quinta-feira, 22 de abril de 2010

LULA FALA SOBRE TUDO: ÍNTEGRA DA LONGA ENTREVISTA PARA O "CORREIO BRAZILIENSE"


Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao jornal Correio Braziliense, no Palácio da Alvorada, em 20 de abril de 2010.

Jornalista: Presidente, primeiro eu gostaria de agradecer, aqui, pelo grupo, essa entrevista aí. Mais uma vez o senhor todo solícito, aí, nessa agenda complicada, de presidente da República. Então, aqui, em nome do grupo, fazer esse agradecimento aí, pela frente.

Presidente, nós temos... Acho que até o ministro Franklin colocou, o mote dessa entrevista toda também passa um pouco pelos 50 anos de Brasília. No Correio Braziliense, falando um pouco, aqui, do nosso jornal, e é um jornal que surgiu junto com a cidade, eu acho que é o único jornal que a gente tem registro no mundo, que nasceu junto, literalmente, com a cidade, circulou no dia 21 de abril de 1960. Mas isso é só para justificar a pergunta.

O senhor acha que nesse cinquentenário de Brasília, todos esses acontecimentos, o senhor acha que o brasiliense ainda tem muito motivo para comemorar essa cidade, essa... toda essa pujança que Brasília virou, esse crescimento do Brasil, em cima disso? Como é que o senhor analisa, hoje, essa questão política, hoje, de Brasília?


Presidente: Primeiro, José Mário, eu estou convencido que o povo de Brasília tem que comemorar os 50 anos de Brasília. Não pode ser misturado o significado de Brasília para a sociedade brasileira, o significado de Brasília como capital da República, não pode ser confundido com os administradores que cometeram o absurdo de cometerem erros. Ou seja, muitas vezes os erros são cometidos porque as pessoas acham que são impunes, ou seja, são... não tem... ninguém vai saber.

E eu acho que Brasília, de um lado, tem que estar de luto, porque aconteceu essa barbaridade que aconteceu mas, ao mesmo tempo, tem que ter orgulho de Brasília. Brasília é uma cidade extraordinária, é uma cidade que tem crescido muito acima daquilo que foi previsto por Oscar Niemeyer, que foi previsto por Juscelino. E ela cresceu, eu diria, quase que um pouco desordenada, ou seja, acho que houve irresponsabilidade em alguns momentos da história de Brasília, em tentar trazer para cá, de forma desordenada, gente para morar em condições inadequadas, ou seja, se Brasília tivesse crescido como se pensou no início, ela seria muito mais humana.

Porque Brasília é isso, Brasília tem um lado humano, que é o Plano Piloto, que são os centros das cidades-satélites, e tem o lado desumano, que são os entornos, onde as pessoas moram em situações totalmente adversas. Mas, ainda assim, eu acho que o povo tem que comemorar, porque foi uma epopeia o nosso Juscelino cumprir uma coisa que tinha sido pensada em 1823, e ele ter coragem de fazer. Porque não era fácil tirar a capital do Rio de Janeiro.

Jornalista: Foi difícil.

Presidente:
Eu lembro de uma conversa que eu tive com o Roberto Marinho. Eu estava com o Aloysio Mercadante e fiz uma entrevista com ele, e ele dizia que era importante devolver a capital para o Rio de Janeiro. Então, eu acho que o povo tem que comemorar, sim.

Jornalista: Agora, nós fizemos uma eleição no final de semana, aqui, uma eleição indireta, em que o candidato indicado pelo PMDB ganhou. E praticamente se aproxima, aí, de uma situação institucional mais cômoda. O senhor acha que nesse sentido, sem ter uma interferência de poderes, ou uma opinião, mas o senhor acha que ainda cabe a intervenção nesse estado?

Presidente:
Olha, essa coisa é uma coisa que depende única e exclusivamente do Poder Judiciário. Não cabe ao presidente da República dizer se cabe ou não uma intervenção. Acho que o Poder Judiciário, em função das informações que tem, deve tomar a decisão, ou seja, se for manter do jeito que está, o governador que ganhou por 13 votos na Assembleia tem mais é que tocar.

A minha maior preocupação com Brasília era a paralisação das obras de Brasília. Eu até pedi para a CGU fazer uma investigação em todas as obras com o governo federal...

Jornalista: Deu no que deu, não é?

Presidente:
...o mês passado, porque era preciso fazer um levantamento para que a gente pudesse mostrar para a sociedade. Pedi para a ministra Erenice fazer um levantamento de como estava o andamento de cada obra. Porque nós não podemos, em função de uma crise política, ver o povo ser prejudicado, sabe, no transporte, ver o povo ser prejudicado na política habitacional.

Então, a minha preocupação era essa, ou seja, nós fizemos um levantamento, detectamos coisas graves, e uma das mais graves que nós detectamos foi 300 milhões da área da saúde depositada em uma conta bancária para render...

Jornalista: Para fazer (incompreensível), não é?

Presidente:
É, porque, na verdade, aquele dinheiro deveria estar sendo pago o salário de médico, sendo comprado remédio. Mas, de qualquer forma, a CGU fez um bom trabalho. Havia dúvida se a CGU deveria ou não comunicar à imprensa e eu disse ao Ministro que era importante comunicar à imprensa, para que a gente pudesse fazer com que Brasília voltasse à normalidade mais rapidamente. E o que é voltar à normalidade? De um lado, é você apurar todas as denúncias no Poder Judiciário, de outro lado, você tocar as obras que estão aí, com a maior rapidez, porque o povo precisa. Não são obras que são aleatórias, são obras que o povo necessita, precisa, que vão desde a habitação do Programa Minha Casa, Minha Vida, até o esgotamento sanitário, e eu acho que as coisas começam a andar agora. Eu espero que enquanto a Justiça não decide, o novo governador comece a trabalhar urgentemente, para que Brasília volte à normalidade e possa ir para a frente.

Jornalista: Presidente, nós temos eleições, também, o país deve passar por eleições em outubro. O PT vai ter uma chapa aqui em Brasília, está se desenhando Agnelo como candidato ao governo, Cristovam Buarque, seu ex-ministro da Educação e Rodrigo Rollemberg como candidatos ao Senado. É essa a chapa que o senhor vai defender? O senhor vai fazer campanha aqui?

Presidente:
Não. Primeiro, um presidente da República não defende chapa dentro do PT, em cada estado. Ou seja, o presidente da República normalmente acata aquilo que os companheiros do estado fizeram. Se o Agnelo, como candidato a governador e a direção do Partido entendem que é necessário fazer essa composição para que a gente possa ganhar as eleições, eles que sabem. Agora, nessa chapa toda está faltando um componente, que é o PMDB aqui, em Brasília, ou seja...

Jornalista: Que se fortaleceu agora, não é?

Presidente:
Para onde vai, não sei se o PT está conversando com o PMDB, mas acho que é importante conversar, porque o PMDB é peça importante na aliança nacional que o PT quer fazer.

Jornalista: Presidente, nessa questão...

Presidente:
Mas, de qualquer forma, de qualquer forma, José Mário, é importante dizer o seguinte: os companheiros, quando trabalham a elaboração de um acordo regional, normalmente o pessoal trabalha com informações de probabilidades, com informação de pesquisa, e aí o pessoal tenta. Como todo mundo pensa que vai ganhar, cada um monta a chapa achando que aquilo vai ser a menina dos olhos dos eleitores. Vamos ver se dá certo.

Eu acho que o Agnelo é um homem de muita respeitabilidade. Acho que o Agnelo é um homem de uma dignidade incomensurável, um homem... Tive a oportunidade de conhecê-lo no PCdoB e, agora, no PT, mas, sobretudo no governo, é um homem de qualidade invejável. Portanto, eu acho que ele vai empolgar os eleitores de Brasília.

Jornalista: Presidente, voltando um pouco a essa questão regional também, antes da gente entrar na nacional, até um pouco aqui, porque também nós tomamos conta dos jornais em Minas. Cansou Minas, Presidente? O seu problemito, aí, com o ministro Padilha, já na semana que vem tem que resolver lá? Cansou, já chegou no limite? Porque só o senhor para resolver ali. Como é que vai ficar aquilo ali?

Jornalista: Vai ter uma prévia, não é?


Presidente: Eu acho...

Jornalista: O Hélio Costa é candidato...

Presidente:
Deixa eu dizer uma coisa para vocês. Eu, às vezes, acho que a política seria muito fácil se as pessoas percebessem que a política é como um leito de um rio, sabe? A água desce normalmente, se ninguém resolver fazer uma barragem, se ninguém... se não houver um desbarrancamento, e tal.

As coisas, em Minas Gerais, elas tinham tudo para acontecer normalmente, sem nenhum trauma, sem nenhuma disputa, sabe? Sentar PT e PMDB e tentar conversar, acertar o que é. Nós tínhamos e temos chance de ganhar, na medida em que o Aécio não é candidato, e ninguém pode conseguir transferir 100% dos votos. Bom, tudo isso estava na minha conta. De repente, o PT resolve fazer uma guerra interna, sem nenhuma necessidade. E essas guerras internas não resolvem o problema com facilidade, ou seja, as pessoas pensam que podem fazer as guerras que quiserem, travarem os insultos que quiserem, fazer as provocações que quiserem e, depois, botam um papel em cima, acabou e volta à normalidade. No PT, não volta à normalidade. Eu conheço esse partido, não volta à normalidade. Tem gente magoada para todos os lados. E eu acho que os nossos companheiros Patrus e Pimentel vão ter que fazer um esforço incomensurável para fazer uma chapa lá. Eu, sinceramente, não acho que a prévia resolva, porque fazer uma prévia agora, você pode ter um resultado aritmético, mas é preciso saber se há uma compatibilização entre o resultado aritmético e o resultado político.

Jornalista: E como é que faz? Porque, depois que escolhe um candidato a governador, como é que tira? O fato cria perna e...

