Entrevista com diretor Barbassa ao jornal O Globo
O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Almir Guilherme Barbassa, foi entrevistado na última terça-feira (13/4) pela jornalista Flávia Oliveira, que escreve a coluna 'Negócios & Cia.' do jornal 'O Globo' .
Na entrevista, que originou a matéria publicada nesta sexta-feira (16/4) sob o título “A capitalização não é urgente, é necessária”, o diretor falou sobre assuntos como viagem à China, capitalização da Companhia e incentivo aos fornecedores
Entrevista: Almir Barbassa
Entrevistador: Flávia Oliveira
Flávia: Obtive informações que achei que tinham muito a ver com o foco da coluna. Não só os desafios que a empresa terá para alavancar seus projetos, mas também a rede de fornecedores, que precisam ter a quem recorrer em termos de acesso a funding. Queria começar com isso, sabendo que o senhor acabou de voltar da China. O presidente chinês está vindo para o Brasil e eu li que havia a intenção de acelerar alguma negociação para aproveitar a vinda dele com o presidente Lula e assinar alguns acordos de intenção de investimentos, de cooperação. Em que etapa está a negociação com os chineses?
Barbassa: Está em andamento. É uma negociação de acordo de parceria entre empresas chinesas e a Petrobras. Com a vinda do presidente chinês, deverá haver outros acordos no nível do governo, que eu desconheço. Mas no caso do envolvimento da Petrobras, é de certa forma derivado do acordo anterior que gerou a negociação dos 10 milhões de dólares. É um acordo entre três partes que estão presentes na operação feita no ano passado, que resultou de fato em dois contratos. Um entre a Petrobras e a Sinopec para fornecimento de petróleo, e um entre a Petrobras e o Banco de Desenvolvimento da China, que resultou no empréstimo de 10 milhões de dólares.
Flávia: Mas a sua última viagem não teve nada a ver com isso?
Barbassa: Não. Mas é claro que eu aproveitei para visitar bancos. A viagem também esteve ligada à operação do ano passado. Naquele contexto, assumimos o compromisso com o Banco da China de apresentar aos empresários chineses nosso Plano de Negócios e as oportunidades que existem no Brasil para a produção de bens e serviços para a indústria de petróleo. Esse foi o meu objetivo. Estive em Xangai e Pequim.
Flávia: Apresentar oportunidades para que eles sejam fornecedores ou para que se instalem aqui?
Barbassa: Para que venham produzir aqui.
Flávia: E como foi?
Barbassa: Foi ótimo. Foi um seminário de um dia inteiro com participações diversas. Fui o primeiro a apresentar. O Prominp apresentou sua forma de trabalhar. A Sinopec, que está trabalhando aqui, falou sobre sua experiência no Brasil.
Flávia: O seminário era dedicado a essa cadeia?
Barbassa: Sim. Apresentamos as oportunidades. O (Renato) Duque falou sobre nosso processo de compras, contratações e demandas potenciais, mais detalhadamente. Falei sobre nosso Plano de Negócios e investimentos. Nós tínhamos lá cerca de 400
empresários.
Flávia: Em que dia aconteceu o seminário?
Barbassa: 26 de março. Fiquei a semana toda lá, até o outro sábado. Na primeira fase da semana eu fiz encontros com investidores e bancos.
Flávia: Já era o plano B da capitalização?
Barbassa: Não. Não tinha plano B nenhum! Era o plano A da capitalização.
Flávia: Mas o plano A depende do Congresso...
Barbassa: Mas não há dúvidas de que o Congresso o aprovará. Você tem dúvidas?
Flávia: Não tenho dúvidas de que vá aprovar, tenho dúvidas sobre quando vai aprovar.
Barbassa: Está em urgência constitucional.
Flávia: Mas quando foi para a Câmara também tinha urgência e prorrogaram...
Barbassa: Não. Mas no caso da Câmara, houve um relaxamento.
Flávia: Sim. Mas como garantir que isso não acontecerá novamente?
Barbassa: A promessa é não relaxar porque não temos espaço para isso.
Flávia: Ontem o presidente Gabrielli deixou muito claro que essa janela de
oportunidades do primeiro semestre é muito importante. Como diretor financeiro, isso
faz sentido para o senhor? Essa questão do calendário de férias do hemisfério norte?
Barbassa: Acho que se pode avançar um pouco. A operação é tão importante, e todo mundo vem esperando por ela, que ela moarca o seu momento.
Flávia: Não há nada desse tamanho na indústria do petróleo.
