terça-feira, 12 de julho de 2011

Paulo Nogueira Batista: “O REAL FORTE PRODUZ UMA ECONOMIA FRACA”


“O governo prepara novas medidas para conter a alta do real, informam os jornais. Estariam sendo consideradas, entre outras providências, intervenções nos mercados futuros e de derivativos. Antes à tarde do que nunca, como dizia aquela propaganda de motel na Barra. A sobrevalorização do real está ficando cada vez mais grave. As medidas tomadas pelo governo até agora foram na direção certa, mas têm-se mostrado insuficientes.

Por Paulo Nogueira Batista, no O Globo

A abundância de liquidez internacional, exacerbada pelo enorme diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo, contribui para manter a força do real. Fala-se às vezes na "maldição dos recursos naturais". Um traço comum entre economias superdotadas de recursos naturais é a tendência a manter taxas de câmbio supervalorizadas, que estimulam as importações de maneira generalizada e inibem as exportações de quase tudo.

Pois bem. Pode-se falar também, pela mesma razão, em "maldição da abundância de capitais externos". Diria mesmo: uma das piores coisas que podem acontecer a um pais é cair nas boas graças do sistema financeiro internacional. A turma da bufunfa, livre, leve e solta, é capaz de arruinar qualquer economia.

O Brasil sofre das duas "maldições" ao mesmo tempo. Elas têm, em parte, uma origem comum. Tanto os elevados preços das commodities como a ampla disponibilidade de capitais podem ser vistos como subprodutos das políticas monetárias expansivas dos principais bancos centrais, multiplicadas pela operação dos mercados financeiros especulativos.

Ninguém deve apostar na permanência desse cenário. Daí que faz todo sentido estancar a tendência de apreciação do real e, se possível, revertê-la parcialmente. Caso contrário, a moeda forte produzirá uma economia fraca.

A valorização persistente da moeda solapa o equilíbrio das contas externas e pode deixar a economia vulnerável a choques internacionais. Além disso, a moeda forte enfraquece o parque industrial e outros setores da economia que perdem capacidade de exportar e de competir com importações no mercado interno. Poucos setores da economia prosperam. Os exportadores de commodities, beneficiados pelas altas cotações no mercado internacional. O comércio de produtos importados, que lucra com a entrada crescente de importações baratas. E o setor financeiro, que fatura com os juros elevados e a intermediação de capitais externos.

Ação, portanto. O que fazer? Baixar os juros unilateralmente? Fora de questão. O Banco Central continua sinalizando com novos aumentos dos juros básicos, o que aliás vem reforçando a tendência de alta do real.

Há como criar condições para uma redução expressiva dos juros com intensificação do ajuste fiscal e das medidas de controle de crédito? Também não. Cristalizou-se uma situação em que o diferencial de juros em relação ao resto do mundo permanecerá muito elevado.

Acumular mais reservas internacionais? O Brasil vem fazendo isso e pode continuar a fazê-lo. Porém, o diferencial de juros torna oneroso o carregamento das reservas. Além disso, o aumento das reservas tem efeito paradoxal: aumenta a percepção de que o país é um porto seguro, o que atrai mais capitais do exterior.

Sobram dois caminhos, creio, para enfrentar o problema. Primeiro, medidas de política comercial. Vale dizer, combinar subsídios e incentivos à exportação com medidas de restrição à importação para compensar, pelo menos em parte, os efeitos da sobrevalorização cambial sobre certos setores da economia.

Segundo, e mais importante, adotar medidas severas e mais amplas para barrar a entrada de capitais. Isso significa combinar medidas macro prudenciais com controles rigorosos de capital. Significa também atuar nos mercados futuros e de derivativos, como vem sendo mencionado pela equipe econômica.

A força do real vem tirando o sono do governo, declarou o ministro da Fazenda. Insônia promissora.”

FONTE: escrito por Paulo Nogueira Batista Jr, economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional. Publicado no jornal O Globo e transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=158519&id_secao=2)

7 comentários:

Probus disse...

Esse tal de Paulo Nogueira Batista Junior é, simplesmente, DEMAIS. Ele é muito, muito, muito bom.
Quando a Falha de SP o demitiu... eu fiz foi rir.

29/06/2011: Brasileiro no FMI diz que escolha de Lagarde foi 'insatisfatória'

O economista Paulo Nogueira Batista, que representa o Brasil e outras oito nações sul-americanas e caribenhas no comitê executivo do FMI, criticou, em entrevista à BBC, a escolha da ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, para chefiar o Fundo.

Batista qualificou de "altamente insatisfatório" o processo que resultou na eleição de Lagarde em detrimento do representante dos países emergentes na disputa, o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens.