Presidente:
Veja, se o PT precipitar as suas decisões, certamente o PT vai ficando, cada vez mais, num beco sem saída. Então, acho que é importante utilizar a maturidade, o conhecimento político que tem as pessoas, sentar em torno de uma mesa e ver o que é possível fazer, enquanto há tempo de fazer.

Jornalista: Antes do dia 2, antes da prévia. O senhor acha que tem que ser até lá, antes da prévia?

Presidente:
Eu acho, eu acho que tem que conversar, sabe? Porque a prévia é muito importante, mas ela não pode ser utilizada para resolver problema que os dirigentes criaram e que não conseguem resolver. Ora, se eu criei uma confusão, em vez de eu resolver a confusão, eu falo: “Vamos para uma prévia”. Na história do PT, nós já tivemos quase guerras fratricidas nessas prévias, quando elas são feitas para resolver problemas que os dirigentes deveriam ter resolvido. E como política não é matemática exata, como política não é uma ciência exata, ou seja, é importante que eles apenas tomem cuidado. Ou seja, Minas é um estado importante, Minas interessa muito para o PT, Minas interessa muito para o PMDB e Minas interessa muito para o PSDB. É o segundo estado da Federação, é um estado muito sofisticado, porque você tem a Minas carioca, a Minas Bahia, a Minas Brasília, a Minas São Paulo, a Minas Minas, ou seja, Minas Gerais é um estado extraordinariamente diversificado, com culturas políticas as mais diversas. Então, precisa trabalhar isso com carinho. E eu acho que a gente resolve muito mais em torno de uma mesa do que numa prévia.

Jornalista: Presidente, o senhor ficou satisfeito com a chapa de Pernambuco, que tem o Humberto Costa candidato ao Senado? Porque pode ter uma mágoa aí, o senhor falou, há pouco, em mágoa, a mágoa do João Paulo pode ser um risco, não, para o PT?

Presidente:
Olhe, eu, para mim, quando eu fiquei sabendo, foi surpresa que o companheiro João Paulo não tenha sido escolhido senador. Mas, mais surpreso ainda, eu fiquei sabendo, com o relato que me contou o presidente do Partido, que foi um acordo, foi um acordo entre o João Paulo e o Humberto Costa. Eu, sinceramente...

Jornalista: Estão falando, dizendo que está magoado, porque ele tinha condições de...

Presidente:
Eu, sinceramente, fiquei surpreso, ao saber do meu presidente que tinha havido um acordo e que o Humberto Costa, portanto, ia ser...

Jornalista: E o senhor ficou satisfeito?

Presidente:
Veja, não se trata de eu ficar ou não satisfeito, se trata de saber o seguinte: se o acordo foi feito porque as pessoas entendiam que era melhor para o PT de Pernambuco, ótimo.

Jornalista: Agora, voltando só a essa questão de Minas, Presidente, só para fechar. A gente está convivendo lá, conversando com os dois e, particularmente, eu, na minha opinião, se o senhor não entrar, não chamar para uma conversa, eu acho que a coisa não se resolve muito fácil ali, não. O senhor está disposto a fazer isso?

Jornalista: O senhor vai chamar todo mundo ali, para botar todo mundo para conversar?

Jornalista: Porque eu acho que eles estão fazendo isso para o senhor chamar e botar...

Jornalista: Ordem na casa.

Jornalista: Ordem na casa.

Presidente:
Não, é que é muito difícil. Se as pessoas fizeram isso achando que eu tenho que entrar para resolver. Eu acho que não é uma boa atitude dos companheiros, porque eles não podem transferir a responsabilidade deles para mim. Eu não sou eleitor de Minas Gerais, eu não vou estar lá no embate cotidiano. O Pimentel e o Patrus são políticos experientes, eles conhecem bem o PMDB de Minas Gerais, eles já deveriam estar conversando entre eles e trazer para a direção nacional uma solução.

Jornalista: O senhor não acha que não existe aí uma má vontade do PT mineiro em fazer um acordo com o PMDB de Minas? Não existe aí uma... Eles estão resistindo a apoiar o Hélio Costa, aí inventa prévia, e lá vai, e candidato...

Presidente:
Vejam, é verdade que um partido como o PT, que tem a dimensão do PT, tem o direito de ter candidato próprio em qualquer estado da Federação, como todo partido tem que ter. Agora, para você dizer “eu não quero apoiar um candidato” que é aliado, eu tenho que ter uma justificativa muito forte. Eu tenho que ter candidatos em condições de fazer um papel melhor do que aquele que eu não quero apoiar. É preciso saber se nós temos, nesse momento, essas condições. Eu acho que o PT teria essas condições de forma muito objetiva, se não tivesse feito todo o processo de briga interna que fez. Ou seja, nós nos desgastamos.

Jornalista: Dividiu, desgastou. Então, agora...

Presidente:
Nós nos dividimos, disputamos, e nos desgastamos. Então, eu acho que isso, na minha opinião, enfraqueceu o partido. Na minha opinião. Eu estou falando a mil quilômetros de distância, portanto eu posso estar cometendo algum erro.

Jornalista: O senhor conhece também...

Presidente:
Agora, como eu conheço o partido, como eu conheço as prévias desse partido, como eu conheço a história desse partido, eu acho que nós jogamos fora uma oportunidade de sairmos de forma coesa em uma campanha política, inclusive trazendo o PMDB. Como o Hélio Costa sempre me disse: “Presidente, a melhor solução é nós fazermos isso de bom agrado. Eu não tenho nenhum problema em continuar no senado, eu não tenho nenhum problema se o senhor me convidar para continuar no Ministério. O que eu não posso é ser rejeitado. Alguém tem que ter uma explicação para me rejeitar”. Também ele está certo.

Então, se o Hélio está certo, e o PT está certo de dizer que quer ter candidato, como são figuras políticas importantes que têm que decidir, isso se resolve muito mais em torno de uma mesa do que em torno de uma prévia. Na minha opinião, nesse momento, a prévia só vai acirrar. Quem perder a prévia, sairá mais magoado do que entrou.

Jornalista: Falando em mágoas, Ciro Gomes, hein? Ele também está virando um pote de mágoas. Como é que o senhor vai fazer? Ele já falou mal do PT, ele sai criticando todo mundo... Como é que o senhor vai fazer para tentar, aí, reduzir essa coisa?

Porque o senhor chamou o Ciro, pediu que ele fosse... transferisse o título para São Paulo. Ele transferiu. Aí, ele está se achando... Aí, chega lá em São Paulo, ele foi praticamente “escanteado” pelo PT. O PT fez “cara de paisagem” para a presença dele no estado, em nenhum momento disse: “Vem cá, olha, vamos ver, quem você quer para vice, e tal...” Lá, essa conversa não houve. Como é que o senhor vai fazer agora com Ciro Gomes e o PSB?

Presidente:
Olha, na última conversa que eu tive com o presidente do PSB, o Eduardo Campos, nós nos colocamos de acordo que nós tínhamos que esperar passar o mês de março, que era o prazo que nós tínhamos nos dado para que a gente voltasse a conversar. Nós já estamos agora no mês de...

Jornalista: Abril.

Presidente:
Vinte de abril, ainda eu não voltei a conversar com Eduardo Campos, eu sei que ele já teve uma conversa com o Ciro Gomes. E eu pretendo conversar com o Ciro Gomes, na medida em que a direção do PSB entenda que já é o momento de conversar. Veja, porque eu achei interessante quando eu Ciro Gomes transferiu o título para São Paulo, porque era uma probabilidade. Em um primeiro momento, houve uma certa reação do PT, depois todos os quadros mais importantes do PT passaram a admitir que era importante o Ciro ser candidato a governador de São Paulo. Depois, o PSB lançou o Paulo Skaf. É importante ver que o problema não era dentro do PT. Ou seja, o PSB lançou o Paulo Skaf, que até agora, pelo que eu sei, é pré-candidato do PSB ao governo de São Paulo.

Jornalista: É, mas isso depois que ninguém quis...

Presidente:
Não. Não, não, não, não.

Jornalista: Que o Ciro ficou (incompreensível)...

Presidente:
A Marta Suplicy...

Jornalista: É?

Presidente:
A Marta Suplicy, o Aloizio Mercadante, todos fizeram sinais... o Palocci... de que o Ciro...

Jornalista: De aproximação, e o Ciro também...

Presidente:
... de que o Ciro poderia ser o candidato.

Jornalista: ... não quis.

Presidente:
Veja, eu acho... Vamos ser sinceros aqui. Eu acho normal que o companheiro Ciro tenha interesse de ser candidato a ser presidente da República. E eu disse para o Ciro o que eu vou dizer para vocês: Eu jamais pediria para uma pessoa e para um partido político não ter candidato a presidente da República, se não tiver um argumento sólido para você convencer as pessoas.

Ser candidato significa a possibilidade de fortalecer os partidos, mas também significa a possibilidade de você perder uma eleição. Eu estou convencido de que essa eleição deveria ser uma eleição plebiscitária.

Jornalista: E nada ocorreu de lá para cá que tenha feito mudar essa sua visão?

Presidente:
Fazer um confronto de ideias, de programas, de realizações. Eu acho que seria isso a melhor coisa do mundo, uma bela eleição de confronto ideias, plebiscitária... Afinal de contas, são dois projetos que estão disputando. Eu estou convencido disso, sabe? Com base nisso, na reunião que eu tive com o PSB, eu disse: “Vamos esperar um pouco mais, e a gente vai ver mais para frente quem é que tem razão, se ela pode ser plebiscitária ou não”. A gente vai vendo pelas pesquisas, vai vendo pelas qualitativas... Não é que isso seja definitivo, mas isso é uma tendência, que você pode levar a sério ou não. A tendência que está acontecendo até agora é de que nós caminhemos para uma eleição plebiscitária. Essa é a tendência. Se vai se manter ou não, depende do trabalho que os partidos fizerem. Sabe, então, eu, sinceramente, eu vou ter uma conversa ainda com o meu companheiro Eduardo Campos, a direção do PSB...

Jornalista: Essa semana ainda?

