Por oportuno, repito uma postagem deste blog, de 21/05/2008:
"CHILE, O REVÉS DA “VITRINE” NEOLIBERAL
O Chile, como o Brasil de Collor e FHC, também acreditou no novo modelo liberal maldosamente “vendido” pelas grandes potências para os países periféricos, camuflado com bonito papel de presente.
Pinochet, na década de 70, já havia sido o inaugurador (com o uso da força) do neoliberalismo econômico na América Latina, conduzido por seus “Chicago Boys”.
Implantou, mais de vinte anos antes do Brasil, um Plano Pinochet bem parecido com o nosso futuro Plano Real implantado no governo Itamar Franco/PMDB em 1994, depois conduzido (e indevidamente apropriada a paternidade) por FHC/PSDB.
Como viemos a imitar os chilenos no nosso plano, Pinochet escancarou as portas da economia do Chile para os produtos importados, privatizou em grande escala, não apoiou com proteções tarifárias ou com créditos a indústria e as empresas chilenas e segurou artificialmente sobrevalorizado, por alguns anos, o “peso” em relação ao dólar.
Com isso, o Chile teve, como todos nós, o seu momento de ilusão de passar para o 1º Mundo.
A inflação, como no Brasil com o Plano Real e em todas as economias que se abriram repentina e radicalmente, caiu de forma abrupta nos primeiros anos. Era a ilusão do sucesso da estabilização da moeda.
A inflação caiu em especial por conta da livre importação maciça e facilitada de bens mais baratos (pois não sofriam taxas de importação) de todas as partes do mundo desenvolvido.
O Chile já se orgulhava da sua moeda estável (mas sobrevalorizada). Porém, alguns anos depois, em 1982, teve que desvalorizar rapidamente o peso em face do dólar para evitar o colapso da sua economia. Isso também veio a ocorrer no Brasil no final dos anos 90, após a reeleição de FHC, quando já não era viável a nefasta âncora cambial sobrevalorizada para sustentar eleitoral e artificialmente o Plano Real.
O Chile pagou alto preço social por aquelas medidas liberalizantes do agrado do FMI e das grandes potências, mais especificamente dos EUA.
Como corolário secreto já previsto pelos idealizadores daquela doutrina, vieram a desindustrialização e o desemprego maciços (o Chile, hoje, sofre 12% de desemprego), o exponencial aumento da dívida externa e o hábito irreversível (por parte da população acima da faixa de pobreza) de consumir caros produtos sofisticados exportados pelos países industrializados.
Esse “reverso da medalha” inevitavelmente ocorreu nos países que seguiram o mesmo modelo, como o Brasil.
Como consequência das ‘medidas modernizantes’, vieram a grande concentração de renda naqueles poucos nacionais que lucraram com a nova situação, a ilusão de progresso com os grandes e suntuosos shopping com quase todas as lojas de marcas estrangeiras, belas butiques, com os sofisticados clubes de ricos, as luxuosas lojas de carros importados.
O resultado mais sensível foi o aumento das convulsões sociais, da marginalidade e do número de desempregados e insatisfeitos. Esses últimos problemas foram combatidos por Pinochet no Chile utilizando um ‘modo heterodoxo’, de altíssimo custo social e difícil de copiar...
Após o “boom” inicial da abertura, o Chile começou a ver seus ansiados e prometidos “nichos de oportunidade no mundo globalizado” reduzindo-se.
Restrito, basicamente, a poucos produtos primários (cobre, madeiras e frutas) --cada vez mais baratos com o aumento da competitividade de outros países e com a tendência mundial de barateamento relativo das commodities em comparação com os manufaturados de alto valor agragado-- e com o seu pequeno mercado interno, menor em população do que a cidade de São Paulo, o Chile não viu alternativa senão implorar, sem poder de barganha, sua prematura satelização aos EUA e adesão à ALCA.
No acordo bilateral inicial para essa adesão, os chilenos já “concordaram com todas as imposições norte-americanas, que mantiveram, por sua vez, o seu forte protecionismo, especialmente à agricultura” (A. Bahadian, co-presidente da Alca, Folha de São Paulo, 22/05/2004).