Barbassa: Nem em outra indústria. É uma operação que deve fazer o seu momento. Mas não é bom que contrariemos o mercado. Seria muito melhor se fizéssemos no fim de julho ou no máximo no comecinho de agosto.
Flávia: Depois da Copa?
Barbassa: Quando termina a Copa?
Flávia: Em 11 de julho.
Barbassa: Não. Muito depois. Depois que nos tornarmos campeões.
Flávia: O ideal seria em fins de julho.
Barbassa: Fim de julho. O ideal.
Flávia: E não há plano B?
Barbassa: Não.
Flávia: Então o que andou saindo na imprensa sobre fazer uma chamada de capitais não é verdadeiro?
Barbassa: Não, não existe isso. Foi um mal-entendido. Nós o esclarecemos. Nunca houve essa possibilidade. Ela foi aventada hipoteticamente. Em conversas com
jornalistas, nunca se pode trabalhar com “se”. Conjecturou, virou verdade. Mesmo tudo
dando errado, essa não é certamente a opção que surgiria no horizonte.
Flávia: E qual é?
Barbassa: That’s the question.
Flávia: É por isso que tem gente que vai para a China e se reúne primeiro com os bancos e investidores para depois encontrar os fornecedores, não?
Barbassa: Eu voltei de lá e passei nos Estados Unidos onde tive encontros com tantos ou mais fornecedores lá. Há um interesse grande.
Flávia: Não é por falta de liquidez que a Petrobras não vai executar o Plano de Negócios.
Barbassa: Não é por falta! Estamos com altíssima liquidez. Trabalhamos ano passado na preparação para esse momento. Estamos tranqüilos. O caixa está muito confortável.
Há mais de 10 bilhões de dólares em caixa. Em caixa! Quantas empresas no Brasil
valem 10 bilhões de dólares? Comprar e pagar à vista... Se a Petrobras quiser mais 5
bilhões, é ir ao mercado e buscar. Em uma semana eu faço isso. Não há problema de
jeito nenhum de liquidez. É uma questão de uma visão de longo prazo e foi isso que o
presidente quis colocar. A empresa tem que manter sua estrutura de capital sólida e não pode ficar excessivamente endividada em relação ao capital próprio. Já temos em si um grande benefício que é fazer investimento para crescer. Isso é um caso raro no mundo hoje. Poucas empresas têm a opção e as oportunidades que a Petrobras tem. Não nos falta o recurso. Nós temos e teremos o recurso que precisarmos. Mas não queremos
levar a empresa a uma estrutura de capital inadequada.
Flávia: Sem a capitalização o nível de alavancagem seria muito alto... não
recomendável.
Barbassa: Sim, de jeito nenhum recomendável.
Flávia: Mas dentro da média do setor?
Barbassa: Dentro das faixas que nos propomos. Cada empresa tem seu rating, suas faixas, seus objetivos, seu portifólio de projetos e ela se conforma ali dentro. Nós temos as nossas metas, os nossos ratings, e nós queremos sustentá-los. E crescer com essa estrutura bastante saudável. Para isso é necessário a capitalização. Se sairmos um pouco da alavancagem ideal, o importante não é questão pontual. O importante é olhar a empresa no médio e longo prazo.
Flávia: Então não é uma questão de urgência?
Barbassa: Exato. É uma questão necessária, que seja feita em um prazo razoável de tempo. Também não posso deixar para daqui a cinco anos. Tenho que fazer dentro de um período razoável de tempo e mostrar ao mercado que é uma questão da oportunidade de obter as aprovações adequadas para fazer essa capitalização. Qualquer melhor situação é fazermos até o final de julho, como disse o presidente também.
Flávia: Para aproveitar a janela. Depois temos as eleições.
Barbassa: Exatamente.
Flávia: Mas o plano de investimentos da Petrobras não está em risco em razão de algum atraso na aprovação do marco regulatório, que inclui a capitalização?
Barbassa: Não. Não está. Você perderia o momento ideal, que é até julho.
Flávia: Por que esse é o momento ideal?
Barbassa: Porque se eu não fizer até julho, em agosto começam as férias do mercado de capitais no hemisfério norte. Não haveria espaço para fazer a operação. Setembro é o mês de maior efervescência da nossa eleição. Uma operação desse tamanho nesse momento não é recomendável. Não é que não possamos fazer nesse mês. Se eu puder
escolher, não é nesse momento que nós vamos fazer. Depois de setembro, há a
indecisão sobre o resultado da eleição. Não podemos assegurar com certeza se ela vai
ser decidida no primeiro ou se demandará segundo turno.
Flávia: Dito isto, situação de caixa confortável, o plano de investimentos aprovado e...