Presidente:
Não, essa semana possivelmente não, porque essa semana tem o feriado de Brasília, já me tira um dia da semana. Mas eu quero conversar, porque está chegando. Em junho, os partidos vão ter convenções, aí cada partido vai ter que definir.

Jornalista: Presidente, o senhor acha que houve alguma falha na condução desse processo por parte do PT ou do PSB mesmo?

Presidente:
Eu não acho que houve falha, gente. Há visões políticas que são explicitadas publicamente. Muitas vezes, elas podem estar erradas. Às vezes você vai enxergar o erro depois que passaram as eleições. É muito fácil, depois, você, torcedora de um time de futebol, você está em um estádio, vendo o jogo, aí quando o jogador faz a jogada errada, você chega em casa, senta na frente da televisão, fica vendo 40 reprises, aí você fala: “Está vendo, ele errou, poderia ter feito assim, poderia ter chutado...”

Eu, sinceramente, acho que a gente tem que ver o seguinte: Nós tomamos decisões em função do momento político. O momento político, agora, me diz que as eleições serão plebiscitárias, me diz que, dificilmente, haverá espaço para uma terceira candidatura. Agora, tem gente que não acredita. A Marina é candidata porque ela acredita que ela pode ganhar. O Ciro Gomes pode querer ser candidato, o PSB pode entender que ele deva ser candidato. Agora, para ser candidato, é preciso saber qual é a composição que você vai fazer, qual é o tempo de televisão que você vai ter, com quem você vai ser aliado regionalmente. Porque, na hora em que o time entra em campo, você precisa ter jogador. Eleição é difícil. Eleição, no Brasil, é complicada. Você precisa, na hora em que o jogo começa de verdade, é preciso que os times estejam em campo, é preciso que você tenha tempo de televisão, é preciso que você tenha seguidores, para você poder ganhar as eleições. É preciso que você tenha uma boa bancada... Eu vou dar um exemplo: Nós ganhamos as eleições para prefeito em São Bernardo em 1988, com o Dr. Maurício. De lá para cá, nunca mais ganhamos as eleições. Ganhamos no ano passado, com o Marinho. Por quê? Porque o Marinho quebrou um negócio que se fazia contra o PT: toda eleição em São Bernardo, se juntavam 19 partidos contra o PT. Então, eram 1700 vereadores contra 21 do PT. Então, o Marinho, habilmente, o que ele fez? Quebrou. Ele fez acordo com 11 partidos. Então, ele tinha mais partidos, mais vereadores... Lá não tem televisão, lá não tem rádio. Então, essa coisa não conta, lá...

Jornalista: É a rua mesmo.

Presidente:
É rua mesmo.

Jornalista: No gogó mesmo.

Presidente:
É rua mesmo. Então, eu disse ao Aloizio Mercadante: Como é que nós vamos ganhar São Paulo? Como é que nós vamos ganhar São Paulo? O PT não precisa provar para ninguém que tem 30% de votos em São Paulo. Agora, nós precisamos arrumar os outros 20 que faltam. Eu disse para o Aloizio Mercadante: “É preciso que você arrume o teu Zé Alencar”. Porque o Zé Alencar, para mim, teve uma importância que... Não era a importância da quantidade de votos que ele trouxe, só. A importância da quantidade de preconceito que ele quebrou. Porque ficava explícito: como é que um empresário que tinha mais de 15 mil trabalhadores na sua fábrica, a maior empresa têxtil do país, estava sendo o meu vice, e um cidadão que tinha dois empregados, e se achava o grande empregador do mundo, tinha medo do Lula?

Então, o discurso do José Alencar quebrou barragem maior do que Itaipu. De vez em quando eu falo para o Zé, ele muitas vezes não se dá conta disso. Ele quebrou barreiras imensas, preconceitos que vão sendo construídos e vão ficando que nem marisco, incrustados assim, na pedra. Ele quebrou. Então, eu acho que o PT de São Paulo precisa arrumar esse Zé Alencar. Ou seja, nós temos que ter um vice que não seja mais da esquerda do que o PT.

Jornalista: Agora...

Presidente:
Que seja uma pessoa que fale para um segmento da sociedade...

Jornalista: Nesse conceito de...

Presidente:
Eu espero...

Jornalista: O senhor ainda está com esse vice na cabeça.

Presidente:
Não, não, eu espero que ele...

Jornalista: Nesse conceito de vice, talvez a coisa ainda não está definida, como o senhor disse, até junho. O senhor não acha que a Dilma precisaria de um vice que desse essa envergadura, essa musculatura e esse perfil à candidatura que o senhor teve, também? No caso aí, por exemplo, o Temer não consegue dar esse viés à candidatura da Dilma?

Presidente:
Olha, deixa eu lhe contar uma coisa. A Dilma, primeiro, ela tem o cartão de crédito de oito anos de administração bem sucedida no Brasil, da qual ela foi uma gerente excepcional. Vocês, quando conversarem com a Dilma, vocês vão ter a mesma surpresa que eu tive com a Dilma.

Jornalista: A gente tem conversado muito com ela, realmente é isso mesmo.

Presidente:
Vocês vão ter a mesma surpresa. A Dilma virou minha ministra de Minas e Energia em uma reunião. E olha que eu tinha companheiros que trabalhavam comigo há dez anos. Alguns já tinham sido ministros paralelos do meu governo quando eu montei o governo paralelo. E em uma reunião eu conheci a Dilma. O Zé Dirceu já tinha, inclusive, feito acordo com o PMDB. Eu disse ao Zé Dirceu: “Zé Dirceu, o ministério de Minas e Energia, acabei de encontrar a minha ministra”. Pela objetividade com que ela se comportou na reunião e pela seriedade de tratar os assuntos. Então, a Dilma vai ter esse cacife. Obviamente que as pessoas estão sempre botando defeito, não é? Porque é mulher, porque...

Jornalista: O que acontece com o eleitorado feminino?

Presidente:
...porque não ri muito. Olha, se tiver em jogo a simpatia, ela já está eleita. Se o critério for simpatia...

Jornalista: Até porque o adversário...

Presidente:
Se o critério for simpatia, ela já está eleita. Mas não é esse o critério. O critério é que eu quero que os dois tenham possibilidade de ir para televisão debater grandes temas, debater economia, debater desenvolvimento, e o povo poder aferir corretamente quem é que tem mais qualidade. Acho que a experiência da Dilma na administração do PAC, na confecção do PAC 2, na administração...na construção do novo modelo de energia do país, deu a ela...o Pré-sal, o Minha Casa Minha Vida...deu a ela um cabedal de conhecimento que pouca gente tem no Brasil. Então, eu acho que é com isso que nós vamos disputar as eleições e eu acho que o povo ficará surpreso.

Jornalista: E a vice?

Presidente:
Veja, portanto o vice...o Zé Alencar tem razão quando ele fala: o vice não dá voto, não é que o vice venha dar voto.

Jornalista:...mas ele complementa um perfil...

Presidente:
O Temer, eu acho que dá segurança de um homem que tem um a vida pública já de muito tempo, tem uma seriedade comprovada no Congresso Nacional, hoje está mais fortalecido dentro do PMDB e nós trabalhamos olhando também o pós-eleição. É melhor você construir a regra do jogo antes do que você deixá-la pra construir depois. Então eu acho que o Temer, se for ele o indicado pelo PMDB, se for ele o vice, ele dará à Dilma a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade no país, que é sempre uma coisa de muita tensão.

Jornalista: Presidente, a oposição parece que já...quer dizer, parece não, já percebeu que essa questão do plebiscito...da eleição plebiscitária, eles começam agora a trabalhar com o slogan “que pode ficar melhor”. Quer dizer, eles estão aí, exatamente, traçando a sua estratégia de campanha. Como é que o senhor...isso muda alguma coisa no pensamento do senhor, na cabeça do senhor em relação à candidatura da ministra Dilma?

Presidente:
Não, só mudaria se eles fizessem uma campanha “pode ficar pior”.

Se o slogan deles fosse, ao invés de “pode ficar melhor”, fosse “pode ficar pior”, nós teríamos que pensar o que fazer. Eu acho que eles têm que prometer fazer mais coisas. O que é importante e que me dá muito prazer de falar sobre esse assunto, com muita humildade, é o seguinte: é que eu mudei o paradigma das coisas neste país, eu mudei o paradigma. Quem não quis enxergar durante os meus oito anos de mandato vai enxergar daqui para frente, porque nós passamos os oito anos anteriores ao meu governo, nós só aprovamos duas universidades no Congresso Nacional, ou melhor, uma, a Universidade do Vale do São Francisco...foi só aprovada, quem fez ela foi eu.

Então, vou deixar um paradigma de 14 novas universidades, eu vou deixar um paradigma de 214 escolas técnicas, em oito anos, contra 140 em 100 anos. Nós vamos deixar um novo paradigma de distribuição de renda, nós vamos deixar um novo paradigma dos acordos salariais feitos pelos trabalhadores brasileiros que durante sete anos consecutivos tiveram aumento real de salário. Nós vamos deixar um paradigma de autoestima de um povo, que cada vez mais está crescendo. Nós vamos deixar, como um novo paradigma neste país, o gosto que os pobres adquiriram de consumir, de entrar no shopping e de comprar coisa que até então só outros poderiam comprar.

Há muitas mudanças no país, há muitas mudanças e quem vier...eu tenho dito isso: vai fazer muito mais, vai ter que fazer muito mais. Não vai poder ficar na mesmice de muitas décadas, não. Agora vai ter que sentar à mesa e vai ter que trabalhar e vai ter que dizer o seguinte: eu preciso trabalhar mais. Como é que eu trabalhei mais?

Eu dizia assim: eu preciso trabalhar, porque se o meu governo não der certo, nunca mais um trabalhador vai chegar à Presidência da República. Então era o instinto de sobrevivência, de um pensamento político que me fez trabalhar muito. Eles, ao chegarem ao governo, vão ter que dizer: eu tenho que trabalhar muito para fazer mais do que esse peão fez. Porque senão estarão desmoralizados. E a Dilma, eu tenho certeza, que como ela trabalhou comigo todo esse tempo, sabe o ritmo de trabalhar...eu acho que ela pode fazer muito mais.