"Era uma eleição predeterminada", afirmou o economista. "Enquanto os países europeus permanecerem unidos em torno de um nome único, e houver a percepção de que os Estados Unidos concordarão com ele - e isto tem sido assim desde o início -, todo o processo será muito desequilibrado."

A escolha de Lagarde, 55 anos, confirmou a tradição segundo a qual um europeu ocupa a direção do FMI, enquanto o Banco Mundial fica nas mãos de um americano. Ela será a 11ª indicada europeia e a primeira mulher a chefiar o Fundo.

Para o representante brasileiro no FMI, o órgão tem "uma distribuição muito distorcida do poder de voto e isto permite a continuidade desta regra arcaica".

Nogueira Batista disse que Carstens foi "muito corajoso" de entrar na disputa, "mas o fato é que nós (os países emergentes) estamos muito longe do que precisamos, que é uma eleição independente de nacionalidade".

"Tínhamos muitos candidatos com potencial, incluindo candidatos de dentro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas, no curto período entre a renúncia de Dominique Strauss-Khan e a seleção do novo diretor, era difícil convencer algum deles a se candidatar", disse o economista.

"Especialmente quando tínhamos a percepção de que a Europa estava desesperada por manter a posição, aliás, contradizendo a declaração que fizeram em 2007, quando as autoridades europeias disseram que Dominique Strauss-Khan seria o último representante europeu a ser eleito segundo essa convenção arcaica."

Dureza ou leniência
A substituição prematura de Strauss-Kahn foi anunciado pelo FMI em 20 de maio, depois que o então diretor-gerente do órgão foi obrigado a abrir mão do cargo, implicado em denúncias de agressão sexual e tentativa de estupro por uma camareira de hotel em Nova York.

Ele permanece em prisão domiciliar nos Estados Unidos enquanto aguarda julgamento.

Analistas concordam que o maior desafio a ser enfrentado pela nova diretora-gerente do FMI será lidar com a crise grega e o risco que ela representa para todas as outras economias interdependentes da zona do euro e da Europa em geral.

Para os críticos, o fato de ser proveniente de um país europeu é razão para desconfiar que a francesa possa ser leniente em relação ao remédio requerido para solucionar a crise grega.

Entretanto, para o economista Domenico Lombardi, membro do comitê executivo do FMI entre 2001 e 2005, esta é justamente uma vantagem de Lagarde em relação a qualquer outro nome proveniente de um país emergente.

"Ela vai estar em uma posição de conclamar seus colegas, os ministros das Finanças europeus, a agir de forma mais agressiva para solucionar a crise do euro", opinou o especialista.

"Não apenas isto, ela também perseguirá uma nova rodada de reformas na governança do fundo e, como sabemos, são os países europeus que sairão perdendo em qualquer mudança nesse sentido."

"Ela estará em melhor posição para pedir aos seus colegas europeus que abram mão de parte de seu poder de voto em benefício das economias emergentes", disse Lombardi.

Probus disse...

Paulo Nogueira Batista e o macartismo pré-eleitoral

20/05/2010

Paulo Nogueira e o macartismo da Folha

Preparando-se para a guerra eleitoral, a mídia demotucano já iniciou a “limpeza ideológica” nas suas redações. Na semana passada, o Grupo Abriu demitiu o editor da National Geographic do Brasil, Felipe Milanez, que criticou no seu twitter as distorções grosseiras da revista Veja. Agora, é a Folha de S.Paulo que dispensa o economista Paulo Nogueira Batista Junior, atual diretor do Brasil no FMI e um dos poucos colunistas que ainda justifica a leitura deste pasquim golpista.

O argumento usado é risível. A famíglia Frias alegou que “sua coluna é das mais longevas”, só não explicou porque outros antigos colunistas nunca foram molestados. Paulo Nogueira sempre foi um ácido crítico das políticas neoliberais de desmonte do Estado e da nação. Ele nunca deu tréguas aos tucanos colonizados, com seu “complexo de vira-lata”. Na luta de idéias em curso na batalha eleitoral, o economista seria um estorvo para José Serra, o candidato do Grupo Folha.

Relembrando as perseguições de 2006

Para disfarçar a sua política macartista de “caça às bruxas”, a Folha anunciou um novo plantel de colunistas, que inclui o Antonio Palocci. Com isso, ela tenta preservar a falsa imagem de “jornal pluralista”. Mas, como ironiza o jornalista Paulo Henrique Amorim, a jogada é rasteira. “Antônio Malloci, ex-ministro da Fazenda, como se sabe é um notável tucano que eventualmente milita no PT. Paulo Nogueira Batista Junior era um dos últimos vestígios de talento que a Folha exibia… A Folha, com um novo conjunto de ‘colonistas’, aproxima-se cada vez mais da treva sem fim”.

