sábado, 2 de julho de 2011

A RICA EXPERIÊNCIA DA TV ‘AL JAZEERA’


Entrevista com a jornalista Bia Barbosa, no ‘blog Fazendo Média’. Transcrita no blog “de um sem-mídia”:

“Surpreende o fato de que um Estado árabe, monárquico, teocrático e ultraconservador é o responsável pela maior experiência mundial de TV voltada para o interesse público. Estamos falando da Al Jazeera, emissora estatal do Qatar, um pequeno e rico país do Oriente Médio.

E quem nos conta detalhes sobre esse projeto raro de jornalismo sério e independente é a jornalista Bia Barbosa, que passou um mês na redação de um dos canais da emissora. Atualmente, ela integra o “Coletivo Intervozes”, assessora o mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) e colabora com veículos da imprensa alternativa.

Para exemplificar o enfrentamento da Al Jazeera à lógica dominante nos meios de comunicação, Bia lembrou que todo o conteúdo da rede é licenciado em ‘creative commons’, que dispensa qualquer título de propriedade sobre a informação.

-De onde surgiu essa ideia de ter uma experiência na Al Jazeera e como você chegou até lá?

Eu sempre acompanhei a Al Jazeera, todos nós jornalistas da imprensa progressista e alternativa temos nela uma fonte de informação importante, e tive a felicidade de a minha família morar em Doha por um ano. O meu pai está trabalhando num projeto para o governo do Qatar. Quando eu decidi que ia para lá no final do ano passar férias, achei que era uma possibilidade interessante de tentar uma experiência na Al Jazeera. Decidi ficar lá um mês e meio e entrei em contato com eles solicitando a possibilidade de fazer um estágio.

Meu objetivo não era fazer trabalho remunerado e eles acharam interessante o meu currículo, e precisam sempre de gente lá. No dia 3 janeiro, eu comecei. Acabou sendo mais que um estágio, e fiquei um mês dentro da sede da Al Jazeera. Eles têm vários canais e eu fiquei no canal de notícias em inglês. São 65 escritórios em países diferentes, mas a sede é em Doha, onde fica a maior parte da estrutura dos canais. O canal inglês é como se fosse uma CNN, uma BBC, um canal de notícias 24 horas. A Al Jazeera já existia no país, mas virou televisão internacional durante a guerra do Iraque. O canal inglês foi lançado em 2006. Ele é voltado para o exterior, mas também passa na televisão aberta do Qatar em inglês. Até porque o Qatar é um país que tem 2/3 da sua população de estrangeiros.

-Eles estão presentes em mais de 60 países com correspondentes?

O ‘English Chanel’, como eles chamam, tem escritórios em 65 países e os dados deles apontam para jornalistas em 60 países em todos os continentes, inclusive na América do Sul e África. Eles têm um correspondente no Brasil, o Gabriel Elizondo, que fica aqui em São Paulo, mas viaja o Brasil, cobre muito o Congresso também. Eles têm alguns colaboradores ‘freelancers’, dependendo da demanda ou da própria disponibilidade do Gabriel. Já o canal árabe, por exemplo, não tem correspondente no Brasil. Nos mesmos moldes desse canal de notícias em inglês, eles têm um canal árabe 24 horas. Não me peçam para fazer avaliação desse canal porque eu não falo árabe (risos).

-O que você fez nesses 30 dias por lá em janeiro? Trabalhou como qualquer outra jornalista?

Trabalhei como jornalista, porque o ‘English Chanel’ da Al Jazeera tem dois grandes departamentos: o que a gente pode chamar de ‘hard news’ e o de programas. Naquele são notícias que vão entrando 24 horas com um apresentador de estúdio, com notícias que se repetem ao longo da programação. Essa parte é gerada por 4 países ao longo das 24h, de acordo com o fuso horário: 12 horas são geradas da sede de Doha, no Qatar, 4 horas de Kuala Lumpur (Malásia), 4h de Londres e 4h de Washington. Se eles quisessem, poderiam manter equipe 24h gerando isso de Doha, mas tem aí, também, questão de ter sedes em outros países e geração local desses centros de geração de informação.