Jornalista: Uma das coisas que o senhor sempre diz ser necessária...

Presidente:
Eu, no discurso da convenção do PT que apoiou a Dilma, eu disse que a Dilma tem que fazer mais e melhor. É para isso que serve o aprendizado... que nós temos no governo.

Jornalista: Agora, o senhor... uma das coisas que o senhor disse que se ressentia de não ter feito, e eu não sei se vai dar tempo de o senhor fazer, era a tal da reforma política. O Serra andou dizendo ontem que, se eleito, ele aprovaria os cinco anos de mandato sem reeleição. Era o projeto que ele iria colocar aí na mesa. Discurso para o Aécio, em Minas. Como é que o senhor avalia isso?

Ministro Franklin Martins: ______________

Presidente:
Em política não vale você ficar falando para inglês ver. A história, a história dos cinco anos eles já tiveram, o mandato era quatro anos...

Jornalista: Eles poderiam ter feito antes.

Presidente:
Não. Primeiro, o mandato era cinco, eles reduziram para quatro, em 2004, achando que eu ia ganhar as eleições. É importante ter em conta, é importante ter em conta que eles reduziram o mandato de cinco para quatro anos pensando que eu ia ganhar as eleições. Aí, eles ganharam em [19]96, eles aumentaram... aumentaram não, eles aprovaram a reeleição. Aí, para tentarem convencer o Aécio a ser o vice, vieram até me propor que se o PT e o PSDB estivessem juntos numa reforma política para aprovar cinco anos seria o máximo, a gente aprovaria.

Eu falei para o meu companheiro interlocutor... Eu falei: olha, eu era contra a reeleição. Agora, eu quero que tenha a reeleição, mesmo se você ganhar, porque em quatro anos você não consegue fazer nenhuma obra estruturante neste país. Nenhuma, nenhuma. Entre você pensar uma grande obra, fazer projeto básico, projeto executivo, tirar licença ambiental, enfrentar o Poder Judiciário, enfrentar o Tribunal de Contas da União e vencer todos esses obstáculos, termina o teu mandato e você não começa a obra.

Jornalista: Belo Monte que o diga, né?

Presidente:
Então, eu falei: então, eu não quero mais o fim da reeleição. Eu quero que tenha quatro anos....

Jornalista: Essa conversa foi quando, Presidente?

Presidente:
Faz algum tempo já. Eu quero que tenha...

Jornalista: (incompreensível).

Presidente:
Não, porque era a tese do ex-presidente para convencer o Aécio a ser vice. Então em política não vale ingenuidade, ou seja, ninguém vai acreditar que o mesmo partido que aprovou de quatro... aprovou a reeleição vem agora querer acabar com a reeleição. É promessa para quem? Ninguém está pedindo isso! Só o Aécio está pedindo.

Jornalista: O senhor já está trabalhando com a hipótese de o Aécio ser vice?

Presidente:
Não. Eu, sinceramente, veja... Eu acho que o Aécio está qualificado politicamente para ser o que ele quiser ser. Agora, se ele for vice, ele vai se desgastar muito.

Jornalista: Por quê?

Presidente:
Porque é só pegar o que o Estado de Minas escreveu, das divergências do Aécio com o Serra, só pegar os discursos todos feitos quando o Virgílio Guimarães era candidato à presidência da Câmara para a gente perceber que o Aécio vai colocar muita dúvida na cabeça do povo mineiro. Quem é o Aécio que quer ser vice?

Agora de qualquer forma, gente, eu também falo essas coisas, mas o Aécio tem cacife para ser o que ele quiser. Tem cacife e são do mesmo partido, sabe...agora,vamos ver...eu acho, acho difícil.

Jornalista: Presidente, essa questão antes da...essa questão da ministra Dilma, acho que tem uma questão hoje que preocupa um pouco. Eu não sei, eu não sei se a palavra certa seria preocupar, mas ela está até um pouco hoje, eu também acho até um pouco fomentado pela mídia também. Porque essas questões do PT em questões políticas e em questões ideológicas também...políticas, em Minas, por exemplo, temos São Paulo...essas questões ideológicas...todo mundo hoje dá... o senhor hoje dá uma segurança muito grande com relação ao partido. O partido são diversos matizes, enfim... a ministra Dilma não veio da base do partido. Será que ela...a preocupação é a seguinte: será que a ministra Dilma tem condições de ter um poder sobre o partido, sobre o governo, que o presidente Lula tem? Isso preocupa o senhor, Presidente? O senhor acha que isso pode crescer?

Jornalista: Não há risco de ser monitorada pelo PT?

Presidente:
Não. Não existe, não existe nenhuma hipótese. Primeiro porque...deixa eu contar para vocês uma coisa: uma coisa é a relação de respeito que você tem que ter com o partido. Não existe relação de medo, é uma relação de respeito. Eu vou poder ajudar muito mais a Dilma dentro do PT, não sendo Presidente da Republica do que sendo Presidente da República. Eu, fora da Presidência, estarei mais nos eventos do PT, estarei mais participando de coisas do PT.

Jornalista: Quer dizer, o senhor segura...o senhor segura o partido mesmo fora da Presidência?

Presidente:
Não. O Zé Eduardo é um presidente extraordinário, gente. O Zé Eduardo tem consciência do que é governar esse país. A direção do partido é madura e ninguém pensa em fazer qualquer bobagem, ou seja, o que nós temos é que aprimorar as nossas políticas públicas, as nossas propostas e a Dilma está totalmente preparada para isso. Eu tenho dito o seguinte: olha, o PT terá surpresa com a Dilma, a imprensa terá surpresa com a Dilma e isso a gente só pode ver no exercício do mandato, porque a Dilma tem flexibilidade política... Eu senti muito bem o que é a Dilma... o dia em que nós descemos no quartel do II Exército, lá em São Paulo, quando ela ficou parada olhando, olhando, olhando...ela falou: foi aqui que eu fui presa...e ela falou, “Engraçado, eu não tenho mágoa”. E o Franklin conhece bem. A Dilma é uma mulher que não tem mágoa do tempo que ela foi torturada... ela tem que tocar o barco para frente. É uma mulher altamente preparada e calejada. Ela vai sofrer o preconceito de ser mulher no Brasil, porque nessas horas o machismo se entranha nas nossas mentes e (incompreensível).

Jornalista: Inclusive ela está com uma taxa de votação ainda entre as mulheres, não é? E no Sul do país. Como é que o senhor vai fazer para dar uma ajuda...

Presidente:
É, mais isso muda, isso muda.

Jornalista: ...dar uma ajudada nessa...

Presidente:
Isso muda, gente. Veja, a eleição, se a gente fosse parar para olhar os números, a gente está em uma situação altamente confortável. Em todas as regiões do país, em todos os estados. Ou seja, não tem um estado em que o governo tenha menos de 70%, nenhum estado. Em alguns, chegamos a quase 90.

Jornalista: O senhor acha que o senhor vai transferir quanto para a ministra? Do seu prestígio, da sua popularidade.

Presidente:
É engraçado porque as pessoas que acham que eu não vou transferir voto para a Dilma, acham que o Aécio vai transferir para o Serra. É engraçadíssimo, porque as pessoas...

Jornalista: O senhor vai ser âncora do programa dela?

Presidente:
As pessoas olham para o seu umbigo e falam: “o meu é mais bonito do que todos”. Não, veja...

Jornalista: Mas, Presidente, essa transferência é automática?

Presidente:
Não, não é automática. Não existe automaticismo em política.

Jornalista: Então vai ter que... Mas o que lhe dá uma segurança tão grande?

Presidente:
O que me dá a segurança é que eu vou, sabe... O mesmo povo que me dá um voto de confiança há sete anos, eu vou pedir para que eles dêem um voto de confiança para a Dilma.

Jornalista: O senhor vai para a rua?

Presidente:
Eu vou fazer campanha.

Jornalista: Fim de semana?

Presidente:
Não pensem que eu vou ficar parado, vendo a banda passar. Eu quero estar junto à banda.

Jornalista: O senhor vai este ano fazer o programa dela?

Presidente:
Até porque eu acho que a eleição da Dilma é parte do meu programa de governo, para dar continuidade às coisas que nós precisamos fazer no Brasil.

Jornalista: Mas menos de um terço do eleitorado conhece a Dilma (incompreensível).

Presidente:
Ô gente, mas por isso a campanha. A política é uma coisa fantástica. Se... eu conheço político importante que achava que era muito conhecido. Você sai para andar na rua, as pessoas não conhecem. Políticos que estão aí há 20 anos, há 25 anos. Às vezes, as pessoas são conhecidas na rua em que moram ou no seu estado. O que é a campanha majoritária e o que é a televisão? É a possibilidade de os candidatos ficarem conhecidos.

Jornalista: O senhor vai ser âncora?

Presidente:
Você pega o Aécio, que é o governador mais bem-avaliado do Brasil, qual é o conhecimento que as pessoas têm dele no Brasil? Raríssimo, raríssimo. A Dilma tem pouco tempo na política.

Jornalista: Mas há tempo suficiente de campanha para se chegar até os grotões do Nordeste?

Presidente:
É lá que eu vou chegar, lá eu não preciso nem chegar. Lá, eles são o Lula. Lá, eu já estou representado. Lá, eles já são eu. Eu estou lá. Eu quero ir é nos lugares onde ainda...

Jornalista: São Paulo...

Jornalista: O Nordeste, então, não lhe preocupa? Assim, só para complementar, já que é uma região que Serra tem viajado...

Jornalista: Sul

Presidente:
Lógico que me preocupa. Lógico que me preocupa. O que me preocupa é porque não existe eleição ganha antes do dia da apuração. Mas o carinho que o povo nordestino tem por mim e o povo do Norte, é uma coisa de relação humana muito forte, sabe, e que eu vou pedir para esses companheiros o apoio deles para a minha candidata e vou trabalhar muito em outros estados. O meu trabalhar, o meu trabalhar é o sinal mais forte que eu posso dar para a sociedade brasileira que eu não estou pensando em 2014. Porque quando o político é canalha ele não quer (incompreensível) o seu sucessor. O político velhaco...