Hipócritamente, a economia liberalizada chilena era, e até hoje é, capciosamente elogiada pela imprensa e pelos organismos internacionais de crédito como modelo para o Brasil e toda a América Latina adotarem.
O Brasil do PSDB/FHC/PFL-DEM, mesmo tendo o país uma economia completamente diferente da chilena, em escala, mercado e em conteúdo, e já podendo observar os resultados do Plano Pinochet, ainda assim o governo demotucano acreditou no Consenso de Washington e no FMI, e conduziu a implantação do análogo Plano Real de Itamar, vinte anos após Pinochet..."
********************************************
Por que me recordo dessas velhas anotações sobre o Chile? Porque hoje (19/01) li a seguinte notícia publicada no site da Agência Brasil:
"Ditadura chilena foi uma das mais violentas da América Latina
Santiago (Chile) - O governo do general Augusto Pinochet, de 1973 a 1990, foi um dos mais violentos da América Latina. O militar liderou o golpe de Estado que derrubou e assassinou o presidente socialista Salvador Allende e o Palácio de La Moneda, sede do governo, foi incendiado. Segundo relatos e imagens da época, o dia 11 de março de 1973 foi um dos mais longos e terríveis da história chilena.
Morto em dezembro de 2003, Pinochet foi responsável por inspirar admiradores incondicionais e críticos radicais. Mesmo afastado do governo, o general atuou nos bastidores políticos do país.
Um dos mais temidos ditadores da América Latina, Pinochet governou o Chile por 17 anos. Ele foi acusado de uma série de crimes, como o desaparecimento de cerca de 3 mil pessoas e ordens de tortura aos opositores do sistema, incluindo crianças e adolescentes.
Aos 91 anos, Pinochet morreu em consequência de enfarto e edema pulmonar. A morte de Pinochet gerou manifetações a favor e contra ele. Integrantes das Forças Armadas prestaram as últimas honras. As vítimas do regime militar promoveram um ato em homenagem a Allende em Santiago.
Recentemente o tenente Augusto Pinochet Molina, que é neto do ditador e conhecido como Pinochet III, fez um discurso crítico ao governo de Michelet Bachellet. O oficial acabou expulso da corporação por sua atitude, que foi interpretada como insubordinação.
O presidente eleito do Chile, Miguel Sebastián Piñera (Alianza), de centro-direita, afirmou, durante sua campanha, que os colaboradores da ditadura não devem ser punidos. Ao participar da cerimônia de inauguração do Museu da Memória e dos Direitos Humanos, Piñera ouviu apelos para que deixasse o local."
FONTE: a 1ª parte foi escrita e postada por este blog em 21/05/2008; a 2ª parte é reportagem de Renata Giraldi, publicada hoje (19/01) no site da Agência Brasil.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Cara Teresa
1) Quem escreveu a 1ª parte ?
2) Eu fico muito preocupado e irritado com setores da sociedade que apostam o futuro do Brasil nas commodites minerais e agrícolas.
O que precisamos é de empresários (sinto, Tereza, mas para produzir com competência tem que ter o empresário) que saibam ganhar dinheiro com produtos de alto valor tecnológico, infelizmente hoje quase 100 % nas mãos das potências do Norte.
Esse modelo do Chile (da Austrália também) é fajuto.
Prezado Iurikorolev,
A 1ª parte é produção caseira. Vivemos alguns anos no Chile, nos anos 80, e lá já voltamos algumas vezes.
Concordo com suas preocupações e conceitos e com a importância de existirem empresários de empresas privadas, mas não excludentemente. Também há grandes e eficientes empresas estatais ou semiestatais: Petrobras, Air France, Iberia, EADS, Finmecanica e milhares de outras. Muitas das 'privatizações' do FHC/PSDB foram reestatizações, para estatais estrangeiras. No Brasil, por diversos motivos, criou-se tantas amarrações legais que elas asfixiam as nossas estatais. A empresa privada não significa obrigatoriamente melhor gestão. A construção civil é exemplo de ineficiência, com seus 20% a 30% de desperdício.
Quanto ao modelo chileno, ele pode ser bom para as circunstâncias deles, nunca para o Brasil.
Maria Tereza
Postar um comentário