O outro departamento é de programas de meia hora ao longo do dia. Então, é meia hora de um programa e meia hora de jornalismo ao vivo, bem semelhante à ‘Globo News’. Inclusive, o padrão de estúdio é muito parecido com esses grandes canais internacionais de jornalismo. Eu fiquei no departamento de programas, e senti que é onde a Al Jazeera dá o seu diferencial na cobertura jornalística: à exceção da cobertura dos países árabes, porque aí eles têm especialidade e muito mais equipe. Onde a Al Jazeera aprofunda os temas, é plural de forma mais explícita, faz um enfrentamento editorial nas pautas que ela acha que precisa ser feito, é nos programas jornalísticos.

Eu fiquei trabalhando para eles, basicamente, como auxiliar na montagem de um programa de economia sobre mercados emergentes. Eles queriam falar do Brasil, da China e da Índia. Não sei por que a Rússia não estava, não era uma coisa dos BRICS, e estavam começando a produzir um piloto desse programa que ainda não foi para o ar. Eu fiquei passando informações e contribuindo um pouco para eles montarem esse programa de economia.


-Você tem algum exemplo patente para demonstrar?

Na última semana em que eu estava, lá começou a ocupação da praça Tahrir e [a queda] do Mubarak. Eles faziam esses programas de meia hora indo fundo na questão do Egito, muito além do que você conseguia dar no noticiário 24 horas. Nesses programas, eles aprofundavam a história, as origens e consequências, e entrevistavam pessoas. Programas de debate, que é uma coisa que a gente só tem no Brasil pela ‘Globo News’, na TV por assinatura para quem pode pagar, são muito comuns lá. Na grade de programação deles, tem debate sobre literatura, sobre a conjuntura, uma série de documentários que eles fragmentam em meia hora, tem programas sobre a Ásia etc. Então, nesses programas, eles conseguem mostrar diferencial maior, não é que não tenha diferença na cobertura no ‘hard news’, claro que tem.

-Saindo um pouco dessa questão jornalística, indo um pouco para a política, a Al Jazeera é uma TV estatal do governo do Qatar?

Ela é estatal porque é totalmente financiada pelo governo do Qatar, mas o ‘ethos’ dela, se a gente pode falar assim, é público. Ela não tem mecanismos de participação popular, mas a programação não é de uma emissora estatal, é de emissora pública. Eu não consegui avaliar a cobertura do canal árabe, que é onde, talvez, a influência do governo se manifeste de forma mais explícita porque é o canal que é diretamente voltado para a população de lá, mas no canal inglês eu não senti, da cobertura que era feita e nem dos programas onde eu estava contribuindo, qualquer ingerência do Qatar. Não ouvi falar nem de bairros vizinhos ou de jornalistas, coisas do tipo. Não tem propaganda. Nesse mês que eu fiquei lá, somente vi uma matéria sobre o Qatar que falava de parceria do governo com os países árabes em um poço de petróleo descoberto no golfo pérsico.

A rede promove vários eventos públicos e debates sobre temas da conjuntura, e eu participei na última semana de um fórum de liberdade de expressão e jornalismo online, porque eles estavam discutindo os blogueiros do mundo árabe a partir da questão das redes sociais no Egito e na Tunísia; nos outros países, ainda não tinham estourado as revoluções. E eles levaram blogueiros de todos os países, pró e contra seus respectivos governos, e fizeram a transmissão ao vivo do evento no canal árabe por dois dias inteiros. E teve críticas ao governo do Qatar em relação a determinadas restrições da liberdade de imprensa, no país, em outros veículos, e os dois dias do evento foram transmitidos ao vivo sem nenhum tipo de corte.

A Al Jazeera compra um tipo de enfrentamento político com vários governos da região, com autoridade jornalística maior porque tem gente in loco e conhecimento maior para cobrir essas questões, como a CNN e BBC. Em vários países, as equipes dela já foram expulsas por estarem denunciando fatos e informações que desagradam politicamente os governos dos países árabes. A Al Jazeera é adorada pelo povo e muitas vezes detestada pelos governantes.

-Essa linha editorial de enfrentamento a outros governos árabes é uma coisa da redação ou uma orientação política pelas relações que o governo do Qatar tem com outros países na região?