Barbassa: Não. O plano de investimentos ainda não está inteiramente concluído.
Flávia: Esse que o Conselho aprovou agora?
Barbassa: O Conselho aprovou uma indicação... Primeiro ele aprovou o orçamento para este ano, que é de 88,5 bilhões de Reais. O plano de negócios de 2010 a 2014, o que foi aprovado é uma indicação da faixa em que deveria se situar, que é entre 200 e 220 bilhões de dólares. Mas não há detalhamentos de quais os projetos que o compõem, que é um trabalho que estamos fazendo. Para fazer a capitalização é imprescindível que tenhamos esse plano “brilhando”, aprovado, com definição se haverá ou não cessão onerosa, quando haverá, se possível já com a definição do preço da cessão onerosa.
São elementos fundamentais para a decisão do investidor. Por isso gostaríamos de ter a aprovação mais cedo, porque temos todo um processo de transparência a cumprir, com
avaliações independentes do lado da Petrobras e do governo, processo de negociação do
valor do barril e determinação do montante que precisaremos para atingir a meta de
barris.
Flávia: Enquanto isso vocês já estão trabalhando?
Barbassa: Sim. O nosso dever de casa, aquilo que é possível fazer, nós estamos fazendo.
Flávia: Quanto tempo a partir da aprovação da lei para formatar?
Barbassa: De 30 a 60 dias para fazer a valorização. Mas temos que convocar uma AGE que aprovará a capitalização. E a AGE precisa de uma decisão do Conselho 30 dias antes da sua reunião. O Conselho tem que se reunir, convocar a AGE para que seja
reunida em 30 dias, aprova a capitalização e dá até 30 dias para a subscrição. Então
você vê que tem 60 dias...
Flávia: Então nesse sentido estamos com um prazo apertado...
Barbassa: Exatamente. Se contar 15 de julho, tem que ter a decisão do Conselho no fim de maio. Então, a decisão do Conselho implica em ter a decisão do Congresso.
Flávia: Antes disso.
Barbassa: Eu tenho abril e maio para ter essas definições.
Flávia: A rotina, no mais, continua?
Barbassa: Tranquila e brilhante.
Flávia: Então vamos voltar para a China. Acho que se esgotou esse capítulo, essa questão da negociação com novos fornecedores. Tem uma impressão de que a cadeia de fornecedores brasileiros não dará conta desse volume e daí essa sua intenção de atração de investidores estrangeiros para operação aqui dentro?
Barbassa: Existem duas coisas. A primeira é essa que você indicou que é o caso do empresário brasileiro que não tem certa tecnologia e eventualmente poderá se associar com outra empresa e com isso ampliar a sua linha de fabricação e fornecimento e existe o caso de um produto inteiramente novo que não é fabricado no País e poderá ser fabricado a partir do ingresso de quem tenha a tecnologia. Essa minha viagem a China foi a última mais não foi a primeira. Foram nove viagens desde meados de 2008. Primeiro país que visitei foi o Japão.
Flávia: E as outras?
Barbassa: Japão, Itália, Cingapura, Coréia, Noruega, Inglaterra, França e Canadá. Com a China são nove.
Flávia: Estados Unidos não?
Barbassa: Estados Unidos não. Nós já tivemos algumas intenções de promover uma reunião desse tipo, mas acabou que por falta de tempo não vingou. Eles são
fornecedores que tem mais conhecimento. O que também buscamos em nossas
empreitadas, não é trazer as grandes empresas, que conhecem o Brasil e às vezes já
estão até aqui. Se você pensar nos estaleiros, por exemplo, todos conhecem a Petrobras.
O nosso intuito é aumentar o conteúdo nacional, o fortalecimento da produção nacional
e trazer quem sabe produzir o que vamos precisar para a fabricação do bem mas a sua
manutenção, isso é o diferencial. Quem são essas empresas? São as que estão por trás
das grandes empresas, que fornecem as grandes empresas. Esse é o grande diferencial.
Esse também é um indivíduo pouco informado. Esse foi o principal objetivo que
tivemos em todo esse périplo.
Flávia: Como o Senhor avalia o interesse e em que medida essas negociações estão amadurecendo, avançando, o que dá para contar em termos disso?
Barbassa: Eu já recebi casos com quem eu falei em um país que visitei e ele veio aqui especialmente me agradecer dizendo que depois que eu estive lá ele disse que agora está vindo definitivamente para cá. Isso quer dizer que tem resultado. Empresas que, por exemplo, estavam com pequeno interesse, ampliaram grandemente seus interesses.
