Terra Magazine
Haiti: Marco Aurélio Garcia teme levante popular após tremor
"O assessor especial da Preseidência da Répública para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, teme levantes populare após o terremoto que arrasou o Haiti
Ainda coletando as informações dispersas que pingam no Palácio do Planalto brasileiro sobre o terremoto que atingiu o Haiti, o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, diz temer levantes da população haitiana, que convive agora com os destroços deixados na capital Porto Príncipe.
Historicamente, aponta o assessor, é muito comum que em países pobres como o Haiti aconteçam levantes populares após desastres com essas proporções. "Mas espero que aconteça uma onda de solidariedade (...) para que o país sobreviva".
O Haiti é o país mais pobre da América. Está em 146º entre os 177 países avaliados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Mais da metade da população vive com menos de 1 dólar por dia e cerca de 78% com menos de 2 dólares. Segundo Garcia, o Brasil enviará medicamentos ao país latino-americano para "evitar surtos epidêmicos, muito comuns em países pobres após desastres dessas proporções".
Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.
O tremor provocou o desabamento do palácio presidencial, de favelas da capital, Porto Príncipe, e centenas de edifícios na região. O prédio de cinco andares usado pela Organização das Nações Unidas (ONU) também desabou. Ainda não há estimativas sobre o número de vítimas fatais nem de feridos.
Leia abaixo a entrevista:
Terra Magazine - Como o senhor recebeu a notícia do terremoto no Haiti?
Marco Aurélio Garcia - Olha, estamos todos ainda ansiosos em busca de maiores informações. A capital do país, Porto Príncipe, é um lugar muito precário.
As casas são construções muito antigas e a população cresceu de maneira muito rápida e desordenada, em muito pouco tempo. O que nos mostra isso, por exemplo, é que 60% das casas foram construídas precariamente, são inseguras. Quando eu soube que um tremor tinha atingido Porto Príncipe, logo pensei que o palácio do governo não suportaria um terremoto nível sete na escala. E não suportou, assim como a embaixada brasileira no país.
O que o Brasil pode fazer?
Neste momento, o Brasil está listando os desaparecidos. Tem mais de 1.200 soldados brasileiros, uma missão da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e muitas pessoas fazendo trabalhos sociais. Nos preocupamos, é claro, com os brasileiros que estão no país, mas não deixaremos de prestar solidariedade aos habitantes locais.
Neste momento, precisam de alimentos, ajuda humanitária e enviaremos remédios para tentar evitar, ao máximo, surtos epidêmicos, que acontecem muito depois de desastres dessa escala. Precisam de água também. Muito triste a situação no país.
E o que o Brasil pode fazer de imediato?
De imediato, podemos enviar nossa delegação diplomática, alimentos, remédios, água - que é demasiado importante - e colaborar nas buscas. Daqui, podemos prestar assistência aos familiares dos brasileiros que estão lá.
Qual consequência é mais preocupante, além, é claro, das destruições visíveis?
Historicamente, desastres com essas proporções em países muito pobres geram levantes populares ou uma onda de solidariedade. Espero que a solidariedade entre os habitantes exista, isto será de extrema importância neste momento para que o país sobreviva. O Brasil se debate nesse sentido há muito tempo para poder ajudá-los.
Ainda há críticas à presença das tropas brasileiras no país?
Acredito que são poucas as pessoas críticas. Todo mundo que tem um pouco de conhecimento sabe que as tropas, não só as brasileiras, fazem um trabalho muito humanitário pela contenção da violência. As tropas estão lá sob desejo do governo haitiano, que pede a manutenção delas. Há também a opinião da Organização das Nações Unidas, e o Congresso brasileiro que tem sido chamado a opinar sobre isso. Os soldados brasileiros não estão lá por um capricho do ministro da Defesa. É uma decisão que foi muito correta e estou absolutamente certo de que se estivessem outras tropas lá, a situação seria incontrolável."
FONTE: reportagem de Marcela Rocha (foto de Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) publicada no portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes.
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