Jornalista: ... ele quer voltar.

Presidente:
... ele quer voltar. O político velhaco, ele indica alguém que não pode ser candidato em 2014 ou alguém que ele sabe que é fraco. Eu não. Eu estou indicando o que eu tenho de melhor. Para ganhar. E se ganhar ter o direito de governar...

Jornalista: O senhor vai ser âncora do programa dela?

Presidente:
Não. Eu sou Presidente da República, eu não posso ser âncora.

Jornalista: Presidente, a gente está notando...

Presidente:
Eu espero ser âncora de algum programa de televisão depois que eu deixar de ser Presidente.

Jornalista: Presidente, engraçado, o senhor está falando desse jeito aí e a gente nota... nós falamos, falamos em uma entrevista também, quando o senhor era candidato à reeleição. Eu estou sentindo... essa eleição da Dilma parece que o senhor tem mais garra com relação a ela do que com a própria reeleição do senhor. Quer dizer, é uma questão de honra para o senhor fazer a Dilma sua sucessora? Sinto muito mais, entendeu, que é uma avaliação do seu governo também.

Presidente:
Mas não é uma questão de honra. Porque em política a gente nunca coloca questão de honra porque fica muito difícil. É uma questão de pragmatismo político. E você tem razão. Eu estou muito mais animado com a campanha da Dilma do que com a minha. Porque eu passei muito tempo relutando com o segundo mandato. Quem me conhece, quem conviveu comigo, sabe que eu tinha muitas preocupações com o segundo mandato. O PAC surgiu exatamente por conta da minha preocupação com o segundo mandato. Qual era a minha preocupação? Se eu chegar ao segundo mandato, ficar como alguns que só iam trabalhar de tarde, e repetir a mesmice do primeiro mandato, seria uma coisa enfadonhosa. Então, eu pensei o PAC em outubro de 2006 e não utilizei ele naquela campanha porque chegamos a conclusão que não era necessário utilizar na campanha. Então nós lançamos o PAC em fevereiro de 2007. Ele é que me deu o gás todo de ver as coisas, de andar pelo Brasil. A Dilma é a possibilidade. O meu governo já foi avaliado com a minha reeleição. Agora, ele será bi-reavaliado se eleger a Dilma. Daí porque a minha responsabilidade com a eleição da Dilma. É que ela será a continuidade do nosso governo aperfeiçoando, fazendo mais, fazendo melhor, fazendo coisas novas. Então, por isso que eu estou entusiasmado. Estou entusiasmado e acho que... vamos para as cabeças. Sempre respeitando o adversário, sempre sabendo que eleição a gente não ganha na véspera, ganha no dia. Até porque eu tenho muita experiência em eleição.

Jornalista: O senhor acha que a eleição plebiscitária, mesmo se Ciro e Marina se mantiverem candidatos, o senhor acha que é uma eleição para se decidir no primeiro turno?

Presidente:
Eu acho que ela foi como eu e o Alckmin. Não existia espaço para uma terceira candidatura. Era tão visível...

Jornalista: Mas ali ainda deu segundo turno.

Presidente:
Era tão visível... não vamos discutir porque que teve segundo turno. Mas hoje, hoje eu dou graças a Deus. Veja que engraçado. Eu agradeço a Deus duas coisas que aconteceram na minha vida, contrárias a mim. Eu agradeço a Deus não ter ganhado em [19]89. Porque foi a grande lição de vida que eu tive. Foram doze anos de espera. Eu nunca aprendi tanto na minha vida. Se eu tivesse passado doze anos em Harvard eu não teria aprendido tanto sobre esse país como eu aprendi em doze anos de derrota. E a outra coisa que eu agradeço a Deus foi não ter ganhado no primeiro turno em 2006. Era preciso ter o segundo turno. Deus é sábio.

Jornalista: Por que?

Presidente:
Porque era preciso fazer o confronto de idéias. Coisa que não tinha, que não tinha acontecido.

Jornalista: Mas desta vez o senhor acha que vai dar primeiro turno?

Presidente:
Não, não acho. Não acho, querida. Não acho nem que vai dar nem que não vai dar. Eu acho que em uma eleição tudo pode acontecer. Nós temos que trabalhar para ter o máximo. Eu acho que um estudante só vence na vida, sabe, se a média que ele tem que ter na escola é cinco, ele tem que trabalhar para ter dez. Se ele ficar trabalhando só na média ele pode ter 4,8%. Então, eu acho que nós temos que trabalhar para ter o máximo, colher aquilo que for possível colher, sabe, e seja dois turnos, seja... a única coisa que eu não quero é que tenha terceiro turno. Que quem perca exerça a democracia acatando o resultado eleitoral e não tente dar golpe como tentaram me dar em 2005.

Jornalista: Agora, essa semana, vão trazer um problema aí para o senhor, grande: a questão dos aposentados. O Congresso quer... o governo estava falando em 7%, a Câmara quer 7,7[%], e como está difícil disseram que vão trazer para o senhor resolver. Porque tudo que fica difícil vem parar na sua mesa.

Presidente:
Deixa eu contar uma coisa. É que eu acho que as pessoas começam a ter um comportamento um pouco estranho achando que a gente pode banalizar o mandato da gente, seja do Presidente, seja dos deputados, votando 7[%], 7,5[%], que isso vai fazer uma... sabe o que acontece? Você tem que conversar com o povo a realidade. A realidade, nua e crua, é que nós tínhamos feito um acordo com as Centrais Sindicais de dar seis ponto alguma coisa, 6,85[%], alguma coisa toda.

Depois, as próprias Centrais Sindicais em um acordo lá, o pessoal achava que poderia ser 7[%]. Eu também não via grande diferença. Mas aí as pessoas acham que se aprovar 7,7[%] vai ser o máximo, que todo mundo vai ser reeleito. É bobagem. É bobagem. Nós temos que olhar, primeiro, as contas da Previdência. Aquele dinheiro não é individualmente de ninguém. Ele é coletivamente do povo trabalhador brasileiro e que, portanto, você tem que trabalhar com ele de forma adequada para você garantir que as pessoas tenham o que receber, sempre. E de que você não pode, você não pode entender que os aposentados podem, a vida inteira, ter aumento real de salário. Isso não existe no mundo.

Obviamente que, no Brasil, teve um momento em que os trabalhadores não tiveram, sequer, a inflação. Então, tudo aquilo que a gente puder fazer para repor, primeiro, as contas da Previdência, depois a conta do trabalhador, nós vamos fazer. Até porque não tem nenhum deputado de barba ou sem barba, preto ou branco, católico ou evangélico, que goste mais de trabalhador do que eu gosto. E que defenda mais o trabalhador do que eu. Só que eu tenho a responsabilidade que tem uma dona de casa.

Sou eu que conheço a quantidade de alimento que tem na prateleira. Então, sou eu que sei o que vou fazer de comida. E se tiver mais condimentos, eu vou fazer mais comida, mais tempero, mais gostosa. Se não tiver, eu vou ter que fazer com o que eu tenho.

Então, vamos esperar o Congresso decidir. Quando decidir, virá para minha mesa. Eu vou analisar...

Jornalista: Mas o senhor acha que não tem condições de as contas não, não...

Presidente:
Veja, deixa chegar à minha mesa. Deixa chegar à minha mesa. Tem muita gente discutindo isso. Eu acho que 0,7% nem quebra a Previdência nem enriquece nenhum aposentado. Então, também não é um trauma, nem contra nem a favor. Deixa chegar na minha mesa que eu vou ver as contas direitinho. Vou ver o que é possível fazer. Eu tenho muita relação com o povo para conversar francamente com ele. Então se alguém pensa que é um problema para mim, está enganado.

Jornalista: Presidente, eu gostaria de saber sua opinião com relação a Chesf. Uma polêmica grande no Nordeste, porque a Chesf, além de estar situada lá, mas ela impulsiona muitos projetos. E há uma celeuma com relação a esse assunto porque acham que ela vai perder autonomia e vai ser um prejuízo grande para a região. Qual a sua opinião?

Presidente:
Então, deixa eu lhe contar uma coisa.

Jornalista: Eu queria saber a opinião do senhor.

Presidente:
Então, deixa eu lhe contar uma coisa. Eu chamei o ministro de Minas e Energia, sexta-feira, para saber o que estava acontecendo na Chesf. Ele me contou o que estava acontecendo. Eu tinha recebido uma carta da direção da Eletrobrás e eu disse para o ministro que ele tem que resolver, essa semana, esse assunto de ... é pouca coisa para a gente ficar brigando com isso.

O que é engraçado, o que é engraçado é que as pessoas que trabalharam para destruir o sistema elétrico brasileiro, e por isso privatizaram a Celpe - que é a empresa que cobra mais caro a energia no país - agora viraram todos defensores da nossa querida Chesf. Então, é a direita que não tinha discurso, que resolve, então, se apoderar de um dilema, e na minha opinião, de erros cometidos pelos companheiros que elaboraram a portaria de regulamentação e participação das empresas.

Qual era a decisão do Governo Federal? Eu quero a Eletrobrás forte. Eu quero a Eletrobrás... é importante lembrar que quando eu cheguei no governo as empresas públicas não podiam participar de leilões de energia e eu quero a Eletrobrás forte porque nós temos que fazer muita coisa de energia e eu quero uma empresa com capacidade de construir parcerias internacionais, de pegar empréstimos internacionais e não uma empresa falida, apenas uma empresa cartorial.