O clima de perseguição ideológica nas redações da mídia “privada” não é novidade. Na sucessão presidencial de 2006, ele também produziu suas vítimas, entre elas o jornalista Rodrigo Vianna, que não aceitou as baixarias da TV Globo na cobertura da campanha. Franklin Martins e Tereza Cruvinel também sentiram o ódio do “senhor das trevas” das Organizações Globo, Ali Kamel. Nos jornais e revistas, a perseguição fascistóide silenciou vários outros jornalistas.

A quem serve a liberdade de expressão?

Como afirma o professor Venício A. de Lima, estes episódios revelam “a hipocrisia geral que envolve as posições públicas dos donos da mídia sobre liberdade de expressão e liberdade de imprensa… As relações de trabalho nas redações brasileiras, é sabido, são hierárquicas e autoritárias. Jornalistas e editores são considerados, pelos patrões, como ocupando ‘cargos de confiança’ e devedores de lealdade incondicional”. Caso tentem manter a ética no seu trabalho jornalístico, eles são demitidos sumariamente.

Com a aproximação da eleição presidencial de outubro, o clima tende a se deteriorar ainda mais nas redações, comprovando a falsidade do discurso dos donos da mídia e das suas entidades – como Abert, Aner e ANJ – sobre a “ameaça autoritária” do governo Lula contra a liberdade de imprensa. “Episódios como este nos obrigam a perguntar, uma vez mais, para quem é a liberdade de expressão que a grande mídia defende?”, conclui o professor Venício A. de Lima.

http://www.conversaafiada.com.br/pig/2010/05/20/paulo-nogueira-batista-e-o-macartismo-pre-eleitoral/

Probus disse...

crise grega não deve contaminar o Brasil
Sex, 08 de Julho de 2011

Paulo Nogueira Batista Jr.:

A crise econômica que atinge fortemente a Grécia ainda não está solucionada, mas não deverá afetar o Brasil ou outros países emergentes. A opinião é do economista Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países da América Latina e do Caribe no Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele participou de seminário internacional sobre políticas monetárias e regulação de capitais, promovido pelo Banco Central (BC) e pelo G20, grupo que congrega as 20 maiores economias desenvolvidas e emergentes mundiais.

“O governo grego está em uma situação super difícil, mas teve algumas vitórias nos últimos dias. Aprovou medidas de ajuste que incluem cortes importantes de gastos, aumento de impostos e um programa de privatização muito ambicioso. Por enquanto, o problema não deve afetar o Brasil. Não há nenhum sinal [de contaminação] porque os primeiros países a serem afetados por um agravamento da situação da Grécia seriam os da periferia europeia, notadamente Portugal e Irlanda e, num segundo grupo, Espanha e Itália. E só se a crise viesse a afetar outros países fora da Europa é que o Brasil sentiria os efeitos, por enquanto não.”

O economista ressaltou que, apesar das conquistas políticas obtidas pelo governo grego nos últimos dias, a crise no país ainda está longe de ser superada. “A crise da Grécia não vai ser resolvida rapidamente porque o país acumulou muitos problemas, durante muitos anos. A política fiscal grega foi extraordinariamente irresponsável nos anos que antecederam a crise. Os números estavam sendo mascarados pelo governo anterior e as autoridades europeias e o FMI não se deram conta do grau de distorção das estatísticas. A Grécia também acumulou um problema de competitividade internacional muito sério, hoje está com preços e salários muito acima do que seria necessário para a economia ter competitividade internacional. O governo grego passou por algumas barreiras importantes. Mas o problema não está nem solucionado nem equacionado. A situação da Grécia continua periclitante.”

A informação é da Agência Brasil

Probus disse...

26 de maio de 2010

Sobre o “fuzilamento” de Paulo Nogueira Batista

“Silêncio, solidão”

Paulo Nogueira Batista, ao se despedir da Folha de S. Paulo

HOJE, ESTOU com ímpetos, leitor, de escrever um artigo altamente patético. Veja só o título que escolhi.

Na semana passada, lá estava eu, na trincheira como sempre, na minha vida espartana em Washington, lutando contra as forças do status quo no FMI. Refiro-me sobretudo aos europeus -não todos, há exceções honrosas, mas à grande maioria.

Se permitirmos, essa maioria europeia não só bloqueará as reformas do FMI e de outras instituições como ainda patrocinará reformas regressivas, verdadeiras contrarreformas.