Essa que são tradicionais fornecedores, que não estão interligados a minha visita, mas aos interesses da Petrobras, tudo é o mesmo motivador, vão fazer até centros de pesquisa no Brasil. Isso tudo mostra esse interesse que existe.
Flávia: E os brasileiros estão satisfeitos com isso? Qual a demanda em termos de ampliar negócios, de ter acesso a recursos e a crédito e ou associações? Essa cadeia brasileira está satisfeita com esse tipo de ação?
Barbassa: Em todos os países que visitei, fui acompanhado de empresários brasileiros, que tinham interesse em conhecer o outro lado da mesa, com quem podiam se associar.
O nosso formato dessas reuniões era de que na parte da manhã faz as apresentações e a
tarde faz a aproximação entre os empresários, é o network à tarde, que gera esses
possíveis entendimentos entre eles. Nós não entramos nesse. Somos só o padrinho.
Flávia: Da mesma forma que com as Instituições Financeiras?
Barbassa: Com as Instituições Financeiras aí é diferente. Nossa visita sempre é casada com uma agência de crédito à exportação. Na China foi com o Banco de
Desenvolvimento da China, se você for à Itália é com a Sace, na Inglaterra é a CGB.
Cada país tem a sua agência de crédito à exportação, então nós Petrobras buscamos
crédito nessas agências como importadores que somos e eles procuram desenvolver
negócios para as indústrias deles. O BNDES tem ido também dizendo que se eles
vierem para o Brasil se instalar terão créditos também. O Promimp vai, diz como está
trabalhando, treinando mão-de-obra, e todo o programa de incentivo e preparação.
Flávia: Esse é o caso que envolva um fornecedor estrangeiro que deseja exportar e produzir para o Brasil? E essa negociação de levantar ou facilitar o acesso a recursos por parte do fornecedor da Petrobras?
Barbassa: Sim, aí é que nós desenvolvemos a questão dos FIDCs, que nós temos
incentivado e até participado como cotistas dos fundos FIDCs. Somos participantes de
alguns fundos.
Flávia: De alguns quantos?
Barbassa: Está aprovada a participação em quatro, mas efetivamente já incorporamos recursos em um, e estamos esperando a complementação dos demais. Isso é o nosso interesse, que se desenvolva isso, que é uma alternativa nova. É uma alternativa à disposição desse pessoal, porque a nossa grande preocupação é: será que teremos os fornecedores que iremos precisar, na hora que precisarmos? Então, é reforçar também essa cadeia. Tem os FIDCs e os FIPs.
Flávia: Mas não são operações diretas nem nunca serão?
Barbassa: Não, sempre operados pelo mercado. Nós não queremos aqui substituir nenhuma instituição financeira. Nós vamos continuar explorando petróleo e eles fazendo negócios financeiros.
Flávia: E de alguma forma vocês vão contabilizar também ao aplicar nos fundos?
Barbassa: Exato, nós vamos ter uma rentabilidade correspondente aos demais cotistas do fundo. Esse não é o principal objetivo nosso: não é a rentabilidade. Nós
rentabilizamos nosso investimento investindo em petróleo. O resto é mais para
incentivar.
Flávia: E o mercado esteve bem pior, 2008 já foi bem pior. Aliás, o senhor falou em FDICs e FIPs, os quatro que foram mencionados...?
Barbassa: São os FDICs. FIPs nós não participamos como cotistas.
Flávia: Ah, sim. Porque aí vocês entrariam no capital...
Barbassa: É da empresa lá, e esse não é o nosso objetivo.
Flávia: Quantos já fechados ou por fechar?
Barbassa: FIPs?
Flávia: Já tem algum fechado?
Barbassa: Tem um que já está capitalizado com 500 milhões de Reais.
Flávia: Com quem?
Barbassa: Com Banco Modal e Caixa Econômica Federal e eles estão à procura das empresas nas quais eles vão investir.
Flávia: Muito bom.
Barbassa: Existe uma grande demanda no mercado internacional para esse tipo de oportunidade. Eu tenho estado em contato com muito investidor.
Flávia: De investimento em participação?
Barbassa: Exatamente. Eles olham o Brasil como uma grande oportunidade nesse
momento. O Brasil é um país crescendo, e o melhor negócio é você investir numa
empresa com potencial num país que tem crescimento, que o retorno é certo.
Flávia: E de alguma forma eles estão garantidos e avalizados pela relação da Petrobras com essas empresas.
Barbassa: Esse é o grande diferencial que a Petrobras injeta nesse mercado. É uma demanda de longo prazo e consistente, e de grande escala."
FONTE: publicado hoje (16/04) no blog "fatos e Dados", da Petrobras.
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