Então, nós já fizemos. Aprovou no Congresso a Eletrobrás como uma empresa... como uma holding forte. E, obviamente, que essa empresa como holding ela tem que coordenar suas afiliadas: a Chesf, Furnas, Eletronorte, Eletrosul. O que você não pode é tirar autonomia das empresas. É como as empresas da Petrobras: a BR. A BR tem autonomia, mas tem os interesses maior da Petrobras que são discutidos estrategicamente dentro do Conselho da Petrobras. O que nós queremos é o mesmo. É a mesma coisa. Se você for analisar... é engraçado que as pessoas que estão no debate lá, não falam que nós capitalizamos a Chesf com 3,5 bilhões. Não falam. Não falam que a Chesf está participando de licitações que jamais ela participaria, porque não tinha condições financeiras. Então, nós queremos a Chesf forte, queremos a Eletronorte forte, queremos a Eletrosul forte, queremos Furnas forte. Não queremos que nenhuma tenha supremacia sobre a outra. O que nós queremos é que o controlador de todas seja o Governo Federal, através da Eletrobrás.

Jornalista: Então os ...

Presidente:
Então nós estamos vendo, eu disse para o ministro... o ministro já esteve em Pernambuco conversando com os deputados, com o Eduardo Campos. Agora eu pedi para o ministro dar uma olhada porque essa coisa é assim: você pega um funcionário, não sei de que escalão, para fazer uma portaria, talvez ele tenha colocado coisas exageradamente lá que não precisava ter. Mas isso, da nossa parte, nós vamos resolver porque tudo o que eu quero é que nós tenhamos todas as filiais fortes e a Eletrobrás muito mais forte ainda. Por isso que eu disse que nós queríamos criar com a Eletrobrás uma empresa com a mesma magnitude da Petrobras. Até porque, nós temos muita importância, hoje, no mundo. Nós vamos fazer hidrelétrica junto, lá na Nicarágua, nós vamos fazer hidrelétrica em vários países africanos.

Então, o Brasil precisa ter... o Brasil precisa aproveitar o conhecimento de engenharia que tem nessa área e virar um senhor da situação. Não é apenas ficar disputando aqui dentro, não. Agora nessa licitação que vai ter agora de Belo Monte, eu disse para os empresários: “Se vocês não quiserem participar, nós vamos fazer sozinhos. Nós vamos provar que não vamos ficar reféns de nenhum empresário. Nós queremos construir parceria, queremos fazer junto, mas não seremos reféns”.

Jornalista: E eles vieram.

Presidente:
Vieram. É isso que eles vão fazer.

Jornalista: (incompreensível)

Presidente:
Agora, vejam uma coisa: Belo Monte, gente.

Jornalista: Que coisa, não é?

Presidente:
Belo Monte, veja, há 30 anos nós estamos esperando para fazer Belo Monte. Depois que nós cumprimos todas as etapas, fizemos todas as audiências públicas possíveis, fizemos tudo, aparece mais uma liminar, dizendo que não foi debatido. Ora, se a gente for atender os que não querem que a gente construa...

Sabe, o que é importante era a gente estar discutindo, nesse momento, qual o compromisso social que Belo Monte vai ter, porque essa é a grande discussão: qual é a contrapartida que o povo da região vai ter. Porque nós já diminuímos Belo Monte em 1/3. Hoje, o lago é 40% do lago...

Jornalista: Que estava previsto no original?

Presidente:
Que estava previsto originalmente.

Jornalista: Agora, Presidente, nesses oito anos, assim, o que o senhor olha para trás e fala assim: “Que pena que eu não fiz isso”?

Jornalista:
Eu queria fazer essa pergunta, mas eu achei que ainda estava muito cedo, porque ainda tem muita coisa para...

Jornalista: O senhor ainda tem... Porque agora o senhor tem aí oito meses ainda para tentar...

Presidente:
Não, veja, certamente, certamente vai... você sempre vai se queixar porque você não fez mais. Eu nunca vou me contentar com o que eu fiz.

Jornalista: Mas, assim, tem uma coisa específica que o senhor olha e o senhor fala assim: “Puxa vida, isso eu queria ter feito e não consegui”?

Presidente:
Então, mas deixa quando eu for prestar contas do governo, aí vai ficar mais visível para mim o que eu tinha que fazer que eu não fiz.

Jornalista: Porque o senhor ainda tem tempo, ainda.

Presidente:
Eu acho que nós temos que fazer a reforma política.

Jornalista: O senhor acha que...

Presidente:
Ela não depende do governo federal.

Jornalista: Porque essa consolidação das leis sociais...

Presidente:
Ela não depende do governo federal. Na verdade, o governo federal tinha que ser o indutor. Mas o que eu noto é que os partidos políticos não querem. Nem o meu demonstra interesse, sabe? Parece que as pessoas preferem do que está aí. Eu acho que tem que fazer reforma política no país. Acho que tem que fazer reforma tributária. Eu mandei dois projetos de reforma tributária e nenhum foi votado no Congresso Nacional.

Então, eu penso que se a gente tivesse reforma política. Se a gente tivesse os partidos funcionando mais corretamente, se a gente tivesse uns partidos que decidissem e a base cumprisse com fidelidade partidária, a gente teria mais chance de fazer acordo entre os partidos e aprovar as coisas. Mas agora não, agora já não são mais os partidos, já não são mais as lideranças, agora são os grupos dentro de cada bancada. Então, essa é uma coisa que eu tenho frustração de não ter feito, a reforma política. Tem duas propostas nossas no Congresso Nacional, mas essa é uma coisa que depende do partido.

Uma coisa eu digo: quando eu deixar a Presidência eu vou, sabe, vou ser uma pedra no calcanhar do PT para que o PT coloque a reforma política como prioridade sua, 365 dias por ano falando de reforma política, procurando aliados para a gente fazer. Porque não é possível, sabe. E sobretudo porque eu acho que o fundo público para financiar as eleições e com a proibição de dinheiro privado seria uma possibilidade que a gente teria de moralizar o país.

Jornalista: E o senhor com essa posição de magistrado, sem ser Presidente da República talvez seja muito mais útil nesse processo, o senhor não acha?

Presidente:
Eu acho, eu acho porque como Presidente da República você tem que sempre se colocar como uma instituição e saber que você não pode adentrar nas outras instituições, que você não pode dar tanto palpite assim. É como ex-presidente, eu posso dar palpite em tudo. Não vou ser um palpiteiro em relação ao governo, mas as coisas...

Jornalista: Qual é a quarentena que o senhor vai se dar em relação ao governo, futuro governo, seja Dilma, seja quem for?

Presidente:
Não, não tem quarentena, eu pretendo não dar palpite no próximo governo.

Jornalista: Mas com a Dilma o senhor vai ser chamado.

Presidente:
Não, eu posso, eu posso. Veja, se me pedirem a opinião, alguma coisa falar, mas, eu, sinceramente, acho que quem foi eleito tem o direito de governar e de fazer o que entender que deva ser feito. E depois vai se julgado, não cabe a mim fazer julgamento e ficar cobrando: faça isso, faça aquilo. Como se fosse um ex-marido ou uma ex-mulher, querendo dizer como a outra ou o outro tem que viver. Não, eu estou ex, ex, como fala? Rei morto, rei posto.

Jornalista: Agora em relação a essa coisa, seu projeto internacional, ONU, essa coisa da África, o senhor falou muito.

Presidente:
Mas não existe projeto internacional.

Jornalista: Chefiar uma instituição. Como é que o senhor (incompreensível)?

Presidente:
Esse negócio da ONU... vamos ter claro o seguinte: a ONU não pode ter, como secretário-geral, um político. Ela tem que ter um burocrata do sistema ONU. É, porque senão você entra em confronto com os outros presidentes. Quem manda na ONU são os presidentes representados na Assembleia da ONU. De repente, se você colocar um político... sabe? Você imagina se um presidente americano deixar a Presidência e quiser ser Secretário-Geral da ONU. Isso não é uma coisa...?

Então, eu acho que vamos melhorar a ONU, queremos a reforma, mas eu acho que a burocracia tem que continuar existindo nas Nações Unidas, para manter uma certa harmonia.

Eu tenho vontade de trabalhar um pouco a experiência acumulada aqui no Brasil, tanto para a África quanto para a América Latina. E, aí...

Jornalista: Mas, de que forma? O senhor já montou, assim, um projeto, já viu alguma coisa?

Presidente:
Não, não. Gente, eu só quero pensar agora em terminar o meu mandato. Eu tenho muita coisa para fazer. A minha preocupação é animar os meus ministros, porque vai chegando o final do mandato e, sabe aquele negócio? Vai dando duas horas da manhã, você está em um baile, já começa a procurar cadeira para sentar, já não quer mais dançar. Então, eu quero que todo mundo continue animado, que todo mundo continue dançando, porque nós temos que terminar muito bem, no dia 31 de dezembro. A imagem que eu quero deixar, minha, no governo, é a de que nós trabalhamos até a véspera do minuto que vai significar o dia primeiro. E, depois, sair tranquilo. Eu vou sair do governo com a consciência tranquila, vou continuar andando pelo Brasil muito, vou continuar andando pelo Brasil muito, vou continuar visitando os lugares deste país, vou ver o que eu fiz, o que eu não fiz, sabe?

Jornalista: Tem alguma coisa de que o senhor se arrepende?

Presidente:
Ah, deve ter muita coisa, de ter muita coisa, mas eu preciso contratar um consultor para fazer um...

Jornalista: E 2014 está aí, também, não é, Presidente?

Presidente:
Eu não trabalho com essa hipótese. Eu, sinceramente, veja, em política é ruim, porque eu nem posso discordar, eu nem posso dizer para vocês: “Está aqui assinado”. Não vou, não posso, e nem posso dizer... Eu diria que a probabilidade é não existir 2014, a probabilidade. Veja, porque eu quero que a minha candidata ganhe. E, se eu quero que ela ganhe, ela tem o direito à reeleição. Se eu quiser que ela ganhe, ela tem que ir muito bem, com dois anos de governo o povo já não ter mais saudade do Lula, ou seja, já...

Jornalista: Depende.

