sexta-feira, 15 de abril de 2011
OBAMA: OPORTUNIDADE DE REDENÇÃO
“Bristol (EUA) - Na última vez em que escrevi sobre o presidente Barack Obama, na semana passada, nosso herói havia traçado uma linha no chão e dito:
- "Daqui os republicanos não passarão".
Passaram.
Para não paralisar o governo, os republicanos haviam "exigido" 33 bilhões em cortes nas despesas federais, atingindo, sobretudo, programas sociais e a proteção do meio-ambiente. Conseguiram 38,5 bilhões. Mais do que a "exigência" inicial.
Que tal isso como uma derrota? O Presidente Barack Obama congratulou-se por ter "vencido".
Como disse o articulista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, Barack Obama, ao ser defrontado com a necessidade de negociar com a oposição, adota a atitude de primeiro negociar consigo mesmo. Convence-se de que deve voltar atrás em tudo aquilo que antes considerava necessário.
Estamos assistindo ao curioso espetáculo de um partido na oposição, o Republicano, que governa, embora não detenha nem a Casa Branca nem o Senado.
É uma trajetória intrigante, esta do presidente Obama. Ele começou como um campeão do povo, mas agora parece ter medo de sua própria sombra.
Eu dizia aos republicanos que conheço, quando Obama foi eleito: "vocês vão se surpreender, pois Obama na verdade é um moderado".
Quem se surpreendeu fui eu, pois não esperava que Obama fosse moderado a ponto de dar aos republicanos mais do que eles pediam. Ou, como frequentemente diz o líder republicano na Câmara, John Boehner, "exigem".
Para mim a capitulação de Obama começou no episódio, logo depois de empossado, em que um professor negro da Universidade de Harvard, Louis "Skip" Gates, foi preso como assaltante ao tentar entrar em sua própria casa.
Em uma entrevista coletiva sobre o Plano de Reforma da Saúde, Obama foi surpreendido com uma última pergunta, que nada tinha a ver com o tema em tela: o repórter queria saber o que ele achava do episódio.
Obama tomou o partido de Gates, dizendo que o policial havia agido de modo "stupid". É bom lembrar que "stupid" em inglês não tem bem o sentido com que é usado coloquialmente em português. Fica mais para tolo, ignorante.
A direita caiu de porrete em cima de Obama, acusando-o de "racismo ao contrário". Para não tornar a história mais longa, de lá para cá Obama parece querer mostrar que é mais realista do que o rei. Ou mais republicano do que os republicanos, mais direitista do que os direitistas. Complexo de Pai Tomás?
Quarta-feira (13), Obama teve oportunidade de se redimir. Apresentar sua própria proposta de redução da dívida governamental, pela televisão. Se Obama, enfim, adotasse atitude corajosa e gritasse aos céus a verdade irrefutável -a de que os republicanos querem tirar dos pobres e dos remediados para dar aos ricos, que contribuem para os cofres do partido- seria o caso de sairmos todos proclamando "Hosana, Hosana nas alturas".
Mas desconfio que Obama embarcou na maré republicana de cortar programas sociais para diminuir o imposto de renda dos poderosos.
Quem viver verá.”
FONTE: escrito por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA. O autor é jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Artigo publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/oportunidade-de-redencao).
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