É uma guerra de posições, como a do front ocidental na Primeira Guerra Mundial. Os Exércitos sangravam horrores para avançar alguns quilômetros. O mais belo livro a esse respeito foi escrito por um oficial alemão, Ernst Jünger, e carrega o título forte “Tempestades de Aço”.

Mas estou me perdendo do assunto. Aconteceu o seguinte: lá estava eu, na minha trincheira, sob bombardeio, quando veio o que se poderia descrever, com algum exagero (reconheço), como um “Dolchstoss im Rücken”, uma “punhalada nas costas” (já que falei em Primeira Guerra).

Telefona-me Raul Juste Lores, que não tive o prazer de conhecer, mas que vem a ser o novo editor do caderno Dinheiro, para informar, de chofre, que a minha coluna deixará de ser publicada pela Folha. Nada de “o gato subiu no telhado” etc. Foi uma execução sumária. Parece que vem aí uma nova turma de colunistas, feroz, antenadíssima com as novas tendências, pronta para escrever sobre temas de vanguarda como tecnologia, linguagem digital, entre outros.

Este é o meu último artigo na coluna. Ora, na minha coluna, os personagens não têm os nomes que têm por mera coincidência ou acaso. Se o novo editor do Dinheiro se chama Juste, isso indica certamente uma inapelável tendência ao equilíbrio e à justiça. Ele me disse com todas as letras (sem intenção de ferir): “A sua coluna é das mais longevas”.

Longeva! Senti-me imediatamente como uma múmia, pronta a ser encaminhada para o sarcófago mais próximo.

Fico agora reduzido ao silêncio nestas páginas. (Naturalmente, haverá quem considere que o silêncio veio tarde.) O meu isolamento, agravado pela residência no exterior, aumenta ainda mais. E, claro, as saudades do Brasil -a coluna era um meio de me manter em contato semanal com o país e o leitor brasileiro.

Agradeço à Folha pela liberdade que me deu para expressar meus pontos de vista durante cerca de 15 anos de colaboração regular. Também ao Jacques Constantino, ao Marcos Cézari e a outros que tanto me ajudaram a editar e corrigir os artigos, com grande paciência para as minhas revisões de última hora e para os artigos concluídos, às vezes, no apagar das luzes.

Não me esqueço, em especial, de um episódio. Nos anos 90, o Banco Central entrou com uma notificação judicial contra mim, alegando difamação e ofensas. Foi na época em que a instituição era presidida por certo Napoleão de hospício. A Folha colocou à minha disposição, sem que eu tivesse que gastar um tostão, um advogado especializado que me defendeu com muita competência. O Banco Central acabou desistindo do processo.

Por último, mas não menos importante, agradeço a atenção dos leitores que tantas vezes se manifestaram para apoiar, comentar ou discordar dos artigos. Aos que quiserem, posso informar, via e-mail, onde continuarei publicando artigos daqui para a frente.

Probus disse...

Não sei, mas eu, particularmente, prefiro ler Paulo Nogueira Batista e Delfim Netto que Paul Krugman.

Unknown disse...

Probus,
Sobre os elogios ao Paulo Nogueira Batista, concordo com você em gênero, número e grau.
Obrigada por me fazer conhecer (ou recordar), nos seus comentários acima, outros ótimos artigos dele.
Maria Tereza

Probus disse...

Oi Maria Tereza,

Mas, é até redundante eu elogiar o óbvio, é fácil demais para mim elogiar O PNBJ. É como uma frase de Delfim Netto: "O resto é creme chantilly para enfeitar a receita…"

E esta primeira entrevista é sensacional, é tapa na cara > 29/06/2011: Brasileiro no FMI diz que escolha de Lagarde foi 'insatisfatória'

Para os seus leitores, mais três e um sensacional vídeo:

14/06/2011: FMI precisa modernizar seus critérios de recrutamento

http://outroladodanoticia.com.br/inicial/16475--paulo-nogueira-batista-junior-fmi-precisa-modernizar-seus-criterios-de-recrutamento.html

09/06/2011: Eleição para líder do FMI é viciada

http://www.outroladodanoticia.com.br/inicial/16088-paulo-nogueira-batista-eleicao-para-lider-do-fmi-e-viciada.html

05/07/2011: Indicação de Christine Lagarde para o comando do FMI

http://outroladodanoticia.com.br/inicial/17309-paulo-nogueira-batista-junior-indicacao-de-christine-lagarde-para-o-comando-do-fmi.html

28/03/2010: Colômbia proíbe Paulo Nogueira de representar país no FMI

http://www.vermelho.org.br/sp/noticia.php?id_noticia=126695&id_secao=2