Presidente:
E começar a dizer: “Lula nunca mais, Dilma outra vez”. Sabe, é isso. E, também se for outro, que seja melhor. O país está vivendo um momento glorioso. Nós estamos longe ainda de ter o país do nosso sonho, mas o Brasil está vivendo um momento que há muitas décadas ele não vivia. Então, eu só quero que as coisas melhorem.

Eu vou mostrar, eu vou mostrar que um ex-presidente não pode ser mesquinho, não pode ficar torcendo pelo fracasso do outro, não pode ficar dando palpite, ou seja, tem que deixar... sabe? Saiu da Presidência, saiu...

Jornalista: O senhor sente esse comportamento no Fernando Henrique?

Presidente:
Vai viver de...

Jornalista: Isso, na verdade, incomodou o senhor muito.

Jornalista: Incomodou muito, não é?

Presidente:
Ora, é porque, sabe o que acontece? Eu tomei como decisão fazer comparação. Ou seja, tinha que ter uma referência. Qual era a minha referência? Era tudo o que eu encontrei. Aí, obviamente que ele deve ter se incomodado demais com os números nossos. Eu vou até deixar para vocês aqui, em destaque para vocês lerem aqui e, depois... Esse é o mais novo, Maia?

_________: É o mais novo.

Jornalista: Obrigada. Agora, o PAC 2 que o senhor lançou, não vai dar tempo de terminar, não é, Presidente? Não fica uma carta de intenções, assim, tão próximo?

Presidente:
Não, não, meu amor, o PAC 2 não foi lançado para a gente começar a fazer neste governo. Alguma coisa pode começar. Por que nós fizemos o PAC 2, gente? Porque se... E o PAC 2, eu estava vendo algum governador dizer, até o Aécio disse: “As obras prioridade de Minas, eu vou passar para o Serra”.

Veja, as obras prioritárias que nós vamos fazer em cada estado, elas são definidas pelo estado. Não é o governo federal que vai decidir qual é a rodovia, qual é a ferrovia que vai fazer. Por que eu tive que fazer o PAC 2? Para facilitar a vida de quem entrar depois de mim. Ou seja, se a pessoa não quiser fazer, não faça. Foi eleito presidente, tem o direito de pegar todo papel e falar: “Não vou fazer”. Mas o que eu quero?

Agora, eu quero deixar uma prateleira de projetos que eu não recebi. Eu quero deixar um conjunto de obras, sobretudo investimentos nas grandes periferias do país, que eu não recebi. Ora, se a pessoa entrar e quiser continuar, ótimo. Se a pessoa...

Inclusive, algum dinheiro já vai estar no orçamento. Porque nós temos Copa do Mundo, nós temos Olimpíadas. Essas coisas você não pensa na véspera. Então, o que eu quis deixar foi a estrutura semeada. Quem entrar pode falar: “Bom, isso aqui é do governo passado, não me interessa mais, vou tirar tudo fora aqui, vou fazer novo”. Vai perder um ano e meio. O mandato é curto. Quatro anos é muito curto. Quatro anos é muito para a oposição, mas para a situação passa rapidinho.

Jornalista: Voa.

Presidente:
Então, foi isso que eu fiz. Está aí o PAC, vai ser construído com os prefeitos. Nós vamos colocar mais dinheiro na periferia do que já foi colocado, para evitar essas coisas que aconteceram no Rio de Janeiro. Porque a gente fica culpando a chuva, mas quem era administrador há 20 anos atrás, há 30, quando deixou as pessoas irem morar no lixão? Quem eram os senhores governantes deste país, que deixaram as pessoas construírem suas casas à beira de córregos, nas encostas de morros? Então, a gente culpa a chuva... Obviamente que, se não fosse a chuva, a gente não veria isso. Mas o dado concreto é que todo mundo sabe que alguém que está morando na beira de um córrego vai sofrer uma enchente se chover demais. Alguém que está na beira do morro, vai ter desbarrancamento. Será que ninguém viu isso?

Jornalista: Há vinte anos não era o Brizola?

Presidente:
Então, eu falo que nós estamos... Eu não quero citar nomes.
Nós estamos fazendo, com todo o dinheiro que nós estamos... E falo isso de coração para vocês. Peguem qualquer presidente que passou por este país, ou juntem todos, e vejam a somatória de dinheiro que eles investiram em dragagem e saneamento básico, se chega a 10% do que nós estamos fazendo.

Então, eu acho que nós estamos fazendo um processo de reparação neste país. Reparação da irresponsabilidade administrativa que foi feita no país. Deixar o povo, de forma desordenada, ocupar lugares inadequados, que todo mundo sabia que era inadequado. Só o coitado que foi morar lá que não sabia. Então, eu acho que nós estamos colocando muito dinheiro no PAC 2 para consertar isso. E vai demorar, eu diria, 20 anos para a gente poder consertar tudo. Porque, em alguns casos, é quase refazer. Uma coisa é você tirar dez famílias; outra coisa é você tirar 150 mil. Aí, é uma coisa maluca. Mas tem que fazer. Então, nós estamos começando.
No PAC 1 já teve muito dinheiro para saneamento básico. Você pega uma cidade como Florianópolis, não tem tratamento de esgoto. Uma cidade extraordinária como aquela...

Jornalista: Vive duas realidades.

Jornalista: Pois é...

Presidente:
Há quantos anos a gente ouve falar na despoluição do rio Tietê? Há quantos anos a gente ouve falar na despoluição da Baía de Guanabara? Agora, seria importante se vocês pudessem ir comigo fazer uma viagem na Baixada Fluminense, para ver o que a gente está fazendo lá. Você só vai consertar a Baía da Guanabara quando você consertar a Baixada Fluminense. Você tem que fazer coleta de esgoto, tratamento de esgoto. Aquele rio da Baixada Fluminense está negro, parece petróleo.

Jornalista: É.

Presidente:
Aquilo está há dezenas, há décadas, ninguém nunca colocou um centavo lá. E ficavam prometendo: despoluir a Baía da Guanabara, despoluir o rio Tietê, e nunca fizeram. Então, nós estamos começando a fazer. E eu queria que vocês pegassem para ver quanto dinheiro nós passamos para São Paulo, para obras de saneamento básico. Não tem coloração partidária não. Nós queremos tentar resolver esse problema. E o governo federal, se Deus quiser, nos próximos 20 anos, quem vier e for colocando dinheiro, a gente pode sonhar com uma nova metrópole, nos próximos anos.

Jornalista: Eu acredito que (incompreensível).

Presidente:
Aquele bairro Pantanal de São Paulo, que encheu d’água...

Jornalista: Jardim Pantanal.

Presidente:
Aquele Jardim Pantanal: Oh, gente, se vocês forem lá, ele está abaixo do nível do rio Tietê. Então, todo mundo sabia que qualquer chuva, aquilo ia encher d’água. Mas deixaram, e virou uma cidade.

Jornalista: Ainda tem todo o... Urbanizaram...

Jornalista: É, vai vendendo, vai não sei o que, vai fazendo, as pessoas vão ocupando...

Presidente:
Não é vendendo, as pessoas ocupam...

Jornalista: ...e ninguém nem vê.

Presidente:
...e os políticos vão gostando...

Jornalista: Vai deixando, não é? Porque alguém vai lá e ganha voto...

Presidente:
Isso.

Jornalista: É complicado.

Presidente:
Eu ouvi uma frase sincera do prefeito de Niterói. Ele falou: “Eu acabei de asfaltar isso. Eu asfaltei, coloquei luz. Se eu soubesse que ia acontecer isso, eu não tinha feito”.

Jornalista: E o Sérgio Cabral, está mais calmo?

Jornalista: Está chorando menos.

Presidente:
Por que, ele estava nervoso?

Jornalista: (incompreensível)

__________: Quem estava nervoso?

Jornalista: Sérgio Cabral.

Presidente:
Eu acho que a chuva lá foi uma coisa muito séria.

Jornalista: É, não, lá... Que coisa horrível.

Presidente:
Não, agora os políticos vão entrar... agora os candidatos vão entrar num inferno astral, porque agora começa o processo de acusação de... sabe.

Jornalista: Presidente o senhor espera que a oposição com relação ao governo da ministra Dilma, que ela seja mais madura, menos preconceituosa com o governo dela? No Senado pelo menos, que a coisa seja mais...

Presidente:
Eu acho, eu acho. Olha, eu vou contar uma coisa para vocês, assim, de coração. Muitas vezes as pessoas acham que eu brigo com a imprensa, que eu falo mal da imprensa e eu tenho a minha consciência muito tranquila. Eu, muitas vezes... também as pessoas não podem ser bobas de achar que eu não leio, que eu não sei das coisas.

Jornalista: Sabe até do editorial do Estado de Minas.

Presidente:
Mas, veja, eu vou contar uma coisa para vocês. Eu acho que a imprensa brasileira, ela vai ter que tomar consciência de que o eleitor é o único que pode fazer julgamento, de que o telespectador é o único que pode fazer julgamento e de que o ouvinte é o único que pode fazer julgamento. Portanto, quando a gente escreve, fala, na televisão e no rádio, a gente tem que saber que tem alguém do lado de lá que tem inteligência e que essa pessoa vai perceber se a gente está sendo honesto, ou se não está sendo honesto. Essas pessoas percebem quando um jornal ou uma televisão carrega na tinta contra um e não contra o outro.

Eu vou pegar um pequeno exemplo de uma coisa que aconteceu comigo faz quinze dias atrás. Eu fui ao encontro do PcdoB e no encontro do PcdoB eu fiz uma critica à reforma política e disse que por conta da reforma política, dos partidos não terem coragem, a gente fica refém de juiz. Para minha surpresa, eu depois vi em duas televisões...

Jornalista: Que o senhor tinha criticado a justiça.

Presidente:
É, e eles só colocam o lado que a gente não deve ficar na mão do juiz e não colocaram a critica à reforma política. Então, se alguém que faz isso acha que está me prejudicando, as pessoas já perceberam que faz oito anos que muita gente tenta me prejudicar.

Jornalista: O senhor acha que tirou do contexto aquela sua declaração?

Presidente:
Tirou não, tirou não. Ou coloca a frase inteira ou não coloca. Quando você coloca uma frase, significa que a má fé predominou e não a informação, é só isso. Agora as pessoas... nem disso eu fico com raiva mais, nem disso eu fico com raiva mais. Porque como eu falo em muito lugar e falo muitas vezes, as pessoas vão sabendo o que eu falo.

Jornalista: O senhor que se vale um pouco pela frase da ministra Dilma com relação à ditadura, agora?

Presidente:
Não, eu acho, deixa eu lhe falar: eu acho que houve um tempo em que você tinha um jornal, uma televisão que achava que poderia manipular a sociedade. Hoje, meu caro, não existe hipótese.

Jornalista: Até porque tem Internet...

Jornalista: Não, e outra coisa, não é? O povo também não é...

Presidente:
Não, e porque o povo está mais esperto. Eu, de vez em quando, vejo o cara falar: “Não, porque fulano de tal é formador de opinião pública”. E o presidente da CUT não é formador de opinião pública? E o presidente da Cooperativa de Catador de Papel não é formador de opinião pública? Ou o formador de opinião pública é só o cidadão que está falando bobagem lá?

Então, eu acho que alguns mitos estão sendo desmontados e nós precisamos perceber. Quer dizer, eu trabalho com a ideia do seguinte – e eu tenho dito isso em vários encontros que eu tenho participado: só existe um jeito de a imprensa ter um papel importante: ela ser verdadeira, ela não ter partido. Aqui no Brasil a gente percebe, algumas pessoas parecem o panfleto de um partido político. Era melhor então dizer: no período eleitoral, esse jornal é de tal partido, esse é de tal partido, porque fica dizendo que não é político e a gente acompanha diariamente e vê manchete e vê... sabe?

Então, eu acho que há uma certa hipocrisia. Tudo isso está sendo desmontado. Está sendo desmontado porque o povo está tendo acesso a outro tipo de informação, está sendo desmontado porque a Internet está jogando um papel extremamente importante. E está sendo desmontado porque eu sou um político que não tenho medo de fazer crítica à imprensa. Eu, com a mesma força que eu faço um elogio, eu faço uma crítica. Não tenho nenhuma vergonha de elogiar.

Eu lembro de um tempo em que os políticos tinham medo de falar que o BNDES não podia emprestar dinheiro para gráfica, para televisão. Eu dizia: o BNDES tem que emprestar, como empresta para qualquer empresa.

Jornalista: Aliás, falar isso, foi uma grande solução. Inclusive o nosso grupo usou fantasticamente.

Presidente:
Tem que emprestar, como empresta para qualquer empresa. O BNDES não tem que saber se é preto ou branco, não. É uma empresa que apresentou um projeto. É para construir uma gráfica? É. É para comprar um prédio? É. Como empresta para a siderúrgica do Gerdau, como empresta para a Vale do Rio Doce, para a Petrobras, empresta para a imprensa, qual é o problema?

Jornalista: Isso foi muito importante.

Presidente:
Sabe, qual é o problema? Nós vamos estabelecer uma relação promíscua [por isso]? Então, com a mesma dignidade que eu defendo isso, eu faço críticas quando eu acho que houve má-fé. E de vez em quando tem má-fé. De vez em quando tem uma má vontade. Agora...

Jornalista: Mas o senhor acha que tem melhorado esse...?

Presidente:
...Deus me deu esse dom de não ficar com raiva mais.

Jornalista: O senhor acha que, com a eleição, essas coisas costumam se acirrar, não é?

Presidente:
Não, as pessoas podem escrever o que quiserem, eu não estou perdendo mais noites de sono por isso.

Jornalista: O que está tirando o seu sono, ultimamente?

Presidente:
Olha, hoje as pesquisas tiram um pouco meu sono, porque...

Jornalista: Por quê?

Presidente:
Eu falo para o Franklin: ainda há espaço para crescer. Há espaço para crescer, se a gente fizer as coisas que tem que fazer ainda, (incompreensível).

Jornalista: Mas o senhor não deu uma patinada aí esses... Não foi? Essa coisa de ir a Minas, aí depois aquela ida lá ao Ceará, não deu uma...

Jornalista: Problema de agenda.

Jornalista: ...uma truncada nessa agenda dela?

Presidente:
Pelo amor de Deus, gente, se a gente for começar... A Dilma...

Jornalista: O Hélio Costa ficou chateado, o Ciro...

Presidente:
Veja, eu acho que a Dilma, enquanto não for definido o leque de apoio, ela tem que fazer a agenda mais plural possível. Ela não pode ir ao estado apenas por um partido político. Mas ela foi receber o título de cidadã de Fortaleza. Esse é um ato suprapartidário. Também não podemos colocar uma barreira e dizer para a Dilma: “Fique trancada dentro de casa e não saia”.

Jornalista: É, porque ainda tem problema em quase todos os estados, não é? Assim, são poucos que estão...

Ministro Franklin Martins: E tem gente que gostaria que ela não saísse de casa, só o outro saísse, não é?

Jornalista: Exatamente.

Jornalista: Aí, não dá, não é?

Ministro Franklin Martins: Nada (incompreensível)

Presidente:
Vai ser uma boa campanha, vai ser uma boa campanha.

Jornalista: Presidente, muito obrigado, viu!

Presidente:
Vai ser uma boa campanha...

Jornalista: Presidente, nossa...

Presidente:
...de alto nível. Eu gostaria... Aliás, eu gostaria convidar vocês quando eu fosse a próxima vez ou na Rocinha ou no Complexo do Alemão.

Jornalista: Vamos com o maior prazer.

Jornalista: Vamos, a gente acompanha.

Presidente:
Sabe, está acontecendo muita coisa neste país, mas muita.

Jornalista: A gente vai, combina aqui. Quando tiver nós vamos lá, com o maior prazer.

Presidente:
Seria importante vocês darem uma olhada no que está acontecendo, em uma coisa chamada “Territórios da Cidadania”. Nós temos 120 territórios que atendem 1800 cidades, com 19 ministérios participando de políticas públicas...

Ministro Franklin Martins: Tem umas coisas que a imprensa acha que não existem, um belo dia ela descobre que existem.

Jornalista: Que até parece (incompreensível) no horário eleitoral.

Ministro Franklin Martins: A integração do São Francisco foi aquilo. A imprensa... A oposição dizia... De repente, eles foram lá, quando saíram as imagens, as fotos, a quantidade de trabalhador, “mas não é que existe?”

Presidente:
Agora, essa é uma coisa... Você que é nordestino, essa é uma coisa que você tem que ver. O jornal poderia pagar para você fazer uma viagem lá de helicóptero pela quarta vez. Na transposição do São Francisco, é um negócio, é uma obra...

Jornalista: Agora, graças ao BNDES, o jornal tem condições de fazer muito dessas (incompreensível).

Presidente:
É uma obra indescritível. Se você é pernambucano, você vai sentir a emoção que eu senti. É como se fosse uma cobra grande, de 600 quilômetros, cortando o semiárido, sabe?

Jornalista: Eu me lembro quando ela começou, ela estava ainda com o presidente José Alencar.

Jornalista:
Eu sou filha de nordestino.

Jornalista: São quantos (incompreensível)?

Presidente:
Ah, gente, tem muita, tem muita coisa. Eu, uma coisa que eu quero fazer, ao terminar o mandato, é fazer uma viagem de carro por volta dela.

Jornalista: Pronto, eu poderia ir nessa viagem.

Ministro Franklin Martins: Vai na carroceria.

Presidente:
Agora, vocês sabem que no Brasil leva tempo. Veja, nessa obra, teve uma explosão e uma...

Jornalista: Essa obra vai eleger o Geddel, hein, Presidente?

Presidente:
Uma antropóloga que viu uma pedra e achou que era uma machadinha indígena.

Ministro Franklin Martins: (incompreensível) na tomada dela, no São Francisco, isso.

Presidente:
E a obra ficou parada seis meses.

Jornalista: Saem os engenheiros, vêm os arqueólogos.

Ministro Franklin Martins: O pior foi que o general, o cara virou e disse assim, para a antropóloga: “Parece uma machadinha”. Ela: “Parece mesmo, vou estudar”.

Presidente:
Seis meses. Você acha que é possível parar seis meses uma obra?

Jornalista: Dizem que na Grécia é que é assim, não é

Jornalista: O senhor não lembra do bagre, também, lá em cima?

Presidente:
Eu conto da perereca lá, do Rio Grande do Sul, do Viaduto da 101. Na saída do túnel, descobriram o diabo de uma perereca. E essa perereca parou a obra quase oito meses.

Ministro Franklin Martins: Uma espécie em extinção.

Presidente:
Chamaram um monte de gente.

Jornalista: (incompreensível)

Presidente:
E eu dizia: “Gente, nós gostamos de perereca, ninguém vai querer acabar com as pererecas, deixem”.

_________: Graças a essa obra está se fazendo o maior levantamento biológico e (incompreensível).

Jornalista: Presidente, e o Geddel, Presidente? O Geddel vai dar trabalho lá, não é?

Jornalista: O Rio São Francisco vai eleger o Geddel.

Jornalista: Ele estava conversando outro dia, lá no plenário, para os deputados dele, dizendo assim: “Vixe, vocês vão ver no horário eleitoral, a gente tem 14 minutos”.

Presidente:
Ele tem quanto?

Jornalista: Ele falou que tinha 14 minutos no horário eleitoral.

Jornalista: Quatorze minutos.

Presidente:
Não pode ter (incompreensível)

Jornalista: (incompreensível)

Presidente:
Não pode ter 14 minutos.

Jornalista: Presidente, o senhor...

Jornalista: O senhor vai hoje no jantar (incompreensível) O senhor vai querer falar um minutinho? Vai ser uma coisa super informal.

Presidente:
Se for jantar e eu não tiver que falar, eu prefiro.

FONTE: publicado hoje (22/04) no Blog do Planalto.

Nenhum comentário: