Para o Itamaraty, um novo mandato do Brasil, que substituirá a Costa Rica, “com certeza” reforça a candidatura do país para um assento permanente.

“As discussões sobre a reforma não se dão exatamente no Conselho de Segurança, mas os membros permanentes também participam desses debates. Representará um peso maior sim”, disse ao Correio a embaixadora Vera Machado, subsecretária de Assuntos Políticos. Para ela, a eleição do Brasil é mérito da atuação, nos últimos anos, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do chanceler, Celso Amorim, e da embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti, que responde pelo Brasil nas Nações Unidas e será a representante nacional no Conselho. “O grande mérito disso é, em primeiro lugar, do presidente Lula. Não que ele fizesse campanha, mas a popularidade, aceitação e apreço que ele tem angariado no mundo são uma base muito importante”, afirmou Vera Machado.

O governo brasileiro, no entanto, também fez a sua “campanha” entre os países-membros do organismo, com direito a panfletos que destacavam as credenciais do Brasil para o posto, como as mais de 30 missões de paz em que o país participou e sua crescente atuação no G-20 e no chamado G-13 (G-8 mais cinco países). A resposta foi positiva, já que apenas um país votou contra o Brasil — o voto foi para a Venezuela, que nem era candidata — e sete se abstiveram. Pouco antes da eleição, Amorim se mostrava confiante e já prometia manter os esforços em favor “da paz mundial”. “Nós sempre demos uma contribuição para a paz mundial e, com essa escolha, continuaremos dando”, afirmou, durante um evento do ministério no Rio de Janeiro.

Os outros países eleitos foram Bósnia e Herzegovina, Gabão, Líbano e Nigéria, que se somarão à Áustria, ao Japão, ao México, à Turquia e a Uganda, que cumprem mandato relativo a 2009 e 2010. Em 31 de dezembro, deixam o Conselho de Segurança Burkina Faso, Costa Rica, Croácia, Líbia e Vietnã. Os 10 membros não permanentes não têm poder de veto — que cabe apenas aos Estados Unidos, à Grã-Bretanha, à França, à Rússia e à China —, mas possuem algum poder no órgão, pois as resoluções no Conselho necessitam de nove votos a favor e nenhum veto para serem aprovadas. O Brasil já havia sido eleito para o posto em 1946, 1951, 1954, 1963, 1967, 1988, 1993, 1998 e 2004.

Haiti

Em comunicado, o Itamaraty afirmou que as prioridades do Brasil como membro eleito incluirão, entre outras, “a estabilidade no Haiti, a situação na Guiné-Bissau, a paz no Oriente Médio e os esforços em favor do desarmamento”. Também destaca a importância que o país dará ao Direito Internacional Humanitário, à evolução das operações de manutenção da paz e à promoção de uma polícia que articule a segurança com a promoção do desenvolvimento socioeconômico. O Haiti, entretanto, deve ser o principal enfoque, já que a participação brasileira na Minustah (missão de estabilização da ONU no país) é a mais importante e a que dá maior projeção ao país hoje.

Para o professor Mark Katz, especialista em Nações Unidas da George Mason University, a eleição do Brasil é positiva e reflete o momento de “crescente força política e econômica do país”. Entretanto, ele alerta para o efeito de “compensação” da decisão. “Eu temo que, elegendo o Brasil para seu 10º mandato como membro não permanente, os atuais membros permanentes tentem desviar a intenção do país para sua aspiração inicial, tornando-o permanentemente um membro não permanente”, avalia.

Vitrines diplomáticas

Principais frentes de atuação do Brasil no cenário mundial:

Honduras


A diplomacia brasileira ganhou pontos por ter arcado com o ônus de receber na embaixada o presidente deposto Manuel Zelaya, cuja recondução ao poder tem apoio praticamente unânime na comunidade internacional.

Mudança climática

A posição brasileira é vista como uma das chaves para um acordo na conferência de dezembro em Copenhague, onde a ONU buscará um tratado que suceda ao Protocolo de Kyoto a partir de 2012.

Negociações comerciais

O país integra com os EUA, a União Europeia e a Índia o quarteto que coordena a busca de um acordo para destravar a Rodada de Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Crise financeira

Como um dos primeiros países a saírem da crise financeira, o Brasil tem ganhado autoridade entre os integrantes do G-20, que reúne as maiores economias do mundo. Isso tem reforçado a posição dos que defendem a ampliação do G-8 para incluir o Brasil e mais quatro emergentes (China, Índia, África do Sul e México).

Haiti

A força de estabilização da ONU atua no país há cinco anos, sob comando brasileiro. A despeito das dificuldades que persistem, o trabalho é reconhecido, local e internacionalmente, e tem dado ao governo autoridade para cobrar compromissos dos países ricos com a reconstrução econômica."

FONTE: reportagem de Isabel Fleck publicada no Correio Braziliense de hoje (16/10).

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