O pouco tempo que eu fiquei lá e o contato que tive com a direção da empresa não me permite te responder isso com certeza. A minha avaliação pessoal é que não, eu acho que não é orientação do governo do Qatar, é jornalística. Inclusive, porque não é um tipo de jornalismo meio factóide, é algo que faz cobertura da realidade que está acontecendo. Então, se o país está em greve, se os sindicatos estão nas ruas, se a população está protestando contra alguma coisa, se está morrendo gente nos hospitais, tem fatos ali que precisam ser mostrados e eu sinto que a Al Jazeera não se nega a mostrar isso, independentemente de divergências políticas que ela vai ter com o governo desses países.

Se a gente for olhar, é claro que tem contradições no governo do Qatar, por isso que não posso dizer que não tem ingerência editorial. A Al Jazeera é uma emissora muito crítica, no seu jornalismo, ao governo dos Estados Unidos. Daí, inclusive, o espaço que ela ocupou internacionalmente, além de ter informações que grandes emissoras internacionais de notícias não têm. Mas se você for olhar, o governo do Qatar abriga uma base de soldados americanos no seu território, tem uma cidade no norte do Qatar que é base deles [EUA] no golfo, o que mostra que tem interesse de governo em manter algum tipo de aliança com o governo dos EUA. Mas, se a gente for olhar a cobertura da Al Jazeera, ela é quase como se fosse de um governo inimigo do governo dos Estados Unidos, porque ela é muito crítica.

A questão econômica e militar geralmente prevalece sobre a questão jornalística, ou seja, no caso da Venezuela, eles metem o pau, mas não param de vender petróleo para os EUA.

Mas isso também nos dá uma boa medida para a gente fazer uma avaliação de se tem uma ingerência. Isso atrai muito os jornalistas que vão trabalhar lá, e no ‘English Chanel’ a imensa maioria deles na sede de Doha já passou por outros veículos como CNN e BBC. Eu acho que atrai pela possibilidade de fazer outro tipo de jornalismo, com mais liberdade que eles sentiam nesses outros canais. Então, o fato de ser uma cadeia gigante, porque a Al Jazeera não é somente o jornalismo, o fato de ela ser totalmente financiada pelo governo do Qatar não impede, não sei se contraditoriamente, que esses jornalistas trabalhem com mais liberdade do que a que eles teriam dada pelo mercado.

-E qual a abrangência da Al Jazeera?

São 400 jornalistas, os números oficiais que eles dão são de 220 milhões de casas em mais de 100 países. A rede Al Jazeera tem 3 mil funcionários nesses 65 países, a maior parte desses escritórios estão no hemisfério sul. Eles têm opção de cobrir mais o sul, mas cobrem muito bem o norte, tanto que tem Washington e Londres gerando conteúdo. Fazem parte de uma rede que não atende somente o ‘English Chanel’ nem o canal árabe, eles têm 10 canais só de esporte em inglês e árabe. Um passa o campeonato espanhol de futebol, o outro o brasileiro, outro o inglês. Eu assisti jogo do Palmeiras lá. Eles fazem transmissão de jogo, é diferente de cobertura. Tinha, por exemplo, show de cantor árabe antes do jogo no palco e tudo com o ‘banner’ da Al Jazeera, distribuindo brinde da emissora para o povo. Então, se você pensar em termos de marketing de televisão, a Al Jazeera é muito mais poderosa do que a nossa Globo aqui, por exemplo.

-Tem muita gente do ocidente na produção da Al Jazeera, então o oriente acaba sendo visto pelo ponto de vista ocidental. Não rola uma disputa de linguagem?

O ‘English Chanel’ não se apresenta como um canal oriental, ele não afirma isso na sua linguagem. Eles se reivindicam como emissora internacional de cobertura. Eles falam que têm a maior ‘expertise’ para cobrir a diversidade do mundo; é por isso que eles têm muitos correspondentes na Ásia, África, e no mundo árabe como um todo. Mas eles põem os jornalistas locais. Quando eu falei de Washington, é porque eles têm americanos que trabalham na Al Jazeera, e botam eles para falar da posição dos Estados Unidos.

-Você teve contato com os jornalistas ou pessoas lá, a ponto de sentir como eles percebem a apresentação do Oriente pela mídia internacional?

Eu trabalhei diretamente com uma sul-africana e outra inglesa que tinha trabalhado na BBC, e muita gente de família árabe. Mesmo que as pessoas sejam de fora dos países [árabes], se você tem algum tipo de vínculo com o mundo árabe isso lhe favorece de alguma forma, até no processo de seleção para trabalhar lá. O que eu senti não é nenhuma palavra de diretor da Al Jazeera, nem nada disso, é que eles têm desconhecimento muito grande das outras emissoras para falar de outra realidade. E o que eles buscam fazer é, justamente, ouvir a população; é uma rede internacional, mas com um olhar local, feita a partir do ‘locos’ original.

-Então tem muitos estrangeiros na redação?

No canal árabe não, são todos árabes de vários países da região. Como eu não fiquei na redação árabe, eu não sei te falar. As pessoas do país eram a secretária, os funcionários. Tinha um cara de origem árabe que veio do Canadá, tinha gente da Palestina, do Iraque. Eles tinham mais de uma equipe que cobriu a guerra do Iraque, eu conheci um dos ‘câmeras man’ que virou blogueiro, esteve na batalha de Falluja, em 2003. A cidade ficou cercada e só tinham dois ‘câmeras man’ lá dentro; foi um dos massacres da guerra do Iraque.

-A Al Jazeera é só TV?

Não, tem o site com produção própria com várias matérias. Tem uma seção de análise também, eles têm uma equipe própria. Impresso não tem, e rádio eu não vi nada; mas eles falam de ‘broadcast’, radiodifusão, então, não sei te falar se eles têm rádio e a TV. Na internet, pode-se assistir ao vivo a programação. Eu perguntei por que não passava no Brasil, e eles falaram que é uma boa pergunta. Deu a entender que existe dificuldade em função da concentração das empresas que controlam a TV por assinatura no Brasil, mas ninguém me falou isso oficialmente; ninguém disse “a Net [EUA] não deixa a gente entrar”. Tem uma campanha no site deles para você assinar como cidadão americano e pedir a Al Jazeera nos Estados Unidos, porque ela não passa em algumas cidades. Na América Latina, só tem na Argentina.

-Você falou que o povo gosta muito da Al Jazeera, o povo tem voz na emissora?

Não tem mecanismos diretos de participação popular, mas conversando com os jornalistas sente-se uma coisa de quando eles foram em campo sentir uma receptividade muito grande. Uma jornalista brasileira esteve na Jordânia num Fórum de comunicação e todos os jornalistas que estavam lá falavam que o povo árabe gosta muito da Al Jazeera, porque ela fala a verdade sobre o que os governos falam e as respectivas emissoras estatais não deixam vir à tona. Ela cumpre esse tipo de enfrentamento; é uma coisa dos próprios jornalistas falarem isso.

Quando eu estava lá, a Al Jazeera divulgou uma série de documentos da negociação da autoridade Palestina com o governo de Israel, eles chamavam de ‘Palestina papers’, tipo um ‘wikileaks’, um vazamento de documentos que mostravam que a autoridade palestina estava negociando meios de entrega do jogo para o governo de Israel. E a Al Jazeera tem um posicionamento institucional em defesa da causa palestina, eles cobrem sistematicamente, mostram todos os massacres de Israel.

-Qual é a desse governo do Qatar? Que país é esse politicamente falando?

O emir que dirige o Qatar é filho do emir anterior; lá é uma monarquia, é como se fosse um rei, o país é um emirado, não é, por exemplo, uma república. É um estado islâmico que tem na sua constituição a religião e não tem questionamento da monarquia; já é fato que vai ter um herdeiro, tudo é a família real que decide. Não tem congresso, não tem representantes eleitos pelo povo, e o filho mais velho do emir vai ser o próximo emir. Tanto que, nos grandes eventos, como quando o Qatar ganhou a Copa, a cidade ficou enfeitada de fotos do emir com o filho dele carregando a taça.

O emir tem mais de 20 filhos com três esposas, cada um deles é ministro de alguma coisa. O chefe do meu pai, por exemplo, era um dos filhos do emir que era ministro da cultura. Para resolver qualquer coisa, tinha que ir no palácio fazer reunião com o príncipe. Por que o pai desse emir saiu antes de morrer? Porque começou a haver um enfrentamento mais duro aos Estados Unidos pelo Qatar nos anos 90, de questionar posturas e falar publicamente contra, e o emir anterior tinha problemas de corrupção de desvio de recursos para o exterior. Não era uma coisa só de manutenção da família real; então, juntou um pouco essas duas coisas e ‘meio que’ os americanos falaram “você sai do governo ou a gente não vai mais considerar o Qatar um país parceiro”. E o atual emir se aliou com os Estados Unidos para derrubá-lo em 1995. Então, ele chegou ao poder com apoio considerável dos EUA que, em função do recrudescimento da posição dos Estados Unidos no golfo pérsico, vai diminuindo. Porque, depois de 95, você teve guerra do Kwait, Iraque, a questão de Israel e Palestina se intensificou, então tem uma diminuição dessa parceria. Ainda mais agora, com esses conflitos todos.

Por outro lado, tem seus interesses também; que faz uma aliança [do Qatar] com a OTAN para tirar o Kahdafi, por exemplo. Então, se você me perguntar se é um governo progressista, não é, porque direita e esquerda não existe lá; eu vou lhe falar que é um governo mais progressista que a sociedade. Tem várias questões de cultura islâmica muito arraigada na sociedade que o governo tenta mudar e tem resistência muito grande; a sociedade é mais conservadora que o governo. O maior problema do Qatar na minha avaliação é a questão dos trabalhadores migrantes, pois, como eles não têm mão de obra e o país está crescendo, é o segundo maior exportador de gás do mundo, a construção civil bombando, os ‘qatares’ se recusam a fazer o trabalho braçal e chamam gente de fora. Não tem clandestino, não é igual ao mexicano entrando na fronteira dos Estados Unidos. Entra todo mundo com visto de trabalho, com moradia, com contrato de trabalho definido, só que rola uma exploração brutal desses trabalhadores. São pessoas de várias partes, mas a maioria de países árabes e o sudeste asiático.

-Mas por outro lado o país não tem miséria?

Não tem miséria, não tem ninguém morando na rua, sem trabalho ou passando fome. Inclusive, eles têm moradia, alimentação e transporte pagos pelas empresas, eles têm essas garantias. Só que tem uma coisa de trabalho quase escravo, porque se eles querem ir embora, por exemplo, tem empresa que retém o passaporte dos trabalhadores. O governo começou a consultar a população, abrir diálogos públicos sobre a flexibilização da lei de patrocínio da ida daquelas pessoas para a empresa no país; e 80% da população ‘qatari’ é contra mudar a lei. Porque, afinal, eles vão perder os seus escravos particulares.

-O que você, como militante pela democratização da comunicação, acha disso e o que podemos fazer aqui no Brasil?

O modelo é muito diferente, ela nasce como uma empresa estatal e o fato de você ter o governo do Qatar botando dinheiro nisso para levar para o mundo inteiro, inclusive com essa campanha de pedir para a Al Jazeera passar nos Estados Unidos, é diferente do nosso modelo. Por mais que a Telesur, por exemplo, tenha buscado a parceria de outros governos para fazer esse tipo de enfrentamento, ela não encontrou respostas. A gente aqui no Brasil está engatinhando em relação a isso, estamos lutando para conseguir ter uma televisão pública nacional de fato. Uma com participação popular e que reflita os anseios da população brasileira em termos do seu exercício do direito da comunicação. A Al Jazeera vai ser, sempre, uma inspiração para a gente; não para copiar um modelo, porque isso nunca vai acontecer aqui, de o estado brasileiro colocar recursos nisso, e nem acho que esse deveria ser o caminho, mas pelo seu jornalismo.

Eu acho que assistir o jornalismo que a Al Jazeera faz nessas 24 horas por dia é um tapa na cara, de quão distante de jornalismo independente e crítico a gente está. E acho que é para a gente assistir e ver como é possível fazer jornalismo diferente. Um jornalismo crítico e que provoque o telespectador a pensar; e isso inspira a gente a seguir lutando por transformações no Brasil.”

FONTE: entrevista com a jornalista Bia Barbosa, no ‘blog Fazendo Média’. Ela integra o “Coletivo Intervozes”, assessora o mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) e colabora com veículos da imprensa alternativa. Transcrita no “blog de um sem-mídia” (http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com/2011/06/midia-tv-al-jazeera.html) [imagens do Google adicionadas por